Gurdjieff

Gurdjieff
Quem é Gurdjieff?

domingo, maio 03, 2009

Israel Regardie - Magia, Viagens Astrais, Mediunidade


Do livro "The Tree of Life - An Illustrated Study in Magic" do membro da G.D. e grande mago Israel Regardie seguem intrigantes pontos de vista. Eis a tradução de alguns parágrafos, capenga e sujeita a críticas dos leitores que a podem cotejar com a edição original da Llewellyn Publications de 2007. O texto está entre as páginas 29 e 32 da obra.


" Nestas páginas espero evidenciar que a técnica da Magia está em consonância estrita com as tradições da mais alta antiguidade e que possui a sanção, explícita ou implícita, das melhores autoridades. Jâmblico, o divino Teurgista, tem muito a dizer em seus vários escritos sobre Magia, assim como Proclus e Porfírio, e mesmo a moderna literatura teosófica autorizada tem referências obscuras, mesmo que nunca explicadas e ampliadas sobre a Mágica Divina. Algumas excelentes invocações de obras gnósticas e várias recensões do Livro dos Mortos serão apresentadas até o fim deste livro e discussões baseadas nas concepções egípcias ou cabalísticas serão encontradas em outros capítulos.
Qualquer síntese sumária da Magia em uma palavra singular, "psiquismo", é claramente absurda, para dizer o mínimo. Eu conheço os teosofistas contudo, e compreendo a necessidade de antecipar suas objeções de forma clara. O mago necessita ter controle sobre sua natureza; cada elemento constituinte de seu ser deve ser desenvolvido até o ápice da perfeição. Nenhum princípio deve ser reprimido; cada um deles é um aspecto do espírito supremo e deve cumprir seu próprio propósito e natureza. Se o teurgista se engaja, por exemplo, em viagem astral - o que é objeto da maior parte das objeções teosóficas - isto se deve a três razões:
Em primeiro lugar, na assim chamada "Luz astral" ele deve perceber o exato reflexo de si mesmo em suas diversas partes e qualidades e atributos. Um exame deste reflexo tende naturalmente a uma espécie de auto-conhecimento.
Em segundo lugar,a definição de luz astral de um ponto de vista mágico é excessivamente ampla, incluindo todos os sub-planos sutis acima ou dentro do físico e é o objetivo do magista subir constantemente para os mais etéreos e lúcidos reinos do mundo espiritual. Os elementos mais grosseiros da esfera de Azoth, com suas imagens sensuais e visões opacas e obnubiladas também devem ser transcendidos e deixados para trás. Èliphas Lévy vai ainda mais adiante ao fazer para propósitos práticos não mais que duas grandes divisões no universo: o mundo físico e o mundo espiritual.
Em terceiro lugar, antes que essa porção particular do mundo invisível possa ser transcendida, deve ser conquistada e dominada em todos os seus aspectos. Todos os entes desta esfera devem se submeter ao magista, aos seus símbolos mágicos e obedecer inequivocamente à realidade de sua vontade real a qual simbolizam. Em nosso plano, em nosso reino diário de experiência ordinária, símbolos são meramente representações arbitrárias de significado interior e inteligível. São as assinaturas visíveis de uma graça metafísica ou espiritual, como se pode dizer. Na Luz Astral, contudo, estes símbolos assumem existência independente revelando sua realidade tangível e assim se tornam de máxima importância. As evocações são feitas pelo magista não por curiosidade nem para satisfazer sua sede por poder, mas com o único objetivo de trazer essas facetas ocultas de sua própria consciência para o campo de sua vontade e submetê-las a seu domínio (...)".
"Em Magia nenhuma tentativa é feita para adquirir poderes para seus próprios propósitos ou para qualquer fim nefasto. Qualquer poder adquirido deve ser instantaneamente submetido à Vontade e mantido em seu próprio lugar e perspectiva (...)"
"Por que indivíduos - particularmente alguns teosofistas - o cobiçam ou contemplam como fazem o astral e seus poderes ocultos para seu próprio deleite ou morbidade patológica isso é coisa que ultrapassa minha compreensão. No começo de sua carreira o magista é obrigado a compreender que sua única aspiração é o seu EU SUPERIOR ou seu Santo Anjo Guardião e que quaisquer faculdades obtidas devem ser atreladas a essa aspiração (...)". "(...) Uma aspiração a algo que não seja o Santo Anjo Guardião constitui em realidade e em raras exceções, um ato de magia negra o qual é deplorável ao extremo".
"Outra objeção também levantada é a de que a Magia pode levar à mediunidade. Esta também é uma censura errônea para um grande número de pessoas. Foi corretamente observado que ambos, o mago e o médium, cultivam o transe. Mas aí o acuro da observação cessa, pois nos respectivos estados de consciência está toda a diferença no mundo. Como se diz popularmente é num piscar de olhos que a diferença entre o gênio e o louco é revelada. A real distinção é que num caso a balança da gravidade está acima do centro normal de consciência. No último caso abaixo e a consciência que desperta se tornou invadida por uma horda descontrolada de impulsos inconscientes. A mesma idéia se aplica mais fortemente à comparação entre o médium e o magista. O médium cultiva um transe passivo e negativo que desloca seu centro de consciência para baixo, para o que chamamos NEPHESH. O magista, por outro lado, está intensamente ativo de um ponto de vista mental e espiritual, simultaneamente e também se mantém em um transe noético, mas mantendo os processos do raciocínio sob controle. Seu método é subir acima deles, abrindo a si próprio aos raios telésticos do seu Ser Superior ao invés de descer ao acaso ao lodo de nephesh.
Esta constitui a única diferença. O cultivo da Vontade Mágica e a conseqüente exaltação da alma é a técnica da magia. O transe espiritualista não é nada mais, nada menos, que uma descida não usual na inércia e na consciência animal. Abdica-se de toda a humanidade e divindade no transe passivo e negativo em prol da vida animal e da obsessão demoníaca. Ao abrir mão do ego individual, toma lugar no magista a consciência noética espiritual, não o torpor da vida instintiva e vegetativa. “A Magia não tem então qualquer associação sob qualquer ponto de vista com a mediunidade”.

sábado, maio 02, 2009

Critérios

Há que se adotar critérios para distinguir os fenômenos e mestres reais dos numerosos "fazedores" de milagres que aparecem todos os dias, por todas as partes. Bem piores que os "milagreiros" são aqueles que confirmam terem visto o produto de seus pretensos poderes e, às vezes, escrevem livros a respeito. O famoso materialista dialético Friedrich Engels, por volta dos 90 do século XIX esteve envolvido em investigações psíquícas em Londres concluiu que apenas uma forte convicção científica ou filósofica poderia evitar que um homem fosse enredado pelas malhas da superstição. De toda sorte tinha razão, pois apenas por critérios empíricos dificilmente obteríamos resultados convincentes que atestassem ou não a veracidade de certos fenômenos sobrenaturais.
A antítese do que disse Engels está no fato de que, por outro lado, ao menos que o observador compartilhe de valores espirituais mais elevados ou seja ele próprio um estudioso do "oculto e sobrenatural" - não pela ótica da parapsilogia ou percepção extra-sensorial, demasiadamente acadêmica e formal - compreenderia em sua integralidade um fenômeno que escapa ao sentido comum.
Poderíamos sobrepor nossas mãos às de Cristo ressuscitado, ficariamos intrigados com o fato e passaríamos o restante de nossas vidas tentando descobrir como agiu este brilhante prestigitador, mas jamais seríamos tocados por este presente de Deus à humanidade que é a demonstração do poder infinito da misericórdia divina. Afinal de contas, a maioria das pessoas jamais seria tocada pela sublime experiência do amor divino transbordante, a mais poderosa de todas as manifestações do sobrenatural.

terça-feira, abril 28, 2009

Swami Yogananda

Membro da Ordem dos Swamis, Yogananda legou à posteridade um livro genial. Difícil não se entreter em sua leitura, impossível não derramar lágrimas copiosas ao folheá-lo. O contato com a "Autobiografia de um Iogue" é uma experiência única, mágica, comovente e inspiradora pela humildade e desapego do seu autor e os mestres que o orientaram. Desde a praticidade tremendamente humana do pai à poderosa e terna presença de Sri Yukteswar, o discípulo e amigo do Santo Lahiri Mahaiasa, o livro é uma clara demonstração de que podemos combinar o deleite místico-espiritual à vida atribulada do cotidiano. De um "Babaji" iluminado a um Lahiri Mahaisa que mesmo em seu plano de elevadíssima consciência e visão cósmica mantinha uma família e recebia os proventos de humilde funcionário de uma ferrovia.
Que estupor nos envolve ao contemplarmos com nossos próprios olhos o desfile dos numerosos santos (sadhus), swamis e gurus com quem Yogananda privou da amizade e companheirismo em modestos ashrams das grandes cidades da Índia. Quão magnifica nos parece a visão beatífica de Lahiri Mahasaia levitando, desmaterializando-se e materializando-se em diversos planos de modo a nos fazer crer piamente em nossas ridículas limitações de tempo e espaço. Saber que Sri Yukteswar manipulando o prana ("vitátrons" na falta de expressão melhor) e podia reconstituir com matéria astral o corpo físico e "ressuscitar" como o Mestre de Nazaré. Saber que não só Jesus foi capaz de produzir milagres mas que todos nós também o somos desde que nos integremos à essência divina de Deus ou ao todo, unamos o microcosmo ao macrocosmo. O livro é todo ele um festival que inunda o Ganges de nossa alma com guirlandas de rosas e perfumes miraculosos.

domingo, julho 20, 2008

Castelo Interior

Um grande castelo de ferro dotado de uma cruz em seu cimo exótico. O formato é abaulado, há uma grande cúpula no alto que ampara a cruz. A obra é levemente inclinada para a direita. Ao lado há duas peças de ferro, semelhantes a bobinas, entre as quais circunda uma energia qual eletricidade. Está situado em um parque isolado por cercas e a seu lado caminham as pessoas tranquilamente. Há um parque de diversões próximo chamado de "Parque Egípcio". Antes disso me encontro entre um grande amigo que desaparece e um rapaz com muletas o contesta acerbamente. Eu o ataco antes de partir em direção ao palácio feito de ferro. Tudo é um grande mistério.

"Teosofia" e Teosofias

Alguns amigos e amigas insistem em reanimar o vetusto debate sobre a essência da Teosofia. A Teosofia ou “Sabedoria Divina”, “Brahma Vhydya” é muito anterior a Madame Blavatsky e à Sociedade Teosófica, o que em si não é novidade, sendo reiterado em inúmeras ocasiões pela mesma. O nome nos foi transmitido pelos filósofos alexandrinos, os ”philaletheus” ou “aquele que ama a verdade” e “(...) o nome Teosofia data do terceiro século da nossa era e foi introduzido por Amônio Saccas e seus discípulos, os quais iniciaram o Sistema Teosófico Eclético”. E continua: “O objetivo principal dos fundadores da Escola Teosófica Eclética era um dos três objetivos de sua sucessora moderna, a Sociedade Teosófica, ou seja, reconciliar todas as religiões, seitas e nações sob um sistema de ética comum, baseado em verdades eternas”. E ainda: “A ‘Religião-Sabedoria’ era una na antiguidade; e a uniformidade da filosofia religiosa primitiva é comprovada pelas doutrinas idênticas ensinadas aos iniciados durante os MISTÉRIOS, uma instituição universalmente difundida em outros tempos. ‘Todos os alunos antigos indicam a existência de uma única Teosofia anterior a eles. A chave que desvendar um terá de desvendar todos os outros; de outra forma não poderá ser a chave verdadeira’”.
Não somente posterior aos divinos teósofos das luzes como Böehme, Eckartshausen, não propriamente uma superação dos alquimistas herméticos da idade média, não uma sucedânea dos cabalistas e magos franceses, a exemplo de Éliphas Lévy. A teosofia de Blavatstky e sua escola entesouram as mesmas e magníficas verdades de outras teosofias que, essencialmente, são aspectos de uma mesma sabedoria divina, que remonta ao princípio dos tempos. Claro que uma escola deste gênero não se limitaria à tradição oriental. Todo o esforço empreendido por HPB se voltava, naturalmente, para a promoção de uma síntese do conhecimento religioso – cabala, hermetismo, religiões tradicionais, sistemas do Oriente – embora o componente especificamente hindu tivesse função relevante neste edifício intelectual.
Todos somos potencialmente teósofos, desde que o emprego de nossos faculdades superiores possibilitem-nos beber do conhecimento divino que emana dos planos superiores. O teósofo “de gabinete”, compilador de informações livrescas ou aquele que aguarda eternamente a vinda de um “mestre” que venha lhe instruir sobre a “senda iniciática” não são os melhores modelos nesse aspecto. A filiação à Sociedade Teosófica ou a preferência pelas obras que nos foram legadas por HPB também não delimitam o ser “teósofo”. A própria Blavatsky sempre se declarou um humilde instrumento a serviço dos mestres e nunca reinvidicou para si mesma condição superior à de simples mortal.
Além do cerceamento da pesquisa teosófica ao âmbito da Sociedade Teosófica e de HPB (há quem seja visceralmente contra, inclusive, outros teósofos como Charles Leadbeater ou Annie Bésant) ocorre mormente a delimitação dos estudos aplicados ao cânone blavatskyano ou ao repertório seguido pela própria Blavatsky enquanto viva. Este procedimento metodológico excluiria de antemão como “temas não-teosóficos”, tudo aquilo que HPB deixara de abordar como o que manifestamente desprezava. Dito de outra forma, nada de abordar assuntos do século XX, culturas africanas e latino-americanas, xamanismo, wicca, Aleister Crowley, certas escolas ocultistas etc. Tudo isso não tem características “teosóficas” por não ter sido abordado por Blavatky ou não constar das publicações da S.T.
Bem, onde ficam objetivos como a promoção da “fraternidade universal”, o estudo dos “poderes latentes do homem” “and so on”. Perguntem a Madame Blavatsky! Mas cuidado, porque o espiritismo é “não-teosófico”...

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Cérebro de Porco Provoca Doença

Mais um argumento contundente em favor do vegetarianismo.


The New York Times
05/02/2008Cérebro de porco é suspeito de provocar doença misteriosa em abatedouros dos EUA

Denise GradyEm Austin, Minnesota

Se você passou a padecer de uma estranha doença, a resposta para a enfermidade pode estar nesta cidade de 23 mil habitantes nas pradarias do sudeste de Minnesota. A Clínica Mayo, famosa por diagnosticar doenças exóticas, é a proprietária do centro médico local e compartilha alguns dos seus profissionais com ele. A própria Mayo fica apenas 64 quilômetros a leste, em Rochester. E, quando se trata de investigar misteriosos surtos patológicos, Minnesota conta com um dos mais fortes departamentos de saúde e com os laboratórios mais bem equipados do país.E a doença com a qual os médicos do Centro Médico de Austin se depararam no outono passado era de fato estranha. Três pacientes apresentavam o mesmo conjunto incomum de sintomas: fadiga, dor, fraqueza, dormência e formigamento nas pernas e nos pés.Os pacientes tinham algo mais em comum: todos trabalhavam na Quality Pork Processors, uma indústria local de processamento de carnes. A desordem parecia envolver danos aos nervos, mas os médicos não tinham nenhuma idéia sobre o que a causava.Na fábrica, enfermeiras no departamento médico também começaram a notar o mesmo padrão sinistro. Os três trabalhadores reclamaram junto a elas sentirem "as pernas pesadas", e as enfermeiras os orientaram a procurar médicos. Elas também descobriram um quarto caso, e temeram que mais trabalhadores adoecessem, e que uma doença séria pudesse estar disseminando-se pela fábrica. "Pensamos em conjunto e achamos que algo andava errado", conta Carole Bower, a chefe do departamento.A maior empregadora de Austin é a Hormel Foods, fabricante do apresuntado Spam, e produtora de bacon e de outras carnes processadas (Austin possui até um museu do apresuntado Spam).

Vista aérea da Quality Pork Processors, em Austin, MinnesotaA Quality Pork Processors, que é adjacente à área da Hormel, abate e esquarteja 19 mil porcos por dia, e remete a maior parte dos animais abatidos para a Hormel. O complexo, que emite nuvens de fumaça e um odor característico, é fácil de ser localizado a partir de qualquer parte da cidade.A Quality Pork é a segunda maior empregadora da cidade, com 1.300 funcionários. A maioria destes trabalha em turnos de oito horas junto a uma esteira transportadora - basicamente, uma "unidade de desmontagem" -, retalhando uma parte específica de cada carcaça. O salário inicial desses trabalhadores é de US$ 11 a US$ 12 por hora. O trabalho é duro e cansativo, mas a fábrica é excepcionalmente limpa e os benefícios são bons, afirma Richard Morgan, presidente do sindicato local. Muitos dos trabalhadores são imigrantes latinos. A proprietária da Quality Pork não permite que jornalistas entrem na fábrica.Um homem a quem os médicos chamam de "caso original" - o primeiro paciente que eles descobriram - adoeceu em dezembro de 2006, e ficou hospitalizado na Clínica Mayo durante cerca de duas semanas. O seu trabalho na Quality Pork consistia em extrair os cérebros das cabeças dos suínos."Ele estava bastante enfermo e altamente afetado neurologicamente, apresentando fraqueza significativa nas pernas e perda das funções na parte inferior do corpo", diz Daniel H. Lachance, um neurologista da Clínica Mayo.Exames revelaram que a medula espinhal do homem estava bastante inflamada. A causa parecia ser uma reação autoimune: o seu sistema imunológico estava atacando equivocadamente os seus próprios nervos, como se estes fossem corpos estranhos ou germes. Os médicos não foram capazes de descobrir por que isso aconteceu, mas o tratamento padrão para a inflamação - uma droga esteróide - pareceu ajudar (o paciente não quis conceder entrevistas).Lachance afirma que as doenças neurológicas às vezes desafiam a compreensão, e este parece ser um caso de tal tipo. À época, não ocorreu a ninguém que o problema pudesse estar relacionado à ocupação do paciente. Por volta da primavera, o funcionário retornou ao trabalho. Mas, dentro de semanas, adoeceu novamente. Mais uma vez, ele recuperou-se após alguns meses e voltou ao trabalho - apenas para adoecer de novo.Àquela altura, novembro de 2007, começaram a surgir outros casos. No final, havia 12 - seis homens e seis mulheres, distribuídos por uma faixa etária de 21 a 51 anos. Os médicos e o proprietário da indústria, percebendo que estavam lidando com um surto patológico, já haviam feito contato com o Departamento de Saúde de Minnesota, que, por sua vez, buscou ajuda federal junto ao Centro para Controle e Prevenção de Doenças.Embora o surto parecesse ser pequeno, a investigação adquiriu um caráter de urgência porque a doença era séria, e as autoridades de saúde temiam que isso pudesse indicar um novo risco para outros funcionários da indústria de processamento de carnes."É importante identificar o que é isso, já que parece ser uma nova síndrome, e não sabemos de fato quantas pessoas podem ter sido afetadas nos Estados Unidos ou mesmo no mundo", diz Jennifer McQuiston, uma veterinária do centro.No início de novembro, Aaron DeVries, médico epidemiologista do departamento de saúde, visitou a fábrica e vasculhou os seus registros médicos. A doença não tinha semelhança com o mal da vaca louca ou com a triquinose, a famosa infecção causada por um parasita devido à ingestão de carne de porco crua ou mal cozida. E ela tampouco era transmitida de uma pessoa a outra - os familiares dos trabalhadores doentes não foram afetados -, nem representava qualquer ameaça para as pessoas que comiam carne de porco.Uma pesquisa com os trabalhadores confirmou aquilo de que as enfermeiras da fábrica haviam suspeitado: aqueles que adoeceram trabalhavam na "mesa das cabeças", onde os trabalhadores cortam a carne de cabeças de porcos - ou próximo daquela unidade. Em 28 de novembro, a chefe de DeVries, Ruth Lynfield, a diretora de epidemiologia do Estado, visitou a fábrica. Ela e a proprietária, Kelly Wadding, examinaram com atenção especial a mesa das cabeças. Lynfield ficou especialmente assustada com um procedimento chamado "explosão de cérebros".Quando cada cabeça chegava ao final da mesa, um funcionário inseria uma mangueira de metal no forâmen magnum, a abertura do crânio através da qual passa a medula espinhal. A seguir, explosões de ar submetido a intensa compressão transformavam o cérebro em uma pasta que era ejetada pelo mesmo orifício no crânio, freqüentemente fazendo com que fragmentos de tecido cerebral se espalhassem por todos os lados e respingassem no operador da mangueira. Essa pasta de cérebros era aglutinada, acondicionada em recipientes de 4,5 kg e vendida como alimento - em sua maior parte para a China e a Coréia, onde os cozinheiros a fritam segundo a moda oriental conhecida como "stir frying", e também para certas partes da América Latina nas quais as pessoas gostam de comer os cérebros com ovos mexidos.A pessoa responsável pela explosão dos cérebros ficava separada dos outros trabalhadores por um escudo de plexiglass que tinha espaço suficiente na parte inferior para permitir que as cabeças entrassem trazidas pela esteira de transporte. Tal espaço era também suficiente para que tecido cerebral atingisse funcionários que trabalham por perto."Foi possível ver a transformação de tecido cerebral em aerossol", diz Lynfield.Os trabalhadores usavam capacetes, luvas, jalecos de laboratório e óculos de proteção, mas muitos tinham os braços expostos, e nenhum usava máscaras ou protetores faciais para impedir a ingestão ou a inalação do aerossol de tecido cerebral. Lynfield perguntou a Wadding: "Kelly, o que você acha que está acontecendo?"A dona da fábrica observou o quadro por algum tempo e disse: "Vamos parar de coletar cérebros". Naquele dia a Quality Pork interrompeu aquela operação e ordenou que todos os trabalhadores da mesa das cabeças usassem protetores faciais. Epidemiologistas contataram 25 abatedouros de porcos nos Estados Unidos, e descobriram que apenas dois outros usavam ar comprimido para a extração de cérebros. Um deles, uma fábrica da Hormel em Nebraska, não registrou nenhum caso. Mas o outro, o Indiana Packers, em Delphi, Indiana, relatou vários possíveis casos que estão sendo investigados. Essas duas outras fábricas, assim como a Quality Pork, deixaram de usar ar comprimido para explodir cérebros.Mas por que a exposição a cérebros de suínos provocou a doença? E por que isso ocorreu só agora, se o sistema de ar comprimido é usado em Minnesota desde 1998?No início as autoridades de saúde acharam que talvez os porcos tivessem alguma nova infecção que fosse transmitida às pessoas através do tecido cerebral. Às vezes infecções podem desencadear uma resposta imunológica descontrolada em humanos, como a doença que atingiu os trabalhadores. Mas, até o momento, inúmeros exames para a detecção de vírus, bactérias e parasitas não detectaram sinais de infecção.Como resultado, Lynfield diz que os investigadores começaram a se inclinar para uma teoria aparentemente bizarra: a de que a exposição ao cérebro suíno em si poderia ter desencadeado uma intensa reação do sistema imunológico, algo semelhante a uma gigantesca e descontrolada reação alérgica. Algumas pessoas podem ser mais susceptíveis do que outras, talvez devido a características genéticas ou a exposições a tecido animal ocorridas no passado. O tecido cerebral transformado em aerossol pode ter sido inalado ou ingerido, ou ainda pode ter penetrado no organismo pelas membranas mucosas do nariz ou da boca ou através de fissuras na pele. "Isso é algo que ninguém antecipou, e sobre o qual ninguém pensou", diz Michael Osterholm, um médico epidemiologista que está trabalhando como consultor para a Hormel e a Quality Pork. Osterholm, professor de saúde pública da Universidade de Minnesota e ex-diretor de epidemiologia do Estado, diz que o governo nunca criou diretrizes relativas a esse tipo de exposição no local de trabalho.Mas isso ainda não explicaria por que o problema surgiu repentinamente agora. Os investigadores estão tentando descobrir se algo mudou recentemente - o nível de pressão de ar das mangueiras, por exemplo - e também se no passado ocorreram outros casos que simplesmente não foram detectados. "Não há dúvida que as respostas ainda não apareceram", afirma Osterholm. "Mas faz sentido, sob o ponto de vista biológico, que o que ocorria aqui era uma inalação de material cerebral dos porcos, provocando uma reação imunológica". Segundo ele, o que pode estar ocorrendo é uma "imitação imunológica", o que significa que o sistema imunológico cria anticorpos para combater uma substância estranha - algo presente nos cérebros de porcos -, mas os anticorpos também atacam o tecido nervoso do indivíduo porque este tecido é bastante similar a certas moléculas dos cérebros suínos."Essa é a bela e a fera do sistema imunológico", diz Osterholm. "Ele é muito eficiente em combater objetos estranhos, mas sempre que há uma semelhança acentuada com os nossos tecidos ele também se volta contra nós".Anatomicamente, os porcos parecem-se muito com os humanos. Mas não se sabe até que ponto existe uma equivalência bioquímica entre o cérebro do porco e o tecido nervoso humano.Para descobrir isso, o departamento de saúde de Minnesota pediu a ajuda do médico Ian Lipkin, da Universidade Columbia, um especialista no papel do sistema imunológico nas doenças neurológicas. Lipkin começou a testar plasma sangüíneo dos pacientes de Minnesota para buscar sinais de uma reação imunológica a componentes do cérebro do porco. E ele também deseja estudar o gene do porco para a mielina, para determinar até que ponto ele é similar ao gene da mielina humana."É um problema interessante", diz Lipkin. "Creio que podemos resolvê-lo".Susan Kruse, que mora em Austin, ficou chocada com as notícias sobre o surto no início de dezembro passado. Kruse, 37, trabalhou na Quality Pork durante 15 anos. Mas no ano passado ela ficou muito doente para trabalhar. Ela não fazia idéia de que outras pessoas da fábrica também pudessem estar doentes. E ela também não sabe se a sua doença está de fato relacionada ao emprego.O seu último trabalho na fábrica foi raspar a carne localizada entre as vértebras dos porcos. Três pessoas por turno faziam essa tarefa, e juntas elas processavam 9.500 cabeças em oito ou nove horas. Kruse ficava perto da pessoa que usava o ar comprimido para a explosão dos cérebros. Em várias ocasiões os respingos de massa cerebral a atingiram, especialmente quando estagiários estavam aprendendo a usar a mangueira. "Eu sempre tinha pedaços de cérebro nos braços", conta ela.Ela nunca teve problemas de saúde até novembro de 2006, quando começou a sentir dores nas pernas. Em fevereiro de 2007, Kruse não conseguia mais ficar de pé pelo tempo exigido para o desempenho daquela função. Ela necessitou de um andador para se locomover e foi tratada na Clínica Mayo. "Eu não tinha forças para nada que costumava fazer", conta Kruse. "Sentia que minhas energias estavam sendo drenadas".O seu sistema imunológico saiu de controle e atacou os seus nervos, especialmente em duas partes: nos pontos nos quais os nervos emergem da medula espinhal e nas extremidades. A mesma coisa, em graus de intensidade diversos, estava acontecendo com os outros pacientes. Kruse e o primeiro paciente - o homem que extraía os cérebros - provavelmente apresentaram os problemas mais sérios, de acordo com Lachance. Os esteróides em nada ajudaram Kruse, de forma que os médicos passaram a tratá-la a cada duas semanas com IVIG, imunoglobina intravenosa, um produto do sangue que contém anticorpos. "É como golpear a doença na cabeça com uma marreta", explica Lachance. "A substância subjuga o sistema imunológico e neutraliza o que quer que esteja provocando o problema".De acordo com Kruse, os tratamentos parecem ajudar. Ela sente-se mais forte após cada aplicação, mas os efeitos são desgastantes. Os médicos acreditam que ela necessitará da terapia pelo menos até setembro.A maioria dos trabalhadores está se recuperando, e alguns retornaram ao emprego, mas outros, inclusive o primeiro a ficar doente, ainda estão incapacitados para o trabalho. Até o momento, não foram registrados novos casos. ""Não posso afirmar que alguém tenha voltado completamente ao normal", diz Lachance. "Acredito que demorará vários meses para que possamos entender de verdade o ciclo dessa doença".Lynfield espera descobrir a causa. Mas ela diz: "Não sei se teremos uma resposta definitiva. Suspeito que seremos capazes de descartar algumas hipóteses, e que poderemos determinar se é provável que a doença seja causada por uma resposta autoimune. Creio que aprendemos muito, mas pode levar algum tempo até a conclusão desse processo de aprendizado. Trata-se de uma grande história de detetive". Tradução: UOL

sábado, fevereiro 02, 2008

Estados

Os governos do Estado são intrinsecamente ineficientes, alguns mais, outros menos.