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domingo, abril 18, 2010

Os Santos na Religião Universal

Os Santos na Religião Universal - Universalidade, Fenômenos e Possibilidades

Em todas a principais religiões exteriores do mundo se adoram indivíduos “santos” ou "santificados" (a diferença não é trivial porque alguém "santificado" não necessariamente é "santo" e um "santo" não é santificado mas santifica-se), seja no cristianismo, no islamismo, no judaísmo ou nas tradições orientais que não orbitam o paradigma “abrahâmico” (o hinduísmo, o budismo o zoroastrismo, o janaísmo etc) além de outras denominações . Um Santo ou Santa é sinônimo de pureza, perfeição, retidão, justiça. Um Ser que alcançou a perfeição ou iluminação.

São José de Cupertino
Há tempos atrás se acusava a Igreja Romana de haver moldado seu próprio politeísmo não só ao atribuir a triplicidade ao Divino mediante a aceitação do dogma da “Santíssima Trindade” - que caracterizava todas as religiões pagãs que a antecederam - mas também por introduzir em seu culto uma miríade de santos com estatura quase divina e que não raro ultrapassavam em muito sua condição de intermediários junto ao Todo-Poderoso Criador do Universo. Entre estes santos figuravam tanto exemplos comoventes de desprendimento e amor ao próximo como um Francisco de Assis, quanto potentados civis e religiosos que pelos mais torpes motivos políticos ou à força do uso do vil metal eram canonizados por Roma.

Na Índia, pelo contrário, o Santo ganha corpo na figura humilde e despida de vaidades do “sadhu”, alguém que, a grosso modo, se esforça por despertar algo mais sutil em si mesmo através das inúmeras práticas espirituais que o povo da Índia recebeu como galardão. O festival “Kumbh Mela” de 2010,apresentado na fotogafia abaixo, mostra uma multidão desses Santos em uma das quatro cidades em que se realiza o encontro, sempre no período em que ocorre um determinado alinhamento dos astros. Não que apenas a Ìndia resguarde este imenso tesouro espiritual, mas no mundo ocidental o obscurantismo das religiões estabelecidas, no passado, casado com a vigilância autoritária da atual "sociedade da ciência" impedem que as pessoas acatem com naturalidade seus dons e ouçam o chamado da divindade.

No “Glossário Teosófico” de Helena Petrovna Blavatstky o termo sânscrito “Sâdhu” é descrito como possuindo o seguinte significado: “Bom, puro, justo, reto, virtuoso; agradável, belo, excelente. Como substantivo: um muni, um santo. [Santos, ascetas e também faquires que pratica o Yoga tântrico, isto é, magia]”. Na Índia a santidade é um fenômeno comum e onipresente. Como indicam relatos de diferentes pesquisadores espirituais ou, casualmente, visitantes bem pouco interessados em perscrutar os segredos da vida interna indiana, estes homens e mulheres são capazes de produzir em seus próprios corpos ou no mundo externo - compreendendo os outros homens e objetos materiais - maravilhas em que dificilmente se pode crer.

Sadhus no Festival Kumbh Mela 2010


Estes dons aparentemente miraculosos são o que antigos tratados como os “Yoga Sutras” do sábio Patânjali denominam tecnicamente“sidhis” ou “perfeições”. estas faculdades se manifestam como conseqüência inevitável da prática da Yoga e do mergulho em níveis cada vez mais profundos da matéria mental. Não é bom que sejam voluntariamente perseguidas mas inevitavelmente vêem à tona, sendo que o iogue realmente alcança a maestria ao comprovar que está apto a resistir às tentações oferecidas por eles. No Ocidente Santa Tereza D’Àvila - muitos outros santos - era sujeita à levitação com inoportuna freqüência. Suas experiências místicas eram tão complexas que dizia “se entende, não entende como entende”. Assim como no Oriente, casos como a da levitação, da bi-locação (estar em dois lugares ao mesmo tempo) ou mesmo da invisibilidade são citados a “torto e direito”.

Estes são exatamente os mesmos fenômenos que marcaram as vidas do Cristo físico na Galiléia e pontuaram a passagem de Apolônio de Tyana pela terra. Incluem-se entre estes poderes a capacidade de entender sons emitidos por qualquer ser vivo, o conhecimento da mente dos outros, a invisibilidade do corpo, o conhecimento exato da hora do morte e o dom de pressagiar o futuro, o aumento da força física, o conhecimento do sistema solar, a imobilidade, a cessação da fome e da sede, a levitação e muitos outros. Aqueles sobre os quais se derrama o espírito santo ou se enroscam línguas de fogo falarão a língua dos anjos, ou seja, desenvolverão faculdades que contribuem para demonstrar aos incrédulos os limites de sua miserável existência física.

O “sadhu” não equivale ao pai de família que, tendo cumprido sua obrigação, passa a ingressar em uma fase da existência, mais contemplativa, abrindo mão de qualquer apego (“vairagya”). Ele se dedica integralmente à união com o Ser Absoluto. È um homem despojado de bens materiais - no limite das próprias roupas - e que perambula só ou em grupo em meio a um mundo que só ele sabe ou começa a perceber como uma simples ilusão, produto da disposição dos gunas em determinado momento.

Entre os hebreus, o ritual de ungir um menino e torná-lo “nazireu” (em hebraico, “separado, afastado”) embora revestido de caráter iniciático, deixa entrever que em tempos arcaicos o Senhor de Israel escolhia homens desde o berço para que cumprissem suas injunções. Em Juízes 13:5 se diz com relação à mãe de Sansão: “porque tu conceberás e terás um filho, sobre cuja cabeça não passará navalha, porquanto o menino será nazireu de Deus desde o ventre de sua mãe; e ele começará a livrar a Israel da mão dos filisteus”. A Sra. Blavatsky sugere que São Paulo era claramente um nazireu de nascença pois o capítulo 18 de Atos dos Apóstolos, versículo 18 é explicito em garantir que “Paulo, tendo ficado ali ainda muitos dias [em Corinto], despediu-se dos irmãos e navegou para a Síria, e com ele Priscila e Áquila, havendo rapado a cabeça em Cencréia porque tinha um voto”. Paulo, ademais, chegara ao grau de “Mestre Construtor” (I Coríntios, 3).

Junto a outros “Santos” como Sansão, Samuel, José (título nazireu segundo Blavatsky) não seria demasiado exagero incluir entre os modernos santos hebraicos (ou judeus) os grandes rabinos durante o exílio da Babilônia e após a queda do Templo foram os responsáveis pelas compilações dos grandes livros que compõem junto à Torah e o Tanach o Pentateuco e demais livros da Bíblia Judaica - o berço comum e repositório último da moderna tradição judaica. Estes recebiam títulos honrosos que denotavam não apenas respeito e admiração mas reconhecimento genuíno por seu exemplo de vida. Em termos espirituais o judaísmo reconhece ainda os “Tzadki” ou corretos cujo número é bastante pequeno, ou trinta e seis.

Na comunidade islâmica ou “Umma” ao lado da crença na linhagem ininterrupta dos “imames” (e da existência de um “imame vindouro” cuja semelhança com o “Buda Vindouro”, o “Messias” judaico ou o Jesus “ressuscitado” é mais ou menos óbvia) predomina até a atualidade em algumas localidades a crença nos poderes especiais de indivíduos e localidades que em nada se afastam do que no mundo católico e ocidental se associa aos Santos e locais sagrados de peregrinação onde são depositados os “Ex-votos”.

Para Mathew Gordon, “(...) em todo o mundo islâmico, persiste a crença de que indivíduos e linhagens de família podem ser privilegiados com poderes espirituais especiais ou com uma proximidade com o sagrado. Existe considerável sobreposição entre a veneração de tais ‘santos’ e os aspectos mais populares do sufismo, inclusive o uso do termo corânico wali Allah(“amigo de Deus”) para ‘santos’ tanto sufis quanto muçulmanos”.

E continua: “(...) O mundo islâmico mostrou muitas vezes desconforto, e mesmo uma nítida hostilidade, em relação a essas crenças e às práticas a elas associadas. Suas relações baseiam-se geralmente na idéia de que a santidade deveria ser atribuída somente a Deus, e nunca a Seres humanos. Para muitos muçulmanos comuns, porém, a idéia de “santos”, ou de santidade nos seres humanos não tem nada de censurável e a veneração dessas figuras tem sido parte importante de sua vida religiosa e espiritual até os dias de hoje. Estas crenças podem girar ao redor da piedade e reputação moral do ‘santo’ ou concentrar-se na capacidade dele de transformar o mundo físico (por exemplo, através da cura) ou de impor-se aos elementos naturais. Em muitas regiões do mundo islâmico esta presente a crença na baraka - uma benção espiritual que pode ser transmitida de um ‘santo’ ou de relíquias de um ‘santo’ (como seu túmulo) para o seguidor. Outras figuras santas aparecem mais como heróis populares famosos, por exemplo, por sua resistência diante de soberanos opressores”.

“(...) Por exemplo, a cidade de Marrakech no sul do Marrocos - muitas vezes mencionada como “o túmulo dos santos”, devido a grande numero de pessoas santas ali sepultadas - é associada particularmente a sete ‘santos’ que são celebrados em sete festivais de bairro”. Outros santos muçulmanos famosos são o egípcio Sayyd Ahmad Al-Badale (morto em 1276 D.C.) e Abd Sha Ghazi, em Karachi, Paquistão.

Os ensinamentos que se pode tirar da quase universal presença de santos, no Oriente é Ocidente é que a santidade é um estado acessível a todos os mortais. De acordo com a Lei da Evolução que é ascendente, não descendente, todos se tornarão santos um dia, seja porque possuam uma disposição inata do espírito - kármica - seja por mostraram-se retos na senda e alcançarem novos progressos. O caminho da efetiva iniciação, a real iniciação cujos percalços são espelhados nos símbolos e rituais especulativos é longo e tortuoso.

Se tomarmos um automóvel dirigindo-o em alta velocidade ou desembestarmos montados em um robusto cavalo através das íngremes montanhas dos Andes corremos o sério risco de despencar de um penhasco e perdermos o corpo físico. Na iniciação real em direção à Santidade a pressa ou à busca de atalhos é muito pior pois esta pode envolver muitas vidas e um pequeno desvio nos lançaria no fundo de um abismo que tomaria longo tempo para ser galgado.

O exemplo dos homens e mulheres santos de todas as partes do planeta é valioso para os buscadores porque os anima a perseguir o mesmo ideal virtuoso que os levou ao encontro da real identidade do “self” e à conquista do mundo ilusório, a liberdade. Estes seres, obedecendo à Lei Universal do Ajuste, romperam seus grilhões. Pouco podemos dizer sobre os mecanismos internos que os levaram ao êxito pois que isto foge aos nossos atuais possibilidades de compreensão. Estes são os homens realmente livres e maiores que os Anjos e os Deuses (Devas) porque vencendo a batalha contra o mal alcançarão primeiramente os céus e no futuro se tornarão Senhores do Sistema Solar.

2 comentários:

Thiago Martins disse...

"Os ensinamentos que se pode tirar da quase universal presença de santos, no Oriente é Ocidente é que ..."

Creio ser:
presença de santos, no Oriente e Ocidente é que ..."

Faço o comentário porque pediu para tal no seu perfil, não porque desmerecer o seu excelente texto.

Parabéns pelo blog!

Paz.
Thiago.

C. Baptista disse...

Obrigado Thiago. Sempre bem vindo. Eu escrevo muito rápido e, em geral, sem revisão. Valeu mesmo!
Leo