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segunda-feira, janeiro 21, 2013

JULIUS EVOLA - HOMENS ENTRE RUÍNAS - Reflexões do Pós-guerra de um Tradicionalista Radical


HOMENS ENTRE RUÍNAS - Reflexões do Pós-guerra de um Tradicionalista Radical
Julius Evola
Tradução: CB

Cap. 1. REVOLUÇÃO - CONTRAREVOLUÇÃO - TRADIÇÃO (Parte I)


Recentemente, várias forças têm tentado estabelecer uma defesa e resistência no domínio sociopolítico contra formas extremas sob as quais a desordem de nossa época se manifesta. É necessário admitir que se tratam de esforços inúteis, mesmo a título de propósitos meramente demonstrativos, a menos que as diversas raízes da doença sejam atacadas. Estas raízes, à medida que a dimensão histórica é concebida, devem ser reconhecidas na subversão introduzida na Europa em 1789 e 1848. A doença deve ser reconhecida em todas as suas formas e graus, assim, a principal tarefa será estabelecer se há ainda há homens dispostos a rejeitar todas as ideologias, movimentos políticos e partidos que, direta ou indiretamente, derivam dessas ideias revolucionárias (isto é, tudo o que vai do liberalismo e a democracia ao marxismo e comunismo). Como uma contrapartida positiva, a estes homens deveria ser dada orientação e fundamentos sólidos, consistindo de uma ampla visão da vida e uma doutrina robusta do Estado.

Estritamente falando, a palavra correta deveria ser “contrarrevolução”, contudo, as origens revolucionárias são agora remotas e quase esquecidas. A subversão há muito tomou raízes, a ponto de se tornar óbvio e natural na maioria das instituições existentes. Assim, para todos os propósitos práticos, a fórmula da “contrarrevolução” faria sentido somente se as pessoas fossem aptas a ver claramente os últimos estágios que a subversão mundial está tentando encobrir através do comunismo revolucionário. Por outro lado, outra palavra de ordem seria melhor, “reação”. Adotá-la e chamar alguém de “reacionário” é um teste de coragem. Há bastante tempo já, os movimentos de esquerda fizeram do termo “reação” sinônimo de todos os tipos de iniquidade e vergonha e uma oportunidade para estigmatizar todos aqueles que não fossem úteis à sua causa, ou não vão junto à corrente (que se segundo eles é o “fluxo da história”). Enquanto é muito natural para a Esquerda empregar esta tática, acho antinatural o senso de angústia a que o termo frequentemente induz as pessoas, o que devo à sua falta de coragem política, intelectual e mesmo física; esta falta de coragem que atinge até mesmo os representantes da assim chamada Direita ou “nacional-conservadores” que, tão logo sejam “reacionários”, desculpam-se e tentam mostrar que não merecem este título.
O que se espera que a Esquerda faça? Enquanto os ativistas da esquerda estão “agindo” e levando a cabo o processo da subversão mundial, é possível supor que um conservador se refreie de reagir e olhe, festeje-os e mesmo os ajude ao longo de seu caminho? Falando historicamente é deplorável que a “reação” tenha sido ausente, inadequada ou incompleta, carente de pessoas, meios e doutrinas adequadas, justamente no momento em que a doença estava em seu estado embrionário e suscetível de ser eliminada por cauterização imediata de seus pontos de infecção. Fosse este o caso, as nações europeias teriam sido poupadas de incontáveis calamidades. O que é necessário, antes e mais nada, é um novo 'front' radical, com limites claros entre amigos e inimigos. Se o “jogo” ainda não terminou, o futuro pertence àqueles que partilham de ideias híbridas e fragmentadas predominantes em grupos que nem mesmo pertencem à Esquerda, mas sobretudo aos que têm a coragem de esposar o radicalismo – sobretudo, o radicalismo das “negações absolutas” ou “afirmações majestáticas”, para usar expressões caras a Donoso Cortes. Naturalmente, o termo “reação” possui intrinsecamente uma conotação ligeiramente negativa: aqueles que reagem não têm a iniciativa da ação, apenas reagem de uma forma polêmica ou defensiva; quando confrontados com algo que já havia sido afirmado ou feito. Deste modo, é necessário especificar que a reação não consiste em deter os movimentos do oponente sem ter algo positivo para se lhe opor. Essa percepção errônea poderia ser eliminada associando-se a formula da “reação” com aquela da “revolução conservadora”, uma fórmula na qual um elemento dinâmico é evidente. Neste contexto, “revolução” não mais significa a derrota violenta de uma ordem legitimamente estabelecida, mas antes uma ação que visa eliminar uma nova desordem emergente; restabelecendo um estado de normalidade. Joseph de Maistre observa que o que se precisa é mais que uma “contrarevolução” em um sentido polêmico e estrito, é o “oposto à revolução”, em outras palavras uma ação positiva inspirada pelas origens. É curioso como os termos mudam: antes de tudo, “revolução”, de acordo com seu significado latino original (“revolvere”) referia-se a um momento que levava novamente ao ponto inicial. Portanto, a “força revolucionária” da renovação que deve ser empregada contra a situação existente deve derivar das origens.
Contudo, se alguém quiser abraçar a ideia do “conservadorismo” (isto é, da “revolução conservadora”), é necessário proceder com cautela. Considerando a interpretação imposta pela Esquerda, o termo “conservador” é tão intimidador quando o termo “reacionário”. Obviamente, é necessário em primeiro lugar estabelecer exatamente de maneira tão exata quanto possível o que deve ser “preservado”, hoje há muito pouco que o mereça, especialmente na medida em que as estruturas sociais e instituições políticas são consideradas. No caso da Itália, isto é verdadeiro sem exceção, em menor grau é válido para a Inglaterra e França, e menos ainda para as nações da Europa Central, nas quais os vestígios das tradições superiores continuam a existir mesmo no plano da vida cotidiana. De fato, a fórmula “revolução conservadora” foi escolhida por intelectuais germânicos imediatamente após a I Guerra Mundial, mesmo com as recentes referências históricas. Na medida em que tudo o mais é considerado, temos de levar em conta a realidade da situação que é um alvo fácil para as polêmicas da esquerda, para as quais os conservadores não são campeões de ideias mas defensores de uma classe particular (os capitalistas), os quais se organizam politicamente a fim de ser perpetuar, para seu proveito próprio, o que alegadamente é um regime meramente de privilégios e injustiças sociais. Assim se tornou muito fácil colocar juntos conservadores, “reacionários”, capitalistas e burgueses, criando um alvo falso, para ser usar um termo militar usado nos destacamentos de artilharia. Como se não bastasse, a mesma tática foi empregada no tempo em que era representada pelo liberalismo e pelo constitucionalismo. A eficácia desta tática era devida ao fato de que os conservadores de ontem (não como os contemporâneos, pois os antigos eram de um calibre inegavelmente maior) limitam-se a defender suas posições sócio-políticas e os interesses materiais de uma dada classe ou uma dada casta, em lugar de se dedicarem a uma defesa franca de um direito mais elevado, dignidade e a um legado impessoal de valores, ideias e princípios. Isto de fato é sua fraqueza fundamental e mais deplorável.

Hoje nós afundamos em um nível ainda mais baixo, portanto a “ideia conservadora” a ser defendida não deve apenas ter conexão com a classe que substituiu a aristocracia derrubada e unicamente tem o caráter de uma mera classe econômica (isto é, a “burguesia capitalista”) – mas também deve ser resolutamente oposta a isso. O que necessita ser “preservado” e defendido de uma maneira revolucionária é a visão geral de vida e do Estado que baseada em valores superiores e interesses, transcendendo definitivamente o plano econômico, de modo que tudo possa ser definido em termos de classes econômicas. Com relação a estes valores, o que se refere a orientações concretas, instituições positivas e situações históricas é somente uma conseqüência, não é o elemento primário mas o secundário. Se as coisas foram colocadas desta maneira, recusando-se a colocar os pés no campo onde a esquerda treina sua mira em um “alvo falso”, esta polêmica poderia se tornar totalmente inefetiva.

Outrossim, o que é preciso não é artificial e coercitivamente perpetuar formas particulares atadas ao passado que tenham exaurido suas possibilidades vitais estando distantes do tempo atual. Para o conservador revolucionário autêntico, o que realmente conta não é ser fiel às formas do passado e instituições, mas sobretudo aos princípios pelos quais estas fórmulas e instituições foram expressões foram particulares adequadas para cada período específico de tempo em uma área geográfica específica. E assim como estas expressões particulares devem ser vistas como variáveis e efêmeras em si mesmas; uma vez que são conectadas a circunstâncias históricas que não se repetem com freqüência, os princípios que os animam têm um valor que não é afetado por tais contingências, pois gozam de atualidade perene. Novas formas, correspondendo na essência a estas mais velhas, são capazes de emergir delas como de uma semente, assim, mesmo que eventualmente substituam estas velhas formas (em uma “maneira revolucionária”) o que permanece é uma certa continuidade entre os fatores históricos, sociais, econômicos e culturais cambiantes.

Julius Evola - Homens entre Ruínas



Julius Evola


Filho de um representante da pequena nobreza rural, o poeta, escritor, filósofo, pintor e tradicionalista italiano, Barão Julius Cesare Andrea Evola (Roma, 19 de maio de 1989 - 11 de junho de 1947) ofertou ao mundo uma obra vasta como o oceano, produto de uma mente clareada pelo estudo dos maiores clássicos do Oriente e do Ocidente, balizado por sólido anteparo histórico e um compromisso inequívoco com a verdade e a beleza da vida. Ao longo de sua trajetória neste mundo foi visto com maus olhos pela "direita" italiana (fascistas, apoiadores de ocasião e falastrões de meia tigela que farfalham nestes meios), pelos teóricos nazistas (cuja teoria da "superioridade racial ariana" refutou, substituindo-a pela "tradição") e, naturalmente, converteu-se em alvo dos esquadrões de vigilantes ideológicos comunistas e socialistas por cujas vistas sequer passou uma página de sua opulenta produção.

Apresento-lhes na postagem seguinte um curto trecho de "Homens entre as Ruínas", obra de maturidade do grande intelectual italiano que me encontro traduzindo e, com a graça do Senhor, espero disponibilizar gratuitamente aos leitores em breve, como já o fiz com relação a outros autores. Ela acomoda com bastante cuidado termos que são "ideologizados" e que perderam seu significado prístino após uma longa série de adulterações das matilhas que desde o Iluminismo, as Trevas travestidas de verdadeira Luz Divina; abalroam conceitos e lhes enxertam sentidos os mais espúrios que se possa imaginar, a exemplo da própria palavra "revolução" que aos ouvidos da contemporaneidade soa qual tal os macabros e satânicos objetivos de um desprezível Robespierre lhe emprestara.



Não há Tolerância com os Sistemas do Erro mas Caridade com seus Expoentes - Michele Sciacca

SCIACCA, Michele Federico. Filosofia e antifilosofia. São Paulo. É Realizações Editora, 2011.

Pelo caminho da tolerância, portanto, não é possível a conciliação dos sistemas filosóficos, e é contraditório que o sistema da verdade faça concessão ao sistema do erro, o qual, todavia, pode também se adaptar para conviver com a verdade, porque não teme a contradição e lhe convém fingir-se de tolerante, uma vez que não tem nada a perder e tudo a ganhar. Daí segue que a intolerância da verdade para com o erro é também imposta filosoficamente pela insuperável oposição entre o não passível de contradição e o controvertível; entre as duas só pode haver o contraditório, quer dizer, guerra aberta, ainda que com todas as boas regras, do ponto firme da verdade que sabe que não pode se conciliar com o erro sem renegar a si mesmo - cedendo assim à contradição - e sem causar dano a quem erra, que seria confirmado no erro por debilidade ou má vontade nossa, e não da verdade.

Se sou capaz de tolerar, e essa tolerância representa carregar um peso com sofrimento e paciência, a verdade não pode carregar pacientemente o peso do erro, que lhe é absolutamente insuportável; mas tolerar sifgnifica também "alimentar" e "sustentar", e disso resultaria que uma verdade tolerante deveria nutrir e sustentar o erro! Isso confirma como a tolerância pode ser exercitada apenas a respeito de pessoas e opiniões; quem erra, sim, deve ser "tolerado" com toda plenitude de significado desse termo, o qual, por si mesmo, é ainda insuficiente; com efeito, quem erra não deve apenas ser carregado sobre nossos ombros com sofrimeno e paciência, alimentado e sustentado, respeitado em sua liberdade de assentimento, mas deve também ser amado; antes, quanto mais ele nega a verdade, tanto mais é inimigo e se faz distante de nós, e, no entanto, mais devemos amá-lo, porque justamente assim ele necessita de nossa compreensão e de todo o amor. Mas isso já é caridade, bem outra coisa da diplomática e "aparentemente bela" - quanta species! - tolerância, sobretudo no significado de pouca tensão e preço vil com que a palavra é comumente usada.


SCIACCA, Michele Federico. FIlosofia e antifilosofia. São Paulo. É Realiações Editora, 2011.