Gurdjieff

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Quem é Gurdjieff?

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Cap.1.REVOLUÇÃO CONTRARREVOLUÇÃO TRADIÇÃO (Parte II-Final)


Continuação (Cap.1. "Os Homens entre Ruínas. Julius Evola)


A fim de assegurar esta continuidade enquanto se aferra rapidamente aos princípios subjacentes, é necessário eventualmente jogar fora tudo o que necessite ser descartado, ao invés de enrijecer-se, entrar em pânico ou confusamente procurar novas ideias quando a crise ocorre e os tempos mudam: isso é de fato é essência do espírito conservador. Por esta razão, o espírito conservador e o tradicional são a mesma e única coisa. De acordo com o seu verdadeiro e vital sentido, a Tradição não é nem conformidade servil ao que foi, nem uma lenta perpetuação do passado no presente. A tradição, em sua essência, é algo simultaneamente meta-histórico e dinâmico, é uma força ordenadora global, a serviço de princípios consagrados por uma legitimidade superior (podemos chamá-los mesmo de “princípios de cima”). Esta força age através das gerações, em continuidade com o espírito e inspiração através das instituições, lei e ordens sociais que podem até mesmo exibir uma marcante variedade e diversidade. Um engano análogo que já condenei consiste na identificação ou confusão de várias formulações de um passado mais ou menos com a tradição em si. 
Metodologicamente, na busca por pontos de referência, uma dada forma histórica deve ser considerada exclusivamente como a exemplificação e uma aplicação mais ou menos fiel de certos princípios. Este é um procedimento perfeitamente legítimo, comparável ao que nas matemáticas denominamos a transformação de a diferencial em uma integral. Neste caso não há anacronismo ou regressão; nada se tornou um ídolo, ou  se converteu em absoluto, aquilo não era ainda isso, desde que esta é a natureza dos princípios.

De outro modo, seria como acusar de anacronismo aqueles que defendem certas virtudes peculiares da alma meramente porque as últimas foram inspiradas por certas pessoas no passado, nas quais estas virtudes eram exibidas em elevado grau. Como o próprio Hegel disse: “Trata-se de reconhecer no surgimento das coisas temporais e transitórias, tanto a substância, que é imanente, quanto o eterno, que é atual”.

Com isto em mente, podemos ver as premissas derradeiras de duas atitudes opostas. O axioma do conservador revolucionário ou mentalidade do reacionário revolucionário é o de que os valores supremos e princípios fundacionais de qualquer instituição normal e segura não são passíveis de mudanças e para que se tenha algo que se adéque a estes valores, por exemplo, o verdadeiro Estado, o imperium, a auctoritas (autoridade), hierarquia, justiça, classes funcionais e a primazia do elemento político sobre os elementos social e econômico. No domínio destes valores não há “história’ e pensar sobre eles em termos históricos é absurdo. Tais valores e princípios têm tido caráter essencialmente normativo. Na ordem pública e política eles têm a mesma dignidade como na vida privada, e é típico de valores e princípios de absoluta moralidade, pois são princípios imperativos requerendo um reconhecimento direto, intrínseco (é a capacidade de tal reconhecimento que difere existencialmente uma certa categoria de seres de outras. Estes princípios não são comprometidos pelo fato de que em várias instâncias um individuo, a exceção da fraqueza ou devido a outras razões, foi incapaz de compreendê-los ou mesmo implementá-los parcialmente em um ponto em sua vida e não em outro, à medida que tal indivíduo não os abandona no seu interior, ele as compreenderá mesmo em uma situação abjeta ou de desespero. As ideias às quais me refiro têm a mesma natureza. Vico as chamou “as leis naturais de uma república eterna que varia no tempo e em lugares diferentes”. Mesmo onde esses princípios são objetivados em uma realidade histórica; eles não são totalmente condicionados por ele; mas sempre apontam para um plano metafísico mais elevado.