Gurdjieff

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quarta-feira, novembro 16, 2005

Whitman, o Filósofo da Religião

I celebrate myself, and sing myself,
And What I assume you shall assume,
For every atom belonging to me as good belongs to you.
I loafe and invite my soul,
I lean and loafe at my ease observing a spear of summer grass.

My tongue, every atom of my blood, form’d from this soil, this air,
Born here of parents born here from parents the same, and their parents the same,
I, now, thirthy-seven years old in perfect health begin,
Hoping to cease not till death.

Creeds and schools in abeyance,
Retiring back a while sufficed at what they are, but never forgotten,
I harbor for good or bad, I permit to speak at every hazard,
Nature without check with original energy
”(*)

Walt Whitman

Walt Whitman! Um único verso deste grande homem vale mais que toda a numerosa obra dos Sartres, Simones de Beauvoir, Kierkegaards, pós-modernistas franceses, escolásticos de Frankfurt e todo o séqüito de basbaques que fizeram a miséria do século XX. Whitman contém o germe da sabedoria em seu texto, é um panteísta, imbuído do Deus-Natureza, “pois cada átomo que pertence a mim, igualmente pertence a ti”.

Nos seus poemas desfilam homens, mulheres, crianças, flores, instrumentos de trabalho, soldados, armas, navios, objetos em geral, todas as coisas nas quais está imbuído o seu espírito. É imortal, a natureza externa sempre existirá e ele faz parte dela, feliz, garimpando beleza no que é aparentemente prosaico. No mundo utópico de Whitman o homem que ele singulariza retorna a um idílico estado anterior à queda, vive com os animais em paz e sorve o fio da vida sem que a morte o aborreça.

I think I could turn and live with animals, they are so placid and self contain’d,
I stand and look at them long and long
”.
"Eu penso que poderia mudar e viver com os animais, eles são tão plácidos e contidos,
Eu me levanto e os olho longa, longamente".

A inspiração é nitidamente religiosa. O poeta transborda de amor por tudo que o cerca. O estilo tem algo de bíblico, com repetições de frases e efeitos melódicos que lembra as admoestações dos visionários do velho testamento. "Again the long roll of drummers, again the attacking cannon, mortars, again to my listening ears the cannon responsive" ("Mais uma vez o longo rufar dos tambores, mais uma vez o ataque dos canhões dos morteiros, mais uma vez aos meus ouvidos atentos soa a resposta dos nossos canhões").
A poesia de Whitman é uma filosofia da religião. Ao lê-lo não consigo dissociá-lo do não-dualismo hindu em que o Deus cultuado pelo homem não é aquele bondoso velhinho lá no céu, mas está dentro de si próprio. È o Deus que como ensina Swami Vivekananda é inerente à natureza, não está apenas no firmamento, está também na terra e em todos nós. Whitman é o profeta deste mundo alojado em nossas vísceras, cuja descoberta – através de sua leitura, à beira da praia – aproximou-me um pouco mais do sentido da existência.
(*) "Celebro a mim mesmo, e canto a mim mesmo,
E o que eu pensar também vais pensar,
Pois cada átomo que pertence a mim igualmente pertence a ti;
Eu vadio e convido minha alma,
Me deito e vago tranqüilo observando um talo da relva de verão.
Minha língua, cada átomo do meu sangue, formado deste solo, deste ar,
Nascido aqui de pais nascidos aqui de pais o mesmo, e seus pais o mesmo,
Eu, agora com trinta e sete anos de idade em perfeito estado de saúde, começo,
Com a esperança de não párar até a morte.
Crenças e escolas ficam em suspenso,
Recolhendo-se por enquanto na suficiência de serem o que são, mas nunca esquecidas,
Aceito pensar para o bem ou para o mal, permito que se fale em qualquer ocasião,
A natureza sem entrave com sua energia original".

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