Lendo aos 40 anos a obra "A Queda" de Albert
Camus me dei conta, repentinamente, da grandiosidade do autor, traduzida
em sua habilidosa forma de captar o elevado conceito que o indivíduo da
espécie humana forma de si mesmo. É como se eu me visse retratado no
seu mundo interior, com as mesmas aflições, sofrimentos, angústias e
aquela típica inclinação terráquea de se enxergar bem no íntimo como
superior ao outro, um pequenino Deus separado do restante da humanidade.
Creio que qualquer pessoa experimentaria impressão análoga lendo os
seus livros, o que torna a sua obra realmente universal. Há uns vinte e
tantos anos atrás achei o mesmo livro tedioso.
"Mais voilá, j'étais du bon côté, cela suffisait à la paix de ma
conscience. Le sentiment du droit, la satisfaction d'avoir raison, la
joie de s'estimer soi-même, cher monsieur, sont de ressorts puissants
pour nous tenir debout ou nous faire avancer. Au contraire, si vous en
privez les hommes, vous les transformez en chiens écumants. Combien de
crimes commis simplesmente parce que leur auter ne pouvait supporter
d´être en faute!"
quinta-feira, dezembro 06, 2012
quinta-feira, novembro 22, 2012
Jean Yves Leloup - O Significado de "Igreja"
“A igreja supõe a comunhão das pessoas entre elas e a comunhão
com aquilo que as transcende.
Quando o ser humano, através da consciência de si mesmo,
para de se apropriar, ou seja, de fragmentar a vida, ele descobre sua unidade
com todos os outros. Não se trata de uma simples similaridade de condições, mas
de uma unidade ontológica de todos os homens, nós somos ‘consubstanciais uns
com os outros’.
O ser humano que tem consciência de si mesmo não se apega à
sua própria vontade, ao seu bem particular, ele tem tendência a fazer apenas um
com a Vida que se dá. Dessa maneira, ele não existe mais apenas para si mesmo,
ele concretiza tanto a unidade com o outro quanto a sua perfeita indiferença.
A consciência de ser ‘Eu Sou’ não é apenas ‘consciência do
Self’, mas consciência da comunhão, consciência de ser ‘Eu sou com’.
Essa consciência de ser em comunhão com o Outro e com os
outros, unidos e diferenciados, é o que chamamos de ‘Igreja’.
A ausência desta consciência de ser em comunhão, unidos a
tudo e a todos, é o que chamamos de ‘mundo’: o mundo totalitário, que em nome
do Um ou do único, abole as diferenças e as liberdades; o mundo individualista
que, em nome da diferença, fecha-se em seus particularismos e nega a união e a
interdependência entre todos.
Infelizmente, esses dois mundos, como sabemos, são ‘invisíveis’.
A Igreja é o mundo que tenta, através da consciência e do amor, ser ‘viável’”.
LELOUP, Jean-Yves. Sabedoria do Monte Athos. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2012.
sábado, setembro 08, 2012
Peter Singer - A Atualidade de "Libertação Animal"
O que dizer de uma obra lançada em 1975 e que mantém válidos seus postulados essenciais? Este é o caso de "Libertação Animal", livro escrito pelo professor australiano de bioética Peter Singer. Se hoje em dia muita gente adotou o vegetarianismo integral, uma versão parcial dele ou, simplesmente, absteve-se de uma alimentação à base de produtos processados em instalações da indústria de corte ou latícinios que maltratem os animais, isto se deve ao trabalho pioneiro do Sr. Singer, sem sombra de dúvida. Estamos no século XXI e ainda hoje em dia milhões de pessoas ingerem carne ou produtos de origem animal desconhecendo como são obtidos e a maneira como são tratados os animais em seus criadouros (confinados em baias diminutas que não lhes permite movimentos básicos como virar-se, levantar-se, deitar-se, limpar-se, esticar-se ou simplesmente dar vazão a seus instintos), abatidos (com métodos intensamente dolorosos ou às vezes brutais como aqueles preconizados pelo judaísmo ou islamismo ortodoxos) e processada sua carne (por exemplo, montando-se embalagens com os membros que restaram de frangos despeçados por bicadas de seus congêneres em compartimentos de engorda com tamanho muito aquém do ideal). Por mais incrível que pareça, crianças são "doutrinadas" desde que nascem a comer carne, sendo levadas a crer piamente que um bife nada mais é que uma suculenta peça (talvez como um "donuts" que provém não se sabe de onde) e bois, bezerrinhos e vacas pastam divertidamente nas pradarias (como naquela joguinho "Fazenda Feliz" do Orkut). Para completar o "cardápio" é incutida nos pimpolhos a indiscutível "verdade" de que uma dieta que subtraia carne, ovos, leite e seus derivados de sua mesa é potencialmente mortal em virtude de sua carência proteíca.
Transcorridos 37 anos de sua primeira formulação, os argumentos apresentados por Singer em sua obra seminal permanecem atuais, tendo recebido ao longo de sucessivas edições alguns retoques nas cifras envolvidas no cômputo de atrocidades cometidas em fazendas industriais ou, então, nos resultados nefastos da produção de carne, ovos e leite para consumo humano sobre o meio ambiente. Além disso, graças à atuação de Organizações Não-Governamentais (um dos exemplos é a PETA ou "People for The Ethical Treatment of Animals"), dispendiosas e inúteis pesquisas com "cobaias" (cães, gatos, hamsters, pássaros, guaxanins e até elefantes) têm sido submetidas a controle mais rigoroso, ao menos em alguns países centrais.
A linha de discussão do livro como um todo gira em torno da tese central desenvolvida em seu primeiro primeiro capítulo de "não existe uma razão obrigatória, do ponto de vista lógico, para pressupor que uma diferença factual de capacidade entre duas pessoas justifique diferenças na consideração que damos a suas necessidades e a seus interesses. O princípio da igualdade dos seres humanos não é a descrição de uma suposta suposta igualdade de fato existente entre seres humanos: é a prescrição de como devemos tratar os seres humanos".
Tomando como linha de base as conhecidas justificativas do racismo e do "sexismo" (a notória inclinação humana a conceder privilégios a determinado sexo, em detrimento de outro), Singer chamou então de "especismo" o "preconceito ou atitude tendenciosa de alguém a favor dos interesses de membros da própria espécie, contra os de outras".
Esta abordagem o conduz à fórmula que o filósofo utilitarista do século XVIII Jeremy Bentham incorporou a seu peculiar sistema ético, ou "cada um conta como um e ninguém como mais de um", o que equivale a dizer que os interesses de cada ser que é afetado por uma ação devem ser levados em conta, recebendo o mesmo peso que interesses semelhantes de qualquer outro ser. Outro utilitarista, Henry Sidgwick viria a expressar a mesma idéia como se "o bem de qualquer indíviduo não tivesse importância maior, do ponto de vsita (se assim se pode dizer) do Universo, do que o bem de qualquer outro".
Para Singer, "uma das implicações desse princípio de igualdade é que nosso interesse pelos outros e nossa prontidão em considerar seus interesses não devem depender a aparência ou das capacidades que possam ter". Retomando Bentham, trata-se precisamente da "capacidade de sofrer como a característica vital que confere a um ser o direito a igual consideração". E os animais sofrem, e muito, o que é demonstrado por sinais externos comuns ao ser humano (gritos, contorções, espasmos, diarréia e movimentos involuntários de terror no movimento do abate) como pela comprovação de que as características de seu sistema nervoso são bem parecidas com as nossas. Este raciocínio vale tanto para mamíferos (os porcos, por exemplo, são tão ou mais inteligentes que os cães) como para pássaros, peixes ou até mesmo ostras e mexilhões. Os peixes e répteis, contrariando o senso comum e as "lendas de pescadores" têm praticamente o mesmo comportamento dos mamíferos no momento da dor. Embora possuindo o sistema nervoso diferente, compartilham sua estrutura básica das vias nervosas centrais, inclusive possuindo vocalização, não audível para ouvidos humanos.
Para evitar o especismo, então, é necessário "admitir que seres semelhantes, em todos os aspectos relevantes, tenham direito semelhante à vida. O fato de um ser pertencer à nossa espécie biológica não pode constituir um critério moralmente relevante para que ele tenha esse direito. Isto, entretanto, não elimina a questão de que todas as vidas tenham igual valor. Há uma nítida distinção colocada por Singer entre "não infligir dor aos seres" e "tirar suas vidas". São questões bem diferentes, até certo ponto. Embora uma perpectiva humanista tenha de ser calcada na minimização do sofrimento imposto aos animais (regulamentando seu uso em pesquisas científicas, criando condições menos penosas para o abate e confinamento etc), isto não significa que uma decisão do tipo "quem deve viver" seja tomada em termos simplistas. Singer conclui que "a rejeição do especismo não implica que todas as vidas tenham igual valor. Embora a autoconsciência, a capacidade de pensar o futuro e de ter esperanças e aspirações, bem como a de estabelecer relações significativas com os outros, e assim por diante, não sejam relevantes para a questão de infligir dor - uma vez que a dor é dor, sejam quais forem as demais capacidades que o ser tenha, além daquela de sofrer -, essas capacidades são relevantes para a questão de tirar a vida. Não é uma arbitrariedade afirmar que a vida de um ser autoconsciente, capaz de pensamento abstrato, de planejar o futuro, de ações complexas de comunicação e assim por diante, é mais valiosa do que a vida de um ser que não possua essas capacidades".
Como um todo, o trabalho de Peter Singer ainda se constitui em um manancial inesgotável de questionamentos filosóficos. Acrescido de substancial aporte empírico relativo aos experimentos de laboratório envolvendo animais nos campos da psicologia, medicina, veterinária, indústria militar e testes de produtos (sobretudo dermatológicos) e das reais condições de vida dos animais na indústria de processamento de carnes, ovos e laticínios; sua leitura é essencial. Enquanto incentivo às práticas vegetarianas - em uma escala que vai da simples rejeição da produtos animais obtidos por meios cruéis até a plena abstenção seus derivados - ainda é positivamente recomendável, sobretudo porque em muitos países - não só da periferia, mas do primeiro mundo "desenvolvido" - insiste-se em tratar animais como meras coisas ("autômatos" como diria Déscartes) à mercê dos caprichos humanos. Da mesmíssima forma como, vergonhosamente, abusava-se dos escravos em passado não tão longínquo.
SINGER, Peter. Libertação animal. O clássico definitivo sobre o movimento pelos direitos dos animais. São Paulo: Ed. WMF Martins Fontes, 2010. 461 pp.
Jeremy Bentham sobre a Escravidão Animal
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Jeremy Bentham, filósofo e jurista inglês (1748-1832) |
"Talvez
chegue o dia em que o restante da criação animal venha a adquirir
os direitos que jamais poderiam ter-lhe sido negados, a não ser pela
mão da tirania. Os franceses já descobriram que o escuro da pele
não é razão para que um ser humano seja irremediavelmente
abandonado aos caprichos de um torturador. É possível que um dia se
reconheça que o número de pernas, a vilosidade da pele ou a
terminação do osso sacro são motivos insuficientes para abandonar
um ser senciente ao mesmo destino. O que mais deveria traçar a linha
intransponível? A faculdade da razão, ou, talvez, a capacidade de
linguagem? Mas um cavalo ou um cão adultos são incomparavelmente
mais racionais e comunicativos do que um bebê de um dia, de uma
semana, ou até mesmo de um mês. Supondo, porém, que as coisas não
fossem assim, que importância teria tal fato? A questão não é
"Eles são capazes de raciocinar? , nem "São capazes de
falar"?, mas sim: "Eles são capazes de sofrer"?
sexta-feira, setembro 07, 2012
Colombiano faz 10 exorcismos por semana há 25 anos
Globo.com
07/09/2012 11h59 - Atualizado em 07/09/2012 11h59
Colombiano faz 10 exorcismos por
semana há 25 anos
Interessados deitam sobre círculo no solo entre cruzes e fogo.
Hermes Cifuentes diz que já praticou ritual 35 mil vezes.
Do G1, com agências internacionais
4 comentários
O colombiano Hermes Cifuentes, 50, afirma que faz dez exorcismos por semana há 25 anos, contabilizando 35 mil rituais.
Os interessados são submetidos à sessão de branco e pintados de preto. Eles deitam sobre um círculo no solo entre cruzes e fogo.
terça-feira, agosto 28, 2012
Sobre a Resenha "Ectoplasma - Descobertas de um Médico Psiquiatra"
Meus amigos. Quanto à breve resenha
(apresentada logo abaixo) do livro "Ectoplasma - descobertas de um
médico psiquiatra" convém tecer algumas considerações. Embora utilize termos espíritas e não teosóficos,
achei realmente admirável a forma lógica e até convincente com que ele
desenvolve o tema. Eu realmente desejava estudar um pouco mais a idéia que os
espíritas fazem do "ectoplasma". Me parece mais uma apropriação do
fluído etérico pelos "cascões" ou outras classes de habitantes do mundo
astral e a literatura e a prática tem mostrado muitos casos de
materialização desta espécie.
O que mais chamou atenção foi o enfoque
"bioquímico" do autor e o papel que ele atribui ao fígado como produtor
de ectoplasma no quadro de uma "síndrome ectoplasmática". Há inclusive
indicações de substâncias à base das vitaminas do "Complexo B" e que
estimulem as secreções de bílis além, é claro, de alimentos mais
saudáveis. Há
algum tempo comecei a prestar atenção em algumas situações que eu
chamaria de "mediunidade induzida", produzida ao que parece pelo contato de indíviduos "não médiuns" com "médiuns" nas adjacências (oa distâncias menores que um metro). Aos poucos via o grupo introduzido entre os "médiuns" desenvolver habilidades tipicamente descritas como "mediúnicas" pela literatura kardecista, o que de fato me intrigava. Uma hipótese provável era a que tornar-se uma marionete sem vontade de seres desconhecidos desconhecidos (algumas vezes criminosos ou de péssima índole) do plano astral era uma possibilidade prática e terrível.
O que mais me espicaçava a
curiosidade era uma certa impressão de entupimento das vias nasais e uma
secreção seca vertida através dela e perceptível na criança. A isto se
seguiam percepções inusitadas e principalmente uma ocorrência muito
comum que são as visões naquele estágio intermediário entre o sono e o
despertar que afetam algumas pessoas.
Estas
consequências coincidem com aqueles sintomas que o autor informa, entre
eles, dores de cabeça, depressão, sensação de peso nos pés, ventre
cheio etc. Embora o livro descambe no final para a defesa da
mediunidade, no final das contas ele acaba sendo um libelo contra esta
mal que a teosofia há anos detectou.
Por outro lado, mostra que o
"ectoplasma" (ou o que os teósofos
devem compreender como tal), como algo material, pode ter seus níveis
reduzidos no ser humano e, consequentemente, atenuar-se as desagradáveis
circunstâncias envolvidas nas manifestações mediúnicas.
segunda-feira, agosto 27, 2012
Ectoplasma – Descobertas de um Médico Psiquiatra
O mercado editorial
brasileiro de esoterismo e ocultismo encontra-se muito bem servido
com o livro “Ectoplasma – descobertas de um médico psiquiatra”,
publicado pela Editora Conhecimento em 2008. Frutos de intensa
experiência clínica do Dr. Luciano Munari, as pesquisas e hipóteses
trazidas à baila na obra são estimulantes para o estudioso do
oculto, embora o próprio autor abrace claramente o espiritismo
kardecista como se deduz do seu “ferramental” conceitual. A feliz
coincidência dos objetivos dos militantes espiritas – calcados na
caridade e na assistência ao próximo – e a ambição nitidamente
ocultista de conhecer a fundo os fenômenos não explicados da
natureza realizaram bodas felizes nesta ocasião, sendo conveniente
anunciar a “boa nova” (nem tão nova assim mas cuja qualidade só agora se percebeu) aqui neste blog.
O raciocínio
do Dr. Munari desenvolve-se com peculiar elegância e sem afetação desnecessária de estilo em torno do caráter do “ectoplasma”(de “ektos”, fora e
“plasma”, formação) segundo a doutrina espírita. Desfia sucintamente o histórico
dos casos de materialização no mundo e no Brasil, papel cumprido
pelo ecotoplasma enquanto fluído vital - por meio do qual se
manifestavam “aparições”-; sua bioquímica e vinculação com doenças psicossomáticas e, como corolário, sua “fabricação”
indevida no organismo - o que possibilita inorportuno manuseio por formas
desencarnadas ou “presenças do passado” que desejam se vingar do
indivíduo vivo como ajuste de "contas cármicas" de vidas anteriores.
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Ectoplasma partindo da médium |
Já o famoso
criminologista italiano e tardio prócer do espiritismo, Cesare
Lombroso, considerava o ectoplasma como um tipo de substância ou
protoplasma gelatinoso, inicialmente amorfo, que saía do medium e
tomava forma mais tarde. A análise de diversos autores e a
experiência e as demonstrações em centenas de sessões espiritas
demonstrava que esta substância saía pelos orifícios humanos e um
caso tornado célebre fora analisado pelo próprio Lombroso em sua
“opus magna”, “Hipnotismo e Mediunidade: o da médium italiana
Eusápia Paladino. O ectoplasma era visto, enfim, como substância
manipulada por espíritos, geralmente inodora, frio, húmido, por
vezes vezes viscoso e semilíquido, raramente apresentando-se seco e
duro e neste estado formando cordões fibrosos e nodosos de modo a
dilatar-se e expandir-se como uma “teia de aranha”.
Em
sua vida como profissional o Dr. Munari testemunhou que vários
pacientes exibiam quadros de transtorno de somatização como
“nós na garganta”, que se davam em situações de tensão
emocional. Outros sintomas recorrentes eram tonturas, angústias no peito, falta
de ar súbita (com sensação de sufoco), dores articulares ou
generalizadas além de sensação de peso nos ombros e nas
panturrilhas e também era dores de cabeça, embaçamento visual,
náuseas ou dor abdominal. Observando a caso da paciente que apelidou
de "Senhora Gioconda", o médico decidiu em certo momento abandonar sua renitente postura
ortodoxa, realizando um curso de terapia passada em que, pela
primeira vez, tomou contato com a ideia das chamadas “presenças
do passado”, as quais poderiam manipular os ectoplasma e produzir
diversos síntomas. Diz então que:
“O
que seria esse tal de ectoplasma? Uma substância semi
material/semi-espiritual que, portanto, permeia tanto o mundo
material como mundo espiritual; faz a ponte entre os dois mundos. È
ele que permite a atuação dos espíritos sobre o mundo físico. Ele
é a substância de que eles os espíritos se utilizam para
impressionar o mundo físico e causar, por exemplo, os fenômenos de
poltergeist, ou de materialização”
Ao aproximar-se de conhecido médium e espírita, o Sr. Manoel Saad e ao utilizar com mais intensidade a técnica de regressão, tornou-se paulatinamente evidente para nosso autor que “uma gama enorme de sintomas físicos era decorrente da ação espiritual sobre o corpo físico. Eram os mais variados sintomas: dores nas diversas partes do corpo, falta de ar, palpitações, ou mesmo sintomas que eu associava a uma doença orgânica, como por exemplo as dores articulares da jcitada artrite reumatóide”. A mais clássica dor era aquela que afetava a região da cabeça, mas havia inúmeras outras, como já mencionamos.
Neste
ponto, aliando novas teorias à constatação clínica, Munari cunha o
termo “Síndrome Ectoplasmática” para dar conta deste espectro de sinais e sintomas que englobaria até mesmo a síndrome de tensão pré-menstrual. A produção de
ectoplasma parecia, a princípio, ligada à ingestão de
carboidratos, principalmente vinculada à alimentação artificial
(refrigerantes, enlatados, alimentos benefeciados ou “refinados”,
dieta carnívora etc). Ao voltar-se para a literatura de medicina
ortomolecular, notou a correlação entre a
deficiência de vitaminas do
complexo B e a população que se alimenta de produtos
artificiais ou industrializados, deduzindo que, de certa maneira, a
produção excessiva de ectoplasma poderia estar associada
deficiência de vitaminas desta classe, obtendo resultados palpáveis
ao usar megadoses deste complexo vitamínico em pacientes. Outra
constação do Dr. Munari foi de que muitos pacientes com quadro
depressivo apresentavam a síndrome ectoplasmática.
Como
consequência do relativo êxito na comprovação destas hipóteses,
passou a tomar força para o autor a tese de que o órgão-chave
do ectoplasma talvez fosse o fígado, responsável pela oxidação
existente no corpo, pela síntese proteica (albumina), lipídica
(e o responsável pela produção de 70% do colesterol circulante no
sangue) e metabolização e desintoxicação de substâncias, como,
por exemplo, os medicamentos. A água, veículo portador de fluidos
etéricos que vitalizam o corpo segundo a medicina antroposófica
talvez tivesse também alguma correlação com o ectoplasma, sendo
notável que muitos depressivos exibissem ingestão reduzida de água.
Assim, escreve Munari:
“Evidências empurravam para se pensar no fígado. Decidi, então, baseado no pensamento de que hnum fígado preguiçoso nos portadores da síndrome ectoplasmática, utilizar medicamentos que pudessem estimular suas funções, quer fossem da antroposofia ou da halopatia. Utilizei medicamentos chamados de coleréticos e colagogos (eles estimulam a produção de bile pelo figado, assim como sua secreção pela vesícula biliar que onde fica armazenada para do duodeno), e observei uma diminuição nas queixas sintomáticas: o paciente sentia-se mais “leve”. Estavam então formadas associações entre síndrome ectoplasmática, trantorno de somatização, depressão, síndrome da tensão pré-menstrual e insuficência funcional hepática”.
O
fígado assume a condição ímpar de “grande usina de fabricação”
do ectoplasma. Munari explica esta “dinâmica ectoplasmática” ao
longo do trajeto de produção desta misteriosa substância. Em
termos simples, os alimentos provenientes de diversos reinos da
natureza (mineral, vegetal ou animal) portam qualidades diferentes de
ectoplasma, que passa ser aproveitado no reino “hominal” quando é
“humanizado” ou transformado por algum órgão do
corpo, a fim de que seja utilizado pelos espíritos como no fenômeno
de poltergeist que depende de “doador” ou epicentro para ocorrer.
Faz-se necessário para que algo desta magnitude se dê que esteja
presente no ser humano um tipo mais “refinado” de ectoplasma do
que o encontrado de forma bruta nos alimentos, ou na natureza.
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Presenças do passado podem estar manipulando depósitos de ectoplasma. |
A
produção de ectoplasma pode ser normal ou não. Do grau de
“normalidade” neste processo - como descrito pelo autor - depende a
intensidade da “síndrome ectoplasmática” ou mesmo a sua
manifestação. Estes níveis de produção normal de ectoplasma
ocorrem quando há nutrição celular adequada em termos de micro e
macronutrientes, registrando-se ausência de fatores intervenientes
no metabolismo da glicose para gerar o ATP. Pelo contrário, se há
deficiência qualitativa e quantitativa de nutrientes para a formação
do ATP (ou presença de produtos tóxicos) produzir-se-ia “um
desvio para uma via ectoplasmática que levaria a uma produção
anormal, podendo chegar a nível prejudicial”.
Mas
como se observa a ocorrência da “síndrome ectoplasmática” no
cotidiano? Ela é mais comum do que se pensa, podendo-se associá-la
a determinados tipos de indivíduos segundo o local em que se
deposita o ecotoplasma no corpo humano. Como veremos logo adiante,
a maneira como este ectoplasma é conduzido e direcionado para
determinada parte do organismo físico do homem depende da influência
das denominadas “presenças do passado” e da qualidade de nossas vibrações pois a atuação destas “presenças” é influenciada
sobremodo pela raiva ou emoções negativas.
Com
efeito, Munari acentua que existe no homem um “(...)
corpo espiritual que
sobrevive à morte do corpo físico, e é nele que ficam registradas
nossas vidas passadas. Como tivemos vários experiências, e nelas
podemos ter apresentadas lesões físicas (Por exemplo, a enxaqueca
ou um traumatismo craniano), estas ficam registradas no corpo
espiritual. É o que chamamos “cicatrizes do corpo espiritual”.
Justamente nestas cicatrizes concentra-se o ectoplasma,
retransmitindo lesões do passado para o corpo físico ao fazer a
ligação deste como “corpo espiritual”, isto é, “reativa-se
a dor do traumatismo de uma existência pretérita”.
Construída
por Munari, a tabela seguinte relaciona os subtipos de ectoplasma ao
tipo de temperamento do homem, elemento predominante, órgão chave e
níveis de densidade.
Subtipo de Ectoplasma
|
Tipo de Temperamento
|
Elemento
|
Órgão Chave
|
Densidade de Ectoplasma
|
Craniano
|
Colérico
|
Fogo
|
Coraçao
|
Aérea
|
Torácico
|
Sanguíneo
|
Ar
|
Rins
|
Líquida
|
Gastrintestinal
|
Melancólico
|
Água
|
Fígado
|
Muscular
|
Sural
|
Fleumático
|
Terra
|
Pulmões
|
Óssea
|
Em
síntese pode-se assim definir os termos constantes do quadro:
A) Subtipos de Ecotoplasma quanto à localização
- Craniano – expressões alérgicas no revestimento nasal e oral e na trompa de Estáquio (o canal que comunica a garganta com o ouvido medido) e no ouvido médio. Favorece fenômenos como rinites, sinusites, otires e laringite e também a alergia do conduto auditivo externo.-
- Torácico – expressão do ectoplasma ocorre como se fosse algo que “sobe”, como uma onda que se origina na região entre o abdome e o tórax e segue ascendente para a cabeça; contudo, localiza-se em nível cardíaco, levando a uma dor opressiva, constritiva, e às vezes até com caráter “esmagante”.
- Gastrintestinal – costuma causar impressão de abdome distendido entre outros sintomas (gases etc).
- Sural – depósito de ectoplasma ocorre mais na região sural, que nada mais é senão que a região das panturrilhas (batatas da perna)
B)
Classificação baseada na maior ou menor afinidade do ectoplasma
por áreas de maior ou menor densidade orgânica
- Aérea – sensação de falta de ar e/ou nó ou bola na garganta, dando impressão de asfixia
- Líquida – deposita-se no líquido sinovial (líquido entre as articulações), causando dores articulares ou próximo a estas, sem sinais inflamatórios,(fibromialgia). Pode também depositar-se no sangue, acometendo órgãos mais sensíveis como o labirinto.
- Muscular/parenquitomosa : deposição nas “batatas da perna”.
- Óssea – mais rara, ocasionando as dores do crescimento nas crianças, ou dores de friagem nos idosos.
C) Classificação quanto aos Tipos de Temperamentos
- Colérico - comportamento enérgico,
- Sanguíneo - pessoa alegre, não se atêm a determinado fim;]
- Melancólico – indivíduo de ar tristonho e cansado, tendendo revolver o passado (preocupado e negativista).
- Fleumático - indivíduos “lentificados”, possuem forma facial arrendonda, ou “duplo queixo”; com olhar alegre e simpático. Apreciam o bom paladar e desfrutam com enorme satisfação da alimentação.
Do
ponto de vista da interação dos sintomas da “síndrome
ectoplasmática”, verifica-se que a concentração de ectoplasma em
determinado órgão ou área do organismo depende da convergência de
fatores como:
- Ingestão de alimentos com maior quantidade de ectoplasma;
- Tipo de alimentação que produziria maior ou menor quantidade de ectoplasma;
- “Leveza/peso” do ectoplasma;
- Sua afinidade por locais de maior ou menor densidade;
- Cicatrizes espirituais;
- Atuação de “presenças” espirituais, manipulando o ectoplasma para concentrá-lo em determinada cicatriz espiritual.
O
ponto “f” é de suma importância neste elenco de fatores. O
ecotoplasma pode ser compreendido como “matéria-prima” da
síndrome, ao passo que as “'presenças' são a 'mão-de-obra' a
trabalhar para a construção do sintoma num ambiente propício – a
cicatriz espiritual”. O fator desencadeante destes “males”
está vinculado a um profundo desequilíbrio entre o “pensar e
agir” na pessoa que é afetada por entidades deste tipo, possuindo
vínculos estreitos com a idéia da mediunidade do paciente que
recebe os efeitos da atuação destas “presenças” devido a seu
mal uso ou desconhecimento de suas leis de atuação.
Tomando
a analogia com aparelho de TV, o autor chega a advertir-nos ser preciso, portanto, evitar uma mesma “freqüência no modo de
pensar e sentir e que se assemelha ao das “presenças” (que
cobram do desafeto encarnado a ação errônea por ele cometida)”.
Este é um caminho básico para evitar-se a contaminação pela "doença". Mas há outros
abertos a quem humildemente progrida na senda individualíssima da
espiritualidade.
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