Gurdjieff

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Quem é Gurdjieff?

quinta-feira, novembro 17, 2005

Plano da Obra - I

No dia em que a filósofa e matemática Hipácia foi supliciada em Alexandria, com as carnes escanhoadas por cacos de vidros empunhados por fanáticos cristãos, o velho mundo pagão deu seu derradeiro suspiro. O politeísmo estava morto, Héracles, Zeus, Hera, Apolo, Ártemis eram sombras do passado que muitos séculos depois, no renascimento, viriam novamente a inspirar as artes e o pensamento. Os Deuses romanos e seus templos tinham sido devastados, atendendo à ânsia por ouro ("auri sacra fames") dos governantes. A enéada egípcia jazia em uma diáfana fumaça de superstição, embrenhando-se no misticismo dos cristãos coptas (graças a Deus terem existido, pois Champolion jamais decifraria os hieroglifos sem seu rito religioso). Toda a imensa riqueza cultural acumulada através dos tempos morrera com os homens e os livros daquelas civilizações.
Já nos estertores do império romano, o Bispo de Hipona (Cartago), Santo Agostinho, estigmatizava os poetas e Deuses do passado. Sem conseguir se libertar inteiramente de grandes homens como Platão, Aristóteles, Plotino e os moralistas romanos, os cristãos foram, no entanto, medíocres em preservar a sua essência. A realidade era a de S. Bento de Múrcia, que anatematizava os "demônios" (antigos ídolos) sob as igrejas e dos lunáticos que se despedaçavam em lutas intestinas em torno de bizarros artigos de fé. Algo de são seria descortinado com o advento do islã, mas também adstrito às grossas barreiras de pensamento impostas àquele monoteísmo.
Agora era Apolo esfolado por Marcias, não o contrário. A vingança da barbárie contra a civilização. Anos antes, com as conquistas de Alexandre, o Grande; os próprios gregos haviam fornecido ao futuro inimigo as armas que os aniquilariam. Fundaram uma nova civilização na Palestina, o jardim onde floresceu o monoteísmo egípcio. Deram a seus ignaros habitantes uma língua, que embora mais pobre que a falada e escrita possuía enorme potencial de difusão, o grego "Koiné", em que fora escrito o Novo Testamento. Presentearam aquele povo com a filosofia platônica e neo-platônica, que traria fôlego ao pensamento cristão. Ensinaram rudimentos de arte e domínio de técnicas da guerra àquele povo.
Dotaram-lhes os gregos, enfim, do "Logos" e da "Sophia". "Fos" (Luz), clama o evangelista. Os lumes da academia helênica davam foro privilegiado a um pensamento até então tão tosco e rude, o monoteísmo hebreu. Vinha à tona um conjunto mais harmonioso de idéias, o "Novo Testamento", lastreado em valores comuns à civilização greco-romana - e férteis em "modelos de vida" como o epicurismo e o estoicismo - como a piedade, a temperança, a justiça, a compaixão. O cultivo perpétuo da virtude e o princípio do "Ama o teu próximo como a ti mesmo", elevado no século XVIII ao imperativo categórico kantiano.

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