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sexta-feira, abril 07, 2006

Os Sacrifícios Humanos (Período Incaico e Pré-Incaico) e a Destruição do Tawantinsuyo, o Grande Império do Inca


Os sacrifícios humanos - e por vezes o canibalismo - foram situados na moderna antropologia como fenômenos comuns entre povos primitivos ou pequeno número de nações esparsas no mundo antigo, a exemplo dos fenícios - os supostos massacres de crianças em Cartago e povos do antigo Crescente Fértil (a lenda de Abraão que rememora milenares costumes cananeus ao receber o "chamado" de Javé para matar seu filho). Entre os gregos e romanos, elementos sub-reptícios de suas mitologias levam a crer que a ascensão do "homem moderno" da Paidéia é uma idéia fortemente enraizada na superação de práticas canibais de origem ancestral (o Apólo original era um Deus de sacrifícios e os mistérios de Elêusis com a simbologia da descida de Perséfone ao Hades o testemunham). A luta de Heracles contra os ciclopes, o sacrifício de Ifigênia por Agamênon e as inúmeras libações da Ilíada seguidas de rituais assassinos (como a mortandade que se segue à queda de Pátroclo, o amado de Aquiles) são ilustrações deste passado homicida.



(ESTÁTUA ERIGIDA AO INCA PACHACÚTEC, EM AGUAS CALIENTES, foto própria).

No período dos grandes descobrimentos a prática de imolar homens e mulheres era denunciada e estigmatizada como demoníaca entre pelos catequistas cristãos e portugueses, cujos primeiros comentaristas traçaram quadros assombrosos dos cortejos de homens e mulheres degolados nos templos mexicanos. A sucessão de descobrimentos na região ocupada pelo “Tawantinsuyu" (o território dos quatro suyos ou partes do Império)incaico na América andina, mais propriamente as culturas como a mochica, além de sugerirem o emprego persistente de "oferendas" humanas aos Deuses parecem derrubar por terra o antigo mito de que os incas não praticavam tais sacrifícios.

É digno de nota que culturas como a Chavín, Vicus, Salinar-Gallinazo e Paracas, extremamente antigas, não praticassem os sacrifícios humanos, segundo as pesquisas disponibilizadas por inúmeros arqueólogos. Entre os Mochicas, no Vale de Moche e nas regiões de Chicama, Virú e Chão, o assassínio religioso de homens e mulheres era comum, como provam recentes artigos na “National Geographic”. Porém, todos estes assassínios coincidiam com a decadência desta civilização milenar, que julgar pelas huacas (retratos) que nos restaram hoje em dia, havia mergulhado em uma pornografia e em um culto ao sexo sem precedentes.

Ainda sobre os poderosos mochicas, relatos orais que me transmitiram amigos peruanos nos dão conta do estado de podridão a que haviam chegado no limiar de sua existência como civilização. Suas "huacas" ou ídolos com significado religioso haviam se transformado em peças com ilustrações pornográficas, exibindo variado leque de posições sexuais e relações hetero e homossexuais. Isto coincide, justamente, com a multiplicação em escala gigantesca da mortandade de crianças.

Minha tese principal é a de que entre os povos pré-colombianos, à diferença do ocorrido entre gregos, romanos e as nações da civilização ocidental, a decadência de sua cultura e sociedade coincidiu com a adoção tardia – por motivos políticos e cálculo “maquiavélico” dos estadistas – de rotinas religiosas fundamentadas na matança de seres humanos. Entre os gregos, como disse anteriormente, estas práticas eram abominadas, assim como as odeiam várias sociedades antigas. Mesmo os índios brasileiros e algumas tribos africanas canibais têm postura distinta em relação à questão. Uma coisa é enxergar os tupinambás conhecidos por Hans Staden que devoravam a carne de seus inimigos pessoais para absorver seu poder. Outro fato bem diferente é degolar crianças inocentes para seu bel prazer, como o fez o Inca Pachacútec, soberano da dinastia que precedeu a conquista espanhola de um território dividido pela cobiça.

Salvo engano – todas estas informações históricas mudam com rapidez surpreendente – no império inca (que representou a “etapa madura” das civilizações andinas) esta prática (a dos sacrifícios humanos) foi inaugurada pelo grande guerreiro e construtor Pachucatec, em torno do século XVI de nossa Era. Segundo especialistas com Bernand:

"Pachacuti (ou Pachacútec) definiu ainda os ritos após o trespasse do inca. Os senhores, uma vez purificados da `sujeira´ da morte, deviam ser colocados em moradas reais a fim de que escolhessem entre suas mulheres aquelas que com eles iriam para o além. Estas, acompanhadas de criados, cujo número era proporcional à estirpe do defunto, eram, primeiro, mimadas e festejadas, e, depois, embriagadas: quando soçobravam na inconsciência eram enterradas vivas. Tudo indica que a partir do reinando de Pachacuti os sacrifícios humanos tomaram considerável amplitude. Relatam os cronistas que quando da morte de Huayana Capac, foram reunidas mil crianças, com idade aproximada de 5 anos, dos dois sexos e emparelhadas
`como se fossem casadas´. Cumularam-nas com presentes e honras, levaram-nas a passeio em liteiras através de todo o território e, enfim, as imolaram em cada lugar onde o inca havia se detido quando vivo. Resta saber se as vítimas aceitavam verdadeiramente com júbilo tal rito, como o afirmavam os nobres de Cuzco, interrogados pelos espanhóis. Parece, porém, que nos primeiros anos que se seguiram à conquista, algumas aproveitaram a presença de estrangeiros para fugir a semelhante destino, e que Pólo de Onegardo, o Corregedor, protegeu os desertores" (BERNAND, Carmen. História Viva - Edição Especial Temática no 10, 2006).

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