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quinta-feira, dezembro 01, 2005

Teoria em Estado Prático - Louis Althusser


Suspenda-se a interminável discussão esotérica. Um conceito que anda esquecido e que Louis Althusser (o hoje menosprezado "philosophe français") lavrou em "Sur la Théorie", a "teoria em estado prático". O que é isso? Que diabo pode ser esta tal "teoria em estado" prático? Não seria contraditório falar em "teoria em estado prático"? Mas Althusser, que amava o taoísmo do Ying-Yang de Mao-Tsé-Tung (que detestava tomar banho e tinha os dentes podres, como Stálin), mascarado de contradições "dialéticas" (quem não se lembra das contradições "principais e secundárias" que amparavam as táticas das "esquerdas festivas" do mundo?), não se preocupava em levar o raciocínio a paroxismos. Alguns deles, como esta estranha e pouco convencional noção da "teoria prática" têm até algum sentido. Vamos lá.

Althusser, ao raiar da vida (após ter assassinado sua mulher em um surto até hoje não explicado), de ídolo inquestionável da "gauche" francesa (aquela mesma que adora os "cafés", ama bons queijos e bons vinhos, vagabundeia na Universidade de Paris e recebe um "salaire minimum d'insertion", pago pelo contribuinte francês e que aumenta o déficit público e diminuiu a produtividade do país, esta mesma esquerda que tem sua congênere no Brasil, a famosa "festiva" do impagável Nelson Rodrigues), este requintado autor de "Pour Marx" ("best seller" da "gauche" mundial pós-Sartre, o chatíssimo), foi convertido no demônio goethiano.

Atribuíram a Althusser todos os epítetos que seriam capazes de jogar na lama os brios de qualquer esquerdista, em tempos em que ser "verdadeiramente de esquerda" era um troféu a ser exibido nos botequins da vida e qualquer desvio com relação à "santíssima trindade do Marxismo" (Marx-Engels-Lênin) era um crime de lesa-pátria (a pátria mundial dos operários, que sequer existiam...), disseram que o velho não era marxista. Não era marxista? Ora bolas, tinha sido assim por décadas. Mas na minha opinião foi ele próprio que desencadeou o questionamento sobre sua obra ao confessar - volto a dizer, já com o pé na tumba - que de "O Capital" (esta tediosa e longa obra de Marx) só havia lido um livro, repito, um livro, do primeiro volume do tomo 1 (são quatro tomos, fora os acréscimos "post-mortem").

Joguei no lixo os livros de Althusser quando rompi com o marxismo há 11 anos. Mesmo sem consultá-los (aconteceu o mesmo com Avicena, porém em outras circunstâncias pois sua casa foi incendiada pelos turcos...), tenho frescas na memória o "seu corte epistemológico" (a separação radical entre o jovem e o velho Marx, no que julgo estava certo) e o seu método "estruturalista" (uma abordagem que conquistava os corações dos estudantes franceses). Althusser enganou a todos por bastante tempo mas, sem dúvida, era original em alguns pontos de vista.

Bem, a sua explicação de uma "história sem sujeito" era um recurso capenga, assim como algumas outras proposições (principalmente as políticas), mas a sua "teoria em estado prático" era "sui generis". Se bem me lembro, não se podia considerar como teorias apenas raciocínios em alto nível de abstração, mas também os atos e ações de grandes personalidades (políticos, homens de Estado, revolucionários como Lênin e Stálin). Mesmo que não houvessem escrito livros "teóricos", sua própria ação podia ser teorizada, ou seja, a prática virava teoria.

Analisando o conceito de "teoria em estado prático", só agora, na minha maturidade, consigo apreendê-lo na plenitude. Por teoria em estado prático entende-se o seguinte: Stálin escreveu que era preciso unir os povos da URSS, mas como sua ação direcionou-se para sua atuação, a teoria "prática" ensina que exterminar é uma boa coisa. Lênin falou de democracia, porém por razões "maquiavélicas" implementou uma ditadura. Logo, a "teoria leninista em estado prático" ensina-nos que um passo necessário para conquistar a liberdade final dos homens no comunismo é implantar uma ditadura (com ou sem proletariado).

A tal "teoria em estado prático" serve para a gente explicar, aqui no Brasil, por que o Zé Dirceu é tão cínico e o Lula tão ignorante. Tudo isto, ensina-nos Althusser, pode ser condensado em uma estratégia de "realpolitk" - explicada em termos "prático-teóricos" - em que os fins justificam os meios. Não se pode comparar um homem que rouba para financiar uma causa (o José Dirceu) com quem rouba para poder tomar água mineral francesa na prisão (Maluf). Eu, pelo sim pelo não, prefiro o Maluf que, ao menos, apropria-se dos impostos pagos pelos cidadãos mas não quer criar nenhuma sociedade exclusivista, anti-democrática e assassina como os Senhores Lula e Dirceu.


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