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terça-feira, agosto 01, 2006

Regras e o "Dharma" - II


No mundo ocidental nunca houve algo que se equiparasse totalmente ao “dharma” hindu. Talvez a “Paidéia”, o ideal helênico de vida que realçava a importância da educação e a prática da virtude ou a profunda ética latente no mundo romano que repousava nas virtudes preconizadas pelo estoicismo e o epicurismo, religiões da natureza externa e interna. Mas ainda que mesmo a Roma dos césares e a Grécia heróica pudessem ter suas castas e sub-castas e como rebentos também de uma ancestralidade no todo hindo-européia pudessem exibir suas regras de conduta, estas jamais chegaram ao grau de detalhamento de um “Código de Manu” e impregnaram com tamanho vigor a produção religiosa e a cultura destes povos.

Toda a mitologia grega, sua vasta produção literária e teatral, o testemunho de seus grandes historiadores, sua filosofia desde os tempos os áureos, tudo o que nos restou daquela magnífica civilização atesta a elevada estatura emprestada aos princípios éticos e às regras de conduta naqueles tempos. São a hospitalidade e caridade – deveres imorredouros entre os antigos gregos - que emprestam às velhas lendas do Olimpo suas cores mais vivazes, Os deuses gostavam de se disfarças de velhos e testar a receptividade e amabilidade dos humanos para com eles, seu “dharma”, se é que assim se pode dizer.
Acalentando a virtude no cotidiano, o romano dos primeiros dias da “cidade sagrada” moldava sua vida em conformidade com os mais elevados e puros princípios éticos. A honra e a lealdade eram virtudes máximas. A fortaleza de alma, a temperança e a caridade corporificavam a “tríade” moral inscrita no coração do verdadeiro cidadão, ulteriormente apropriada pelo próprio catecismo católico.
Para o autêntico habitante de Roma ou o homem afinado com seu tempo, bastava um prato com alimentação frugal, ou pouco de água, pão e vinho para saciar sua sede e fome. Móveis rústicos, uma cama simples, hábitos viris como o exercício físico e a prática do jogo de bola eram suficientes para preservar-lhe a disposição guerreira. Muito da resignação romana face à morte e o apego à ética em vida resta em antigas lápides funerárias.
Homo es: resiste et tumulum contempla meum.iuenis tetendi ut haberem quod uterer.iniuriam feci nulli, officia feci pluribus.bene vive, propera, hoc est veniundum tibi”.

Este padrão comportamental também era um “dharma”, no sentido que se lhe dá de conjunto de “regras de conduta”. Ao longo dos séculos a prevalência desta ética – fortemente ligada ao período glorioso da civilização romana – foi a principal responsável pela conservação das instituições e dos princípios que governavam aquela gente. Apenas com o cristianismo e seu simulacro da doutrina fundada pelo Senhor Cristo sobreviria a degradação daqueles ânimos e o desgaste de tamanha têmpera, capaz de resistir atrevidamente ás arremetidas dos bárbaros e ao cadinho contaminado pelas superstições orientais.
Se Roma foi grande enquanto perdurou seu código de obrigações mútuas e valores morais, na a “Magna Grécia” não foram muito diferentes os acontecimentos. Séculos se passaram de esplendor até que em meados dos anos III. D.C. a outrora grandiosa civilização helênica sucumbia ante a voracidade dos primitivos seguidores de qualquer coisa, exceto a pregação do Cristo.
Essa gente lançou por terra os Deuses do Panteão Olímpico sem trocá-los por nada consistente ou honrado, e o que pouco que restara da venerável virtude grega nos trouxeram os monges copistas ao reproduzirem algumas relíquias do passado. Nada de bom, honrado ou que incutisse a mínima noção de “regras de comportamento” ou ética permaneceu erguido na Bizâncio Cristã, onde os imperadores eram friamente assassinados e as intrigas palacianas não poupavam sequer os laços de sangue entre filhos e pais.

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