Ainda que nunca tenha sido espírita, espiritualista ou kardecista (apenas um tio o era na minha família) desde pequeno experimentei episódios estranhos que de tão banais me convenceram firmemente a buscar outras práticas e métodos espirituais pela necessidade premente de entender algo que aos outros parecia tão pouco acessível ao intelecto formal.
Hoje não dou importância a esses fatos enquanto "poderes especiais" ("sidhis") porque graças aos estudos percebi o quão preocupante é isso tudo e como podem arruinar sua própria vida, caso não sejam tratados a tempo. Infelizmente há sempre aqueles que se sentem felizes por poder manipulá-los como um mágico no circo... Meu falecido pai havia sido filiado a certo grupo oculto e possúia dons invulgares, o principal deles era o da adivinhação por meios estranhos e o de falar outras línguas. Afora isso, tendo nascido em 1920, papai sempre nos falava acerca de estórias sobrenaturais que tinha testemunhado, com grande riqueza de detalhes. Eu mesmo presenciei diversos fatos que ultrapassavam meu escopo mental em nossa casa, um deles quando meu tio veio a falecer repentinamente e papai estava há centenas de quilômetros de distância e apareceu no enterro sem ninguém tê-lo avisado e dizendo que sabia que o Antônio havia morrido... (naquela época não havia celular e telefones fixos eram raros). Já meu principal dom era conviver com seres do passado que caminhavam ao meu lado como se fossem criaturas normais ou conversar com pessoas que se esfumaçavam pelo ar. Quantas vezes passei o ridículo de estar falando com alguém com roupas engraçadas e comentava com meu pai e minha mãe e ela, particularmente, achava aquilo absolutamente inconpreensível (A última vez que me ocorreu fato semelhante foi há uns 4 anos, porém de maneira totalmente diferente e por duas vezes, no Brasil e em outro país). Quando vim para a Bahia, há muitos anos, tive um sonho que me mostrava um lugar que seria exatamente aquele onde estaria hoje. Quando me mudei para cá e morei em uma pensão no Largo da Vitória numa certa noite fui acordado por arrebatamento e vi um Ser gigantesco e negro na Baía de Todos os Santos que me falava sobre minha vida e vários episódios futuros, porém na época não pude entender completamente o que era. O que eu me lembro é que dizia que não deveria jamais revelar algumas coisas que me eram ditas, o que eu segui à risca. Esse ser com toda a certeza era um Deus - no sentido teósofico -, dada a grandeza da manifestação de que se revestia.
Nesse tempo, após a primeira manifestação, eu conquistava muitas vitórias materiais e ao mesmo tempo passava a conviver com outro ser que falava inglês ao modo americano, era branco e extremamente sensual, sendo que este exercia uma influência dúbia sobre mim, era certamente maléfico e não tinha a mesma magnitude do ser interior. Sua principal característica era a excessiva sensualidade. Com o passar do tempo vim a saber quem era e graças aos estudos em que estava me aprofundando consegui me livrar dele.
Aliás, foi a partir deste momento que várias coisas negativas começaram a se manifestar em minha vida. Meus estudos sempre foram constantes desde os 20 e poucos anos de idade aproximadamente, através de várias escolas. Porém à medida que avançava na leitura de determinadas linhas ocultas e apreendia certos conceitos tudo se tornava simultaneamente mais claro e compreensível. Tinha certeza de que não podia ser manipulado mais por estes seres e a justificativa da inocência ou imaturidade não era mais válida para suportar o seu jugo espiritual ou ameaças frequentes.
Poucos anos depois veio a se manifestar quiça o mais maravilhoso de todos os fenômenos em minha vida. Eu havia procurado por duas décadas vários caminhos no ocultismo, todos eles falhos ou incompletos. Minhas conquistas materiais haviam encontrado um termo. Eu era jovem e havia conquistado a superintendência em uma firma, ganhando bastante. Fui demitido e estava desesperançoso, não sabia o que havia acontecido comigo já que havia me preparado tanto, me formado em economia e feito um mestrado para ganhar muito. Entrei em depressão acentuada e parei de fumar. Tudo parecia negro e nebuloso para mim.
Diante disso, resolvi voltar as raízes, ao que havia de mais antigo em mim. Lembrei-me de minhas fotos de batismo no catolicismo com minha jovem e linda mãe e decidi retornar às raízes, voltar a frequentar a Igreja Católica e Apostólica Romana e abandonar o materialismo e o ocultismo.
Morando em Salvador, passei a frequentar uma pequena Igreja em Brotas, Vila Laura. Um Padre Jesuíta me amigo havia me dito que precisava cumprir os demais votos além do batismo (a crisma e primeira comunhão) e outro padre da Igreja Principal de Brotas me assegurou, do alto de seus setenta e tantos anos, que eu deveria pedir a uma velha beata em uma Igreja próxima a minha residência que me procedesse ao catecismo e aos futuros sacramentos.
Foi o que fiz, dirigi-me ao apartamento desta Senhora que me recebeu algo assustada - um doutor pedindo os sacramentos? - e recomendou que me encaminhasse ao Padre de Vila Laura, o que fiz alguns dias depois.
Porém, fato miraculoso, alguns dias antes, em uma Livraria do Shopping Iguatemi, reconheci o Padre em trajes comuns (leigos) e o perguntei se havia sido comunicado do meu pedido, ao que ele respondeu serenamente e disse que sim. Dias depois vim humildemente a uma missa nesta mesma Igreja, participei dos ritos humildemente e ajoelhei-me fervorosamente por todas as vezes em que isso foi solicitado. Num determinado momento o Padre falava do Demônio e sua missão destruidora nesse mundo. Só me lembro que todas as luzes quebraram nesse momento, o que reputo à minha presença naquela cerimônia e talvez a falhas vibracionais do regente místico naquela ocasião ou da própria audiência.
Dias depois, decidi frequentar o mosteiro de São Bento, cujo arquiabade me passava uma visão de conhecimento e distinção e a própria medalha de Sâo Bento, abençoada por um monge em uma primeira visita, salvara-me da morte em uma viagem de trabalho à Cuiabá. Estes foram meses em que minha consciência se alçou ao limite, tamanha era a prática de orações cristâs e a meditação no próprion Cristo Salvador, na Virgem Maria, nos Santos e os Anjos. Eu havia me redescoberto santamente na Igreja Católica e através da oração sistemática alcançando uma transformação do meu ser interior e exterior.
Em certo domingo, no ano de 2005, estava ouvindo Cantatas de Bach, talvez uma das mais esplêndidas obras do compositor alemão. Naquele momento dirigi-me à sacada de meu apartamento e tive o mais belo de todos os vislumbres de toda a minha existência. O dogma da TRINDADE foi revelado perante mim em um átimo de segundo. Quão belo e inesquecível aquele momento único de contato com o divino, desencadeado pela audição de Bach! Tudo aquilo sobre o qual se debruça o crente compromissado revelado pelo Espírito Santo em uma diminuta fração de tempo!