Gurdjieff

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quarta-feira, abril 26, 2006

A “Lei dos Três” e a Idéia da “Luta”

Duas leis regem o mundo e operam em qualquer representação do Cosmos: a Lei dos Três e a Lei dos Sete. Deixemos a segunda de lado neste instante e nos fixemos na primeira, a chamada Lei dos Três, também conhecida nos quatro cantos do mundo e ao longo da existência da vida orgânica no Planeta Terra como Trindade, princípio trino, ou seja o que for. A lei dos três enuncia que sempre há uma resultante do encontro entre os princípios ativo, passivo e neutralizante, ou o positivo, o negativo e o neutro (o Pai, o Filho e o Espírito Santo).
Dizendo de outra maneira, o a evolução dos mundos e das coisas não segue uma reta, não é linear.
É mesmo impossível de ser prevista, pois uma causa A não necessariamente – e muito, muito raramente ou nunca – conduz a uma conseqüência B, mas leva ao resultado C. Ou seja, a “operação lógica” não é A - B, entrando em cena uma “força desviante” que podemos chamar de F, que inverte em direção indefinida a seta conduzindo a um evento C completamente inesperado.

No eneagrama, o diagrama de nove pontas que entrelaça o infinito (o círculo ou a serpente que engole a própria cauda), pode-se dizer que a “oitava cósmica” nos intervalos si-dó ou mi-fá (os semi-tons do sistema tonal tradicional onde ocorrem “quebras” na regularidade dos sons) necessita de um “choque externo”, um “empurrão”, para que o princípio desviante não venha a se verificar e os eventos produzam os resultados almejados.

Esta “Lei dos Três”, correlacionada a uma força desviante de qualquer natureza pode explicar vários fenômenos da natureza e da vida humana, desde que envolvam aspectos trinitários. Melhor dizendo: a “Lei” reproduz em si um elemento de “luta”, de esforço e “batalha sem trégua” que tanto os fenômenos naturais quanto os homens devem travar para que haja sucesso em qualquer evento compreendido nos limites do Universo. É o instrumento que explica tanto a junção das partículas sub-atômicas no campo da atração nuclear forte ou fraca quanto uma simples relação de opostos como homem e mulher. Sobre este ponto discutiremos mais adiante.

terça-feira, abril 11, 2006

Os Sacrifícios Humanos e o Declínio da Civilização Incaica - II

É difícil separar nos relatos dos cronistas – muitas vezes espanhóis cristãos, nativos convertidos à nova fé ou mestiços como o famoso Inca Garcilazo de La Vega ou Guamán Poma Ayala[1] – o trigo do joio, ou seja, o que efetivamente compreende o “conjunto exotérico” de cerimônias religiosas deste grupo social daquilo que os preconceituosos conquistadores lhes atribuíam como “resquícios mágicos e demoníacos” com a intenção de afastar as futuras gerações de suas tradições e cultos milenares.
Em que pese esta dificuldade metodológica, não restam dúvidas concernentes à realidade dos sacrifícios de pessoas nos templos incas e sua introdução relativamente recente, em um período que viria, em poucos anos, a ser marcado por enorme desunião e guerra civil – prenúncio da crise terminal que viria a se abater sobre o império.

Las capacochas[2] o capac-huchas constituían cerimônias extraordinárias dedicadas al inca, celebradas solo em oportunidades solemnes (entronización Del soberano, nacimientos de príncipes, victorias guerreras, epidemias). De aquellas ceremonias majestuosas unas eran cíclicas y otras excepcionales. En el Cusco quien las restauró fue Pachacútec con oportunidad del Coricancha remodelado (...)”
Su celebración la difundian preventivamente por todos os ángulos y rincones del tahuantinsuyo. Los curacas principales, entonces, enviaban suas ofrendas a la capital del Estado (maiz, coca, mullu, ganado, idolillos de oro y plata, cuyes, ropa de cumbi y niños de ambos sexos y de 10 años de edad, en cantidades que dependían de las posibilidades de cada etnía. En lo que respecta los niños su número fluctuaba de uno a dos. En consecuencia, el monto de productos naturales y culturales y de niños era enorme se tenermos en cuenta que las nacionalidades dependientes del Cusco pasaban de 100. A dichas ofrendas las conducían a la metrópoli del incario sus respectivos curacas, sacerdotes y otros jefes locales, desplazándose en imponentes procesiones. Los niños iban acompañados de sus respectivas progenitoras.
En el Cuzco ya, se concentraban en la plaza mayor (Aucaypata), a donde anticipadamente habían sacado las efigies de las divinidades más importantes, alrededor de cuyas estatuas daban vueltas los peregrinos, observando figuras rituales y ayunos. El Inca se refregaba la totalidad de su cuerpo con esas criaturas para participar de sus sacralidades.
Pero el sacrificio propiamente dicho iba a ser la inmolación de los referidos niños y la quema o entierro de otros ofrendas. A las lhamas las mataban metiendoles la mano por un costado para extraerles el corazón y vaticinar según sus palpitaciones. Tales ceremonias las dirigían al Sol; Huiracocha Pachayachachis, al trueno, Luna, Cielo, Madre Tierra
[3] y a Huanacauri (huaca de los alcahuizas de Ayar Ucho que fue adoptado pelos incas). Cuando el sacrificio lo ofrecían directamente al dios Huiracocha le pedían para sapainca larga vida, salud, triunfo contra sus opositores, paz en el territorio, abundancia agropecuaria, aumento poblacional y, finalmente, ventura constante para el referido mandatario.
Acabada la oración, daban de comer y beber a un grupo de los niños hasta embriagarlos. Las respectivas madres estaban encargadas de suministrar tales alimentos a los más chiquitos. Ato seguido, poco a poco los ahogaban taconeándoles la garganta con coca en polvo, con la idea de que se arribaran sin hambre, ni sed, ni descontentos ante la presencia del dios citado. De inmediato, a esos agónicos infantes les abrían sus pechitos para arrancarles sus pequeños corazones, todavía estando vivos, de manera que pulsando y latiendo los ofrecían a sus dioses en medio de actos muy ritualizados. Con la sangre de los chicuelos sacrificados untaban el rostro de las efigies sagradas, de una oreja a la outra; si bien e otras imágenes las pintaban distintas partes de sus cuerpos. Pronto guardaban los cadáveres de los mencionados niños juntamente con las demás ofrendas en un lugar lhamado Chuquicancha, cerro no muy alto en la parte prominente de Saño (San Sebastián), a casi tres kilómetros al sur del Cusco, que componía la tercera huaca del sexto ceque del Antisuyo (Cayao)
”.
Enfim, “(...) Los niños así sacrificados se convertían en huacas (seres sacralizados) con poderes para proteger a sus ayllus y etnias a los que habían pertenecido en vida, prodigándoles la fecundidad de sus ganados y campos. A sus pequeñas momias les consultaban por haberse transformado en oráculos. Consecuentemente, tenían sus santuarios e sacerdotes que recibían y hacían ofrendas
En consecuencia, las capacochas funcionaban como una institución de control social. Buscaban fusionar las etnias al cusco, capital política del imperio, con la meta de dar vida al Estado y al sapainca. Había la intención de establecer con ellas relaciones armónicas entre el poder central y las etnias regionales, o en otros términos, entre los grandes curacas e el sapainca; con lo que a su turno quedaría asegurada la cohesión ideológica entre ambos sectores político-sociales. De ahí que las capacochas conformaban un formidable instrumento de control social, cultural y económico a nivel estatal. A través de ellas se ve también cómo la religión sostenía al Estado, por cuanto configuraba una de las mejores herramientas de dominación. Ponía énfasis en demostrar que los curacas poseían algunos poderes gracias a la generosidad de la sapainca. Un juego de reciprocidad entre el gran Rey e los pequeños reyes regionales (curacas). Las capacochas anhelaban la tranquilidad y felicidad total de los grupos de poder cusqueños: ilusión que, en realidad, no pudieron alcanzarla nunca”.
[1] O primeiro, graças à sua refinada cultura castelhana e profundo conhecimento das línguas nativas era o que se poderia considerar como um intérprete mais rigoroso de um passado do qual, em parte, herdou muito da tradição oral através de sua mãe, uma princesa inca. O segundo, quase um autodidata, retém para si o mérito de uma originalidade profundamente popular e uma riqueza pictóricaO em seus textos que nos permitem nos dias de hoje reproduzir com imensa riqueza de detalhes o colorido da vida inca em seus dias de glória.
[2] Seu suposto significado em “quétchua” é o “grande pecado”, alusão ao caráter expiatório dos ritos sacrificiais humanos.
[3] Mãe Terra ou Pacha Mama, já representado em Tiawanaco pelo celebro monólito Bennet.

sexta-feira, abril 07, 2006

Os Sacrifícios Humanos (Período Incaico e Pré-Incaico) e a Destruição do Tawantinsuyo, o Grande Império do Inca


Os sacrifícios humanos - e por vezes o canibalismo - foram situados na moderna antropologia como fenômenos comuns entre povos primitivos ou pequeno número de nações esparsas no mundo antigo, a exemplo dos fenícios - os supostos massacres de crianças em Cartago e povos do antigo Crescente Fértil (a lenda de Abraão que rememora milenares costumes cananeus ao receber o "chamado" de Javé para matar seu filho). Entre os gregos e romanos, elementos sub-reptícios de suas mitologias levam a crer que a ascensão do "homem moderno" da Paidéia é uma idéia fortemente enraizada na superação de práticas canibais de origem ancestral (o Apólo original era um Deus de sacrifícios e os mistérios de Elêusis com a simbologia da descida de Perséfone ao Hades o testemunham). A luta de Heracles contra os ciclopes, o sacrifício de Ifigênia por Agamênon e as inúmeras libações da Ilíada seguidas de rituais assassinos (como a mortandade que se segue à queda de Pátroclo, o amado de Aquiles) são ilustrações deste passado homicida.



(ESTÁTUA ERIGIDA AO INCA PACHACÚTEC, EM AGUAS CALIENTES, foto própria).

No período dos grandes descobrimentos a prática de imolar homens e mulheres era denunciada e estigmatizada como demoníaca entre pelos catequistas cristãos e portugueses, cujos primeiros comentaristas traçaram quadros assombrosos dos cortejos de homens e mulheres degolados nos templos mexicanos. A sucessão de descobrimentos na região ocupada pelo “Tawantinsuyu" (o território dos quatro suyos ou partes do Império)incaico na América andina, mais propriamente as culturas como a mochica, além de sugerirem o emprego persistente de "oferendas" humanas aos Deuses parecem derrubar por terra o antigo mito de que os incas não praticavam tais sacrifícios.

É digno de nota que culturas como a Chavín, Vicus, Salinar-Gallinazo e Paracas, extremamente antigas, não praticassem os sacrifícios humanos, segundo as pesquisas disponibilizadas por inúmeros arqueólogos. Entre os Mochicas, no Vale de Moche e nas regiões de Chicama, Virú e Chão, o assassínio religioso de homens e mulheres era comum, como provam recentes artigos na “National Geographic”. Porém, todos estes assassínios coincidiam com a decadência desta civilização milenar, que julgar pelas huacas (retratos) que nos restaram hoje em dia, havia mergulhado em uma pornografia e em um culto ao sexo sem precedentes.

Ainda sobre os poderosos mochicas, relatos orais que me transmitiram amigos peruanos nos dão conta do estado de podridão a que haviam chegado no limiar de sua existência como civilização. Suas "huacas" ou ídolos com significado religioso haviam se transformado em peças com ilustrações pornográficas, exibindo variado leque de posições sexuais e relações hetero e homossexuais. Isto coincide, justamente, com a multiplicação em escala gigantesca da mortandade de crianças.

Minha tese principal é a de que entre os povos pré-colombianos, à diferença do ocorrido entre gregos, romanos e as nações da civilização ocidental, a decadência de sua cultura e sociedade coincidiu com a adoção tardia – por motivos políticos e cálculo “maquiavélico” dos estadistas – de rotinas religiosas fundamentadas na matança de seres humanos. Entre os gregos, como disse anteriormente, estas práticas eram abominadas, assim como as odeiam várias sociedades antigas. Mesmo os índios brasileiros e algumas tribos africanas canibais têm postura distinta em relação à questão. Uma coisa é enxergar os tupinambás conhecidos por Hans Staden que devoravam a carne de seus inimigos pessoais para absorver seu poder. Outro fato bem diferente é degolar crianças inocentes para seu bel prazer, como o fez o Inca Pachacútec, soberano da dinastia que precedeu a conquista espanhola de um território dividido pela cobiça.

Salvo engano – todas estas informações históricas mudam com rapidez surpreendente – no império inca (que representou a “etapa madura” das civilizações andinas) esta prática (a dos sacrifícios humanos) foi inaugurada pelo grande guerreiro e construtor Pachucatec, em torno do século XVI de nossa Era. Segundo especialistas com Bernand:

"Pachacuti (ou Pachacútec) definiu ainda os ritos após o trespasse do inca. Os senhores, uma vez purificados da `sujeira´ da morte, deviam ser colocados em moradas reais a fim de que escolhessem entre suas mulheres aquelas que com eles iriam para o além. Estas, acompanhadas de criados, cujo número era proporcional à estirpe do defunto, eram, primeiro, mimadas e festejadas, e, depois, embriagadas: quando soçobravam na inconsciência eram enterradas vivas. Tudo indica que a partir do reinando de Pachacuti os sacrifícios humanos tomaram considerável amplitude. Relatam os cronistas que quando da morte de Huayana Capac, foram reunidas mil crianças, com idade aproximada de 5 anos, dos dois sexos e emparelhadas
`como se fossem casadas´. Cumularam-nas com presentes e honras, levaram-nas a passeio em liteiras através de todo o território e, enfim, as imolaram em cada lugar onde o inca havia se detido quando vivo. Resta saber se as vítimas aceitavam verdadeiramente com júbilo tal rito, como o afirmavam os nobres de Cuzco, interrogados pelos espanhóis. Parece, porém, que nos primeiros anos que se seguiram à conquista, algumas aproveitaram a presença de estrangeiros para fugir a semelhante destino, e que Pólo de Onegardo, o Corregedor, protegeu os desertores" (BERNAND, Carmen. História Viva - Edição Especial Temática no 10, 2006).

terça-feira, abril 04, 2006

Ser ou não Vegetariano


O Senhor Gurdijieff não possuía opinião formada sobre o vegetarianismo. Inclusive, preparava pratos deliciosos à maneira russa ou armênia, à base de muita protéina animal. Não me consta por outro lado que os vedas condenassem o consumo de carne a priori. A alguns temperamentos e "castas" a ingestão de carne animal talvez fosse indispensável. Eu, no entanto, influenciado por "Vegetarianismo e Ocultismo" de Charles Leadbeater e por ensinamentos especiosos do budismo tibetano me senti seduzido por algum tempo pelo vegetarianismo. Não me parece que a própria Helena Petrovna Blavatsky advogasse abertamente o não-consumo de carne (sua biografia denuncia uma voluptuosa onívora) e vários mestres não o faziam. Se Cristo multiplicou os peixes e Maomé comia suas ovelhas, então por que crer que há mal intrínseco nisto? Não faziam os judeus sacríficios e ingeriam diversos animais mesmo sendo o "povo eleito".
No mês passado, cruzando os Andes, descobri na tentação da carne da Lhama e na filosofia Tiawanaco, conhecimentos pré-colombianos e incas, que ninguém deixa de ser puro ao deitar carne de animas goela abaixo. Não há povo indígena que não coma animais e não existem povos mais puros e integrados com a verdade da natureza que eles. Estava em um restaurante em La Paz morrendo de fome e pensei: por que não comer esta carne de Lhama? Provei um prato e jamais senti um sabor tão forte. Este pequeno camelídeo, embora respeitado, não tem status de Deus entre os incas.
Os três animais que representam a famosa trilogia inca, o cóndor, o puma e a serpente, não são comestíveis. O que se devora não é sagrado, pois se considera inferior. Por isto, o contato com civilizações primitivas nos confirma o que diz o Sr. Gurdijieff em seu "Belzebub's Tales to his Grandson", isto é, que os animais são seres de dois cérebros ("two brained things") e não se equiparam a nós, homens, que mesmo sendo máquinas ambulantes possuímos a possibilidade formal de desenvolvermos nossos corpos mais sutis.