Gurdjieff

Gurdjieff
Quem é Gurdjieff?

quarta-feira, novembro 16, 2005

O Preconceito Macedônico e Romano contra os Egípcios

Antes de continuar esta digressão histórica convém perguntar: como uma religião tão diferente dos ritos predominantes na sociedade pré-ocidental, greco-romana, influiu tão decididamente sobre seus monoteísmos dominantes, o judaísmo e o cristianismo. A religião ancestral de Tebas, Heliópolis, Carnac e Mênfis era motivo de repugnância por parte dos sofisticados habitantes helenizados de Alexandria, seus praticantes equiparados a suínos e, em Roma, a propagação do culto a Ísis e dos mistérios mais recônditos professados pelos sacerdotes da terra mãe, em alguns momentos históricos era uma preocupação de Estado.

Particularmente, debito o preconceito dos gregos de Alexandria e dos romanos ao olhar de uma cultura nova que já havia se esquecido da contribuição dos egípcios ao desenvolvimento da filosofia e das artes nos primórdios da civilização. Ademais, os primeiros descendiam de macedônios, pelos demais gregos julgados "barbaros". Os segundos jamais compreenderiam uma religião em profundidade, não haviam esquecido o culto aos deuses domésticos e Mitra, o Deus do fogo, não conquistara ainda o espírito das legiões. Talvez, como engenheiros e técnicos que eram, lhes fascinassem as maravilhas arquitetônicas daquele longínquo país ao qual os romanos mais ricos iam como turistas (1).

Quanta diferença com relação aos verdadeiros gregos, os nobres habitantes de Atenas, Esparta, Tebas e de toda a Grécia insular, ainda não contaminados pela ignorância oriental e a petulância selvagem dos macedônios. Estes, admiravam os egípcios. Foi lá que Thales mediu a altura das pirâmides. Foi de lá que trouxeram a geometria, cujos princípios se atribuiu depois à Pitágoras. Foi de lá que veio Herácles, do que se depreende da "História" de Heródoto.

As pinturas gregas anteriores à grande civilização erguida no século V a.c. têm muito de egípcio, assim como muito do Egito perdurou nos mistérios religiosos - entre eles, os de "Elêusis" - e nas filosofias pré-socráticas e neo-platônicas. Mas a Grécia clássica, ambiente democrático e propício ao questionamento, inovou na concepção do belo (o que se vê na perspectiva das gravuras e no realismo da escultura) e no abandono do sentido transcendental e místico da vida, abraçando os Deuses de Estado com paixão quase literária e indiferença religiosa.

(1) O próprio Heródoto fora como turista ao Egito e descrevera seus Deuses com nomes gregos.

Nenhum comentário: