Gurdjieff

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quinta-feira, dezembro 06, 2012

A Queda - Albert Camus

Lendo aos 40 anos a obra "A Queda" de Albert Camus me dei conta, repentinamente, da grandiosidade do autor, traduzida em sua habilidosa forma de captar o elevado conceito que o indivíduo da espécie humana forma de si mesmo. É como se eu me visse retratado no seu mundo interior, com as mesmas aflições, sofrimentos, angústias e aquela típica inclinação terráquea de se enxergar bem no íntimo como superior ao outro, um pequenino Deus separado do restante da humanidade. Creio que qualquer pessoa experimentaria impressão análoga lendo os seus livros, o que torna a sua obra realmente universal. Há uns vinte e tantos anos atrás achei o mesmo livro tedioso.

"Mais voilá, j'étais du bon côté, cela suffisait à la paix de ma conscience. Le sentiment du droit, la satisfaction d'avoir raison, la joie de s'estimer soi-même, cher monsieur, sont de ressorts puissants pour nous tenir debout ou nous faire avancer. Au contraire, si vous en privez les hommes, vous les transformez en chiens écumants. Combien de crimes commis simplesmente parce que leur auter ne pouvait supporter d´être en faute!"

 

quinta-feira, novembro 22, 2012

Jean Yves Leloup - O Significado de "Igreja"



“A igreja supõe a comunhão das pessoas entre elas e a comunhão com aquilo que as transcende.
Quando o ser humano, através da consciência de si mesmo, para de se apropriar, ou seja, de fragmentar a vida, ele descobre sua unidade com todos os outros. Não se trata de uma simples similaridade de condições, mas de uma unidade ontológica de todos os homens, nós somos ‘consubstanciais uns com os outros’.
O ser humano que tem consciência de si mesmo não se apega à sua própria vontade, ao seu bem particular, ele tem tendência a fazer apenas um com a Vida que se dá. Dessa maneira, ele não existe mais apenas para si mesmo, ele concretiza tanto a unidade com o outro quanto a sua perfeita indiferença.
A consciência de ser ‘Eu Sou’ não é apenas ‘consciência do Self’, mas consciência da comunhão, consciência de ser ‘Eu sou com’.
Essa consciência de ser em comunhão com o Outro e com os outros, unidos e diferenciados, é o que chamamos de ‘Igreja’.
A ausência desta consciência de ser em comunhão, unidos a tudo e a todos, é o que chamamos de ‘mundo’: o mundo totalitário, que em nome do Um ou do único, abole as diferenças e as liberdades; o mundo individualista que, em nome da diferença, fecha-se em seus particularismos e nega a união e a interdependência entre todos.
Infelizmente, esses dois mundos, como sabemos, são ‘invisíveis’. A Igreja é o mundo que tenta, através da consciência e do amor, ser ‘viável’”.

LELOUP, Jean-Yves. Sabedoria do Monte Athos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

sábado, setembro 08, 2012

Peter Singer - A Atualidade de "Libertação Animal"

O que dizer de uma obra lançada em 1975 e que mantém válidos seus postulados essenciais? Este é o caso de "Libertação Animal", livro escrito pelo professor australiano de bioética Peter Singer. Se hoje em dia muita gente adotou o vegetarianismo integral, uma versão parcial dele ou, simplesmente, absteve-se de uma alimentação à base de produtos processados em instalações da indústria de corte ou latícinios que maltratem os animais, isto se deve ao trabalho pioneiro do Sr. Singer, sem sombra de dúvida. Estamos no século XXI e ainda hoje em dia milhões de pessoas ingerem carne ou produtos de origem animal desconhecendo como são obtidos e a maneira como são tratados os animais em seus criadouros (confinados em baias diminutas que não lhes permite movimentos básicos como virar-se, levantar-se, deitar-se, limpar-se, esticar-se ou simplesmente dar vazão a seus instintos), abatidos (com métodos intensamente dolorosos ou às vezes brutais como aqueles preconizados pelo judaísmo ou islamismo ortodoxos) e processada sua carne (por exemplo, montando-se embalagens com os membros que restaram de frangos despeçados por bicadas de seus congêneres em compartimentos de engorda com tamanho muito aquém do ideal). Por mais incrível que pareça, crianças são "doutrinadas" desde que nascem a comer carne, sendo levadas a crer piamente que um bife nada mais é que uma suculenta peça (talvez como um "donuts" que provém não se sabe de onde) e bois, bezerrinhos e vacas pastam divertidamente nas pradarias (como naquela joguinho "Fazenda Feliz" do Orkut). Para completar o "cardápio" é incutida nos pimpolhos a indiscutível "verdade" de que uma dieta que subtraia carne, ovos, leite e seus derivados de sua mesa é potencialmente mortal em virtude de sua carência proteíca. 
Transcorridos 37 anos de sua primeira formulação, os argumentos apresentados por Singer  em sua obra seminal permanecem atuais, tendo recebido ao longo de sucessivas edições alguns retoques nas cifras envolvidas no cômputo de atrocidades cometidas em fazendas industriais ou, então, nos resultados nefastos da produção de carne, ovos e leite para consumo humano sobre o meio ambiente. Além disso, graças à atuação de Organizações Não-Governamentais (um dos exemplos é a PETA ou "People for The Ethical Treatment of Animals"), dispendiosas e inúteis pesquisas com "cobaias" (cães, gatos, hamsters, pássaros, guaxanins e até elefantes) têm sido submetidas a controle mais rigoroso, ao menos em alguns países centrais.
A linha de discussão do livro como um todo gira em torno da tese central desenvolvida em seu primeiro primeiro capítulo de "não existe uma razão obrigatória, do ponto de vista lógico, para pressupor que uma diferença factual de capacidade entre duas pessoas justifique diferenças na consideração que damos a suas necessidades e a seus interesses. O princípio da igualdade dos seres humanos não é a descrição de uma suposta suposta igualdade de fato existente entre seres humanos: é a prescrição de como devemos tratar os seres humanos".
Tomando como linha de base as conhecidas justificativas do racismo e do "sexismo" (a notória inclinação humana a conceder privilégios a determinado sexo, em detrimento de outro), Singer chamou então de "especismo" o "preconceito ou atitude tendenciosa de alguém a favor dos interesses de membros da própria espécie, contra os de outras".
Esta abordagem o conduz à fórmula que o filósofo utilitarista do século XVIII Jeremy Bentham incorporou a seu peculiar sistema ético, ou "cada um conta como um e ninguém como mais de um", o que equivale a dizer que os interesses de cada ser que é afetado por uma ação devem ser levados em conta, recebendo o mesmo peso que interesses semelhantes de qualquer outro ser. Outro utilitarista, Henry Sidgwick viria a expressar a mesma idéia como se "o bem de qualquer indíviduo não tivesse importância maior, do ponto de vsita (se assim se pode dizer) do Universo, do que o bem de qualquer outro".
Para Singer, "uma das implicações desse princípio de igualdade é que nosso interesse pelos outros e nossa prontidão em considerar seus interesses não devem depender a aparência ou das capacidades que possam ter". Retomando Bentham, trata-se precisamente da "capacidade de sofrer como a característica vital que confere a um ser o direito a igual consideração". E os animais sofrem, e muito, o que é demonstrado por sinais externos comuns ao ser humano (gritos, contorções, espasmos, diarréia e movimentos involuntários de terror no movimento do abate) como pela comprovação de que as características de seu sistema nervoso são bem parecidas com as nossas. Este raciocínio vale tanto para mamíferos (os porcos, por exemplo, são tão ou mais inteligentes que os cães) como para pássaros, peixes ou até mesmo ostras e mexilhões. Os peixes e répteis, contrariando o senso comum e as "lendas de pescadores" têm praticamente o mesmo comportamento dos mamíferos no momento da dor. Embora possuindo o sistema nervoso diferente, compartilham sua estrutura básica das vias nervosas centrais, inclusive possuindo vocalização, não audível para ouvidos humanos.
Para evitar o especismo, então, é necessário "admitir que seres semelhantes, em todos os aspectos relevantes, tenham direito semelhante à vida. O fato de um ser pertencer à nossa espécie biológica não pode constituir um critério moralmente relevante para que ele tenha esse direito. Isto, entretanto, não elimina a questão de que todas as vidas tenham igual valor. Há uma nítida distinção colocada por Singer entre "não infligir dor aos seres" e "tirar suas vidas". São questões bem diferentes, até certo ponto. Embora uma perpectiva humanista tenha de ser calcada na minimização do sofrimento imposto aos animais (regulamentando seu uso em pesquisas científicas, criando condições menos penosas para o abate e confinamento etc), isto não significa que uma decisão do tipo "quem deve viver" seja tomada em termos simplistas. Singer conclui que "a rejeição do especismo não implica que todas as vidas tenham igual valor. Embora a autoconsciência, a capacidade de pensar o futuro e de ter esperanças e aspirações, bem como a de estabelecer relações significativas com os outros, e assim por diante, não sejam relevantes para a questão de infligir dor - uma vez que a dor é dor, sejam quais forem as demais capacidades que o ser tenha, além daquela de sofrer -, essas capacidades são relevantes para a questão de tirar a vida. Não é uma arbitrariedade afirmar que a vida de um ser autoconsciente, capaz de pensamento abstrato, de planejar o futuro, de ações complexas de comunicação e assim por diante, é mais valiosa do que a vida de um ser que não possua essas capacidades".
Como um todo, o trabalho de Peter Singer ainda se constitui em um manancial inesgotável de questionamentos filosóficos. Acrescido de substancial aporte empírico relativo aos experimentos de laboratório envolvendo animais nos campos da psicologia, medicina, veterinária, indústria militar e testes de produtos (sobretudo dermatológicos) e das reais condições de vida dos animais na indústria de processamento de carnes, ovos e laticínios; sua leitura é essencial. Enquanto incentivo às práticas vegetarianas  - em uma escala que vai da simples rejeição da produtos animais obtidos por meios cruéis até a plena abstenção seus derivados - ainda é positivamente recomendável, sobretudo porque em muitos países - não só da periferia, mas do primeiro mundo "desenvolvido" - insiste-se em tratar animais como meras coisas ("autômatos" como diria Déscartes) à mercê dos caprichos humanos. Da mesmíssima forma como, vergonhosamente, abusava-se dos escravos em passado não tão longínquo.

SINGER, Peter. Libertação animal. O clássico definitivo sobre o movimento pelos direitos dos animais. São Paulo: Ed. WMF Martins Fontes, 2010. 461 pp.



Jeremy Bentham sobre a Escravidão Animal

Jeremy Bentham, filósofo e jurista inglês (1748-1832)


"Talvez chegue o dia em que o restante da criação animal venha a adquirir os direitos que jamais poderiam ter-lhe sido negados, a não ser pela mão da tirania. Os franceses já descobriram que o escuro da pele não é razão para que um ser humano seja irremediavelmente abandonado aos caprichos de um torturador. É possível que um dia se reconheça que o número de pernas, a vilosidade da pele ou a terminação do osso sacro são motivos insuficientes para abandonar um ser senciente ao mesmo destino. O que mais deveria traçar a linha intransponível? A faculdade da razão, ou, talvez, a capacidade de linguagem? Mas um cavalo ou um cão adultos são incomparavelmente mais racionais e comunicativos do que um bebê de um dia, de uma semana, ou até mesmo de um mês. Supondo, porém, que as coisas não fossem assim, que importância teria tal fato? A questão não é "Eles são capazes de raciocinar? , nem "São capazes de falar"?, mas sim: "Eles são capazes de sofrer"?

sexta-feira, setembro 07, 2012

Colombiano faz 10 exorcismos por semana há 25 anos


Globo.com

07/09/2012 11h59 - Atualizado em 07/09/2012 11h59

Colombiano faz 10 exorcismos por 



semana há 25 anos



Interessados deitam sobre círculo no solo entre cruzes e fogo.
Hermes Cifuentes diz que já praticou ritual 35 mil vezes.

Do G1, com agências internacionais
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Colombiano Hermes Cifuentes pratica exorcismo em Marleny Munoz, 55 (Foto: Reuters)Colombiano Hermes Cifuentes pratica exorcismo em Marleny Munoz, 55, nesta sexta-feira (7) (Foto: Reuters)
O colombiano Hermes Cifuentes, 50, afirma que faz dez exorcismos por semana há 25 anos, contabilizando 35 mil rituais.
Os interessados são submetidos à sessão de branco e pintados de preto. Eles deitam sobre um círculo no solo entre cruzes e fogo.
Gisela Marulanda, 23, que diz estar possuída, participa de ritual encabeçado por Hermes Cifuentes (Foto: Reuters)Gisela Marulanda, 23, que diz estar possuída, participa de ritual encabeçado por Hermes Cifuentes em La Cumbre, Valle, nesta quarta-feira (5) (Foto: Reuters)
Hermes Cifuentes, o 'Irmão Hermes' pratica exorcismo em Gisela Marulanda, 23 (Foto: Reuters)Hermes Cifuentes, o 'Irmão Hermes' pratica exorcismo em Gisela Marulanda, 23, em La Cumbre nesta quarta-feira (5) (Foto: Reuters)

terça-feira, agosto 28, 2012

Sobre a Resenha "Ectoplasma - Descobertas de um Médico Psiquiatra"

Meus amigos. Quanto à breve resenha (apresentada logo abaixo) do livro "Ectoplasma - descobertas de um médico psiquiatra" convém tecer algumas considerações. Embora utilize termos espíritas e não teosóficos, achei realmente admirável a forma lógica e até convincente com que ele desenvolve o tema. Eu realmente desejava estudar um pouco mais a idéia que os espíritas fazem do "ectoplasma". Me parece mais uma apropriação do fluído etérico pelos "cascões" ou outras classes de habitantes do mundo astral e a literatura e a prática tem mostrado muitos casos de materialização desta espécie. 

O que mais chamou atenção foi o enfoque "bioquímico" do autor e o papel que ele atribui ao fígado como produtor de ectoplasma no quadro de uma "síndrome ectoplasmática". Há inclusive indicações de substâncias à base das vitaminas do "Complexo B" e que estimulem as secreções de bílis além, é claro, de alimentos mais saudáveis. Há algum tempo comecei a prestar atenção em algumas situações que eu chamaria de "mediunidade induzida", produzida ao que parece pelo contato de indíviduos "não médiuns" com "médiuns" nas adjacências (oa distâncias menores que um metro). Aos poucos via o grupo introduzido entre os "médiuns" desenvolver habilidades tipicamente descritas como "mediúnicas" pela literatura kardecista, o que de fato me intrigava. Uma hipótese provável era  a que  tornar-se uma marionete sem vontade de seres desconhecidos desconhecidos (algumas vezes criminosos ou de péssima índole) do plano astral era uma possibilidade prática e terrível.

O que mais me espicaçava a curiosidade era uma certa impressão de entupimento das vias nasais e uma secreção seca vertida através dela e perceptível na criança. A isto se seguiam percepções inusitadas e principalmente uma ocorrência muito comum que são as visões naquele estágio intermediário entre o sono e o despertar que afetam algumas pessoas.

Estas consequências coincidem com aqueles sintomas que o autor informa, entre eles, dores de cabeça, depressão, sensação de peso nos pés, ventre cheio etc. Embora o livro descambe no final para a defesa da mediunidade, no final das contas ele acaba sendo um libelo contra esta mal que a teosofia há anos detectou. 

Por outro lado, mostra que o "ectoplasma" (ou o que os teósofos devem compreender como tal), como algo material, pode ter seus níveis reduzidos no ser humano e, consequentemente, atenuar-se as desagradáveis circunstâncias envolvidas nas manifestações mediúnicas.

segunda-feira, agosto 27, 2012

Ectoplasma – Descobertas de um Médico Psiquiatra


O mercado editorial brasileiro de esoterismo e ocultismo encontra-se muito bem servido com o livro “Ectoplasma – descobertas de um médico psiquiatra”, publicado pela Editora Conhecimento em 2008. Frutos de intensa experiência clínica do Dr. Luciano Munari, as pesquisas e hipóteses trazidas à baila na obra são estimulantes para o estudioso do oculto, embora o próprio autor abrace claramente o espiritismo kardecista como se deduz do seu “ferramental” conceitual. A feliz coincidência dos objetivos dos militantes espiritas – calcados na caridade e na assistência ao próximo – e a ambição nitidamente ocultista de conhecer a fundo os fenômenos não explicados da natureza realizaram bodas felizes nesta ocasião, sendo conveniente anunciar a “boa nova” (nem tão nova assim mas cuja qualidade só agora se percebeu) aqui neste blog.
O raciocínio do Dr. Munari desenvolve-se com peculiar elegância e sem afetação desnecessária de estilo em torno do caráter do “ectoplasma”(de “ektos”, fora e “plasma”, formação) segundo a doutrina espírita. Desfia sucintamente o histórico dos casos de materialização no mundo e no Brasil, papel cumprido pelo ecotoplasma enquanto fluído vital - por meio do qual se manifestavam “aparições”-; sua bioquímica e vinculação com doenças psicossomáticas e, como corolário, sua “fabricação” indevida no organismo - o que possibilita inorportuno manuseio por formas desencarnadas ou “presenças do passado” que desejam se vingar do indivíduo vivo como ajuste de "contas cármicas" de vidas anteriores.
Ectoplasma partindo da médium
Já o famoso criminologista italiano e tardio prócer do espiritismo, Cesare Lombroso, considerava o ectoplasma como um tipo de substância ou protoplasma gelatinoso, inicialmente amorfo, que saía do medium e tomava forma mais tarde. A análise de diversos autores e a experiência e as demonstrações em centenas de sessões espiritas demonstrava que esta substância saía pelos orifícios humanos e um caso tornado célebre fora analisado pelo próprio Lombroso em sua “opus magna”, “Hipnotismo e Mediunidade: o da médium italiana Eusápia Paladino. O ectoplasma era visto, enfim, como substância manipulada por espíritos, geralmente inodora, frio, húmido, por vezes vezes viscoso e semilíquido, raramente apresentando-se seco e duro e neste estado formando cordões fibrosos e nodosos de modo a dilatar-se e expandir-se como uma “teia de aranha”.
Em sua vida como profissional o Dr. Munari testemunhou que vários pacientes exibiam quadros de transtorno de somatização como “nós na garganta”, que se davam em situações de tensão emocional. Outros sintomas  recorrentes eram tonturas, angústias no peito, falta de ar súbita (com sensação de sufoco), dores articulares ou generalizadas além de sensação de peso nos ombros e nas panturrilhas e também era dores de cabeça, embaçamento visual, náuseas ou dor abdominal. Observando a caso da paciente que apelidou de "Senhora Gioconda", o médico decidiu em certo momento abandonar sua renitente postura ortodoxa, realizando um curso de terapia passada em que, pela primeira vez, tomou contato com a ideia das chamadas “presenças do passado”, as quais poderiam manipular os ectoplasma e produzir diversos síntomas. Diz então que:
O que seria esse tal de ectoplasma? Uma substância semi material/semi-espiritual que, portanto, permeia tanto o mundo material como mundo espiritual; faz a ponte entre os dois mundos. È ele que permite a atuação dos espíritos sobre o mundo físico. Ele é a substância de que eles os espíritos se utilizam para impressionar o mundo físico e causar, por exemplo, os fenômenos de poltergeist, ou de materialização

Ao aproximar-se de conhecido médium e espírita, o Sr. Manoel Saad e ao utilizar com mais intensidade a técnica de regressão, tornou-se paulatinamente evidente para nosso autor que “uma gama enorme de sintomas físicos era decorrente da ação espiritual sobre o corpo físico. Eram os mais variados sintomas: dores nas diversas partes do corpo, falta de ar, palpitações, ou mesmo sintomas que eu associava a uma doença orgânica, como por exemplo as dores articulares da jcitada artrite reumatóide”. A mais clássica dor era aquela que afetava a região da cabeça, mas havia inúmeras outras, como já mencionamos.
Neste ponto, aliando novas teorias à constatação clínica, Munari cunha o termo “Síndrome Ectoplasmática” para dar conta deste espectro de sinais e sintomas que englobaria até mesmo a síndrome de tensão pré-menstrual. A produção de ectoplasma parecia, a princípio, ligada à ingestão de carboidratos, principalmente vinculada à alimentação artificial (refrigerantes, enlatados, alimentos benefeciados ou “refinados”, dieta carnívora etc). Ao voltar-se para a literatura de medicina ortomolecular, notou a correlação entre a deficiência de vitaminas do complexo B e a população que se alimenta de produtos artificiais ou industrializados, deduzindo que, de certa maneira, a produção excessiva de ectoplasma poderia estar associada deficiência de vitaminas desta classe, obtendo resultados palpáveis ao usar megadoses deste complexo vitamínico em pacientes. Outra constação do Dr. Munari foi de que muitos pacientes com quadro depressivo apresentavam a síndrome ectoplasmática.
Como consequência do relativo êxito na comprovação destas hipóteses, passou a tomar força para o autor a tese de que o órgão-chave do ectoplasma talvez fosse o fígado, responsável pela oxidação existente no corpo, pela síntese proteica (albumina), lipídica (e o responsável pela produção de 70% do colesterol circulante no sangue) e metabolização e desintoxicação de substâncias, como, por exemplo, os medicamentos. A água, veículo portador de fluidos etéricos que vitalizam o corpo segundo a medicina antroposófica talvez tivesse também alguma correlação com o ectoplasma, sendo notável que muitos depressivos exibissem ingestão reduzida de água. Assim, escreve Munari:
O fígado é o principal responsável pela produção de ectoplasma. Vitaminas do Complexo B e estimulantes da secreção da bile aliados a uma dieta saudável são os principais responsáveis pela produção de ectoplasma em níveis adequados e pela ausência dos sintomas típicos da "síndrome ectoplasmática".

Evidências empurravam para se pensar no fígado. Decidi, então, baseado no pensamento de que hnum fígado preguiçoso nos portadores da síndrome ectoplasmática, utilizar medicamentos que pudessem estimular suas funções, quer fossem da antroposofia ou da halopatia. Utilizei medicamentos chamados de coleréticos e colagogos (eles estimulam a produção de bile pelo figado, assim como sua secreção pela vesícula biliar que onde fica armazenada para do duodeno), e observei uma diminuição nas queixas sintomáticas: o paciente sentia-se mais “leve”. Estavam então formadas associações entre síndrome ectoplasmática, trantorno de somatização, depressão, síndrome da tensão pré-menstrual e insuficência funcional hepática”.
O fígado assume a condição ímpar de “grande usina de fabricação” do ectoplasma. Munari explica esta “dinâmica ectoplasmática” ao longo do trajeto de produção desta misteriosa substância. Em termos simples, os alimentos provenientes de diversos reinos da natureza (mineral, vegetal ou animal) portam qualidades diferentes de ectoplasma, que passa ser aproveitado no reino “hominal” quando é “humanizado” ou transformado por algum órgão do corpo, a fim de que seja utilizado pelos espíritos como no fenômeno de poltergeist que depende de “doador” ou epicentro para ocorrer. Faz-se necessário para que algo desta magnitude se dê que esteja presente no ser humano um tipo mais “refinado” de ectoplasma do que o encontrado de forma bruta nos alimentos, ou na natureza.
Presenças do passado podem estar manipulando depósitos de ectoplasma.
Uma vez ingerido o alimento e ainda no tubo gastrintestinal, este sofrerá a ação dos sucos gástrico, pancreático e bile, sendo transformado em açúcares, lipídeos e aminoácidos. Tais nutrientes de ordem física, bem como o ectoplasma que ‘acompanha” as suas moléculas “serão conduzidos pelo sangue até o fígado pela veia porta, onde serão “desintoxicados” e “humanizados”, como se diz na medicina antroposófica, para que não sejam rejeitados pelo sistema imunológico. Do fígado é que o sangue os levará (nutrientes e ectoplasma) para o coração, para que sejam distribuídos ao restante do corpo”. Para autores como o Dr. Jorge Andréa, citado por Munari, há participação do elemento fósforo na composição do ectoplasma, tal como é utilizado pelo organismo, como forma de armazenagem energética (adenosina trifosfato, também denominada ATP, o “combustível” da célula).
A produção de ectoplasma pode ser normal ou não. Do grau de “normalidade” neste processo  - como descrito pelo autor - depende a intensidade da “síndrome ectoplasmática” ou mesmo a sua manifestação. Estes níveis de produção normal de ectoplasma ocorrem quando há nutrição celular adequada em termos de micro e macronutrientes, registrando-se ausência de fatores intervenientes no metabolismo da glicose para gerar o ATP. Pelo contrário, se há deficiência qualitativa e quantitativa de nutrientes para a formação do ATP (ou presença de produtos tóxicos) produzir-se-ia “um desvio para uma via ectoplasmática que levaria a uma produção anormal, podendo chegar a nível prejudicial”.
Mas como se observa a ocorrência da “síndrome ectoplasmática” no cotidiano? Ela é mais comum do que se pensa, podendo-se associá-la a determinados tipos de indivíduos segundo o local em que se deposita o ecotoplasma no corpo humano. Como veremos logo adiante, a maneira como este ectoplasma é conduzido e direcionado para determinada parte do organismo físico do homem depende da influência das denominadas “presenças do passado” e da qualidade de nossas vibrações pois a atuação destas “presenças” é influenciada sobremodo pela raiva ou emoções negativas.
Com efeito, Munari acentua que existe no homem um “(...) corpo espiritual que sobrevive à morte do corpo físico, e é nele que ficam registradas nossas vidas passadas. Como tivemos vários experiências, e nelas podemos ter apresentadas lesões físicas (Por exemplo, a enxaqueca ou um traumatismo craniano), estas ficam registradas no corpo espiritual. É o que chamamos “cicatrizes do corpo espiritual”. Justamente nestas cicatrizes concentra-se o ectoplasma, retransmitindo lesões do passado para o corpo físico ao fazer a ligação deste como “corpo espiritual”, isto é, “reativa-se a dor do traumatismo de uma existência pretérita”.
Construída por Munari, a tabela seguinte relaciona os subtipos de ectoplasma ao tipo de temperamento do homem, elemento predominante, órgão chave e níveis de densidade.
Subtipo de Ectoplasma
Tipo de Temperamento
Elemento
Órgão Chave
Densidade de Ectoplasma
Craniano
Colérico
Fogo
Coraçao
Aérea
Torácico
Sanguíneo
Ar
Rins
Líquida
Gastrintestinal
Melancólico
Água
Fígado
Muscular
Sural
Fleumático
Terra
Pulmões
Óssea
Em síntese pode-se assim definir os termos constantes do quadro:
A) Subtipos de Ecotoplasma quanto à localização
  • Craniano – expressões alérgicas no revestimento nasal e oral e na trompa de Estáquio (o canal que comunica a garganta com o ouvido medido) e no ouvido médio. Favorece fenômenos como rinites, sinusites, otires e laringite e também a alergia do conduto auditivo externo.-
  • Torácico – expressão do ectoplasma ocorre como se fosse algo que “sobe”, como uma onda que se origina na região entre o abdome e o tórax e segue ascendente para a cabeça; contudo, localiza-se em nível cardíaco, levando a uma dor opressiva, constritiva, e às vezes até com caráter “esmagante”.
  • Gastrintestinal – costuma causar impressão de abdome distendido entre outros sintomas (gases etc).
  • Sural – depósito de ectoplasma ocorre mais na região sural, que nada mais é senão que a região das panturrilhas (batatas da perna)
B) Classificação baseada na maior ou menor afinidade do ectoplasma por áreas de maior ou menor densidade orgânica
  • Aérea – sensação de falta de ar e/ou nó ou bola na garganta, dando impressão de asfixia
  • Líquida – deposita-se no líquido sinovial (líquido entre as articulações), causando dores articulares ou próximo a estas, sem sinais inflamatórios,(fibromialgia). Pode também depositar-se no sangue, acometendo órgãos mais sensíveis como o labirinto.
  • Muscular/parenquitomosa : deposição nas “batatas da perna”.
  • Óssea – mais rara, ocasionando as dores do crescimento nas crianças, ou dores de friagem nos idosos.

    C) Classificação quanto aos Tipos de Temperamentos


    - Colérico - comportamento enérgico,

    -  Sanguíneo - pessoa alegre, não se atêm a determinado fim;]

    - Melancólico – indivíduo de ar tristonho e cansado, tendendo revolver o passado (preocupado e negativista).

    - Fleumático - indivíduos “lentificados”, possuem forma facial arrendonda, ou “duplo queixo”; com olhar alegre e simpático. Apreciam o bom paladar e desfrutam com enorme satisfação da alimentação.
Do ponto de vista da interação dos sintomas da “síndrome ectoplasmática”, verifica-se que a concentração de ectoplasma em determinado órgão ou área do organismo depende da convergência de fatores como:
  1. Ingestão de alimentos com maior quantidade de ectoplasma;
  2. Tipo de alimentação que produziria maior ou menor quantidade de ectoplasma;
  3. “Leveza/peso” do ectoplasma;
  4. Sua afinidade por locais de maior ou menor densidade;
  5. Cicatrizes espirituais;
  6. Atuação de “presenças” espirituais, manipulando o ectoplasma para concentrá-lo em determinada cicatriz espiritual.
O ponto “f” é de suma importância neste elenco de fatores. O ecotoplasma pode ser compreendido como “matéria-prima” da síndrome, ao passo que as “'presenças' são a 'mão-de-obra' a trabalhar para a construção do sintoma num ambiente propício – a cicatriz espiritual”. O fator desencadeante destes “males” está vinculado a um profundo desequilíbrio entre o “pensar e agir” na pessoa que é afetada por entidades deste tipo, possuindo vínculos estreitos com a idéia da mediunidade do paciente que recebe os efeitos da atuação destas “presenças” devido a seu mal uso ou desconhecimento de suas leis de atuação.
Tomando a analogia com aparelho de TV, o autor chega a advertir-nos ser preciso, portanto, evitar uma mesma “freqüência no modo de pensar e sentir e que se assemelha ao das “presenças” (que cobram do desafeto encarnado a ação errônea por ele cometida)”. Este é um caminho básico para evitar-se a contaminação pela "doença". Mas há outros abertos a quem humildemente progrida na senda individualíssima da espiritualidade.