Milovan Djias. Preso em 1956 após apoiar a Revolução anticomunista Húngara |
Editado
pela Fred and Praeger, New York (minha sétima edição é de 1957),
“The New Class – an analysis of he communist system” ao
lado de “Eles” ( estarrecedora descrição em forma de
entrevistas conduzidas por Tereza Toranska que transcreve a crueza
com que ex-comunistas polonoses reviam seu pesado) a “Nova Classe”
tem a honrosa distinção de pertencer a um seleto rol de obras pioneiras no campo dos “estudos do
comunismo”, ponto de partida para o estabelecimento de uma futura academia americana de
sovietologia e comunismo que no passado ostentou exponentes como Zbigniew Kazimierz Brzezinski, um dos mentores políticos de Jimmy Carter.
Por
questão de método é aconselhável deixar de lado as entranhas
totalitárias do “marxismo” ou “marxismo-leninismo”, aspectos
da história da URSS e embates teóricos (muitas vezes com resultados
“práticos” como o fuzilamente de um interculator “inapropriado”
de "direita" ou "esquerda" os dois antípodas que desafiavam o poder absoluto de Stálin). Focalizamo-nos, portanto, no ponto
nevrálgico da original avaliação de Djilas: as diferenças entre a
revolução na Rússia e eventos similares, as características
específicas da “Nova Classe” (que a singularizam como algo
substancialmente diferente de todas as demais), suas relações com
os meios de produção (o que, em conformidade com o próprio jargão
marxista, permite sua classificação como 'classe'), sua relação
com o Partido, o papel do “líder de classe” em seu estado
embrionário (Na URSS, Joseph Stálin) e os dispositivos de que
lança mão (a "Classe") para perpetuar-se no poder enquanto classe dominante.
Como
salienta Djilas, “Esta nova classe, a burocracia, ou mais
acuradamente, a burocracia política, tem todas as características
das anteriores assim como novas características que lhe são
próprias. Sua origem tem peculiaridades especiais também, ainda que
na essência fosse similar à de outras classes”. pg. 38
Sem correr o risco de
aplicar a conceituação e metodologia de Djilas a outras
conformações comunistas ou socialistas pró-comunistas da
atualidade (não falamos de Cuba ou Coréia do Norte, mas de países
de orientação socialista como Venezuela, Brasil, Bolívia,
Argentina, Equador e outros) é digna de nota a voracidade com que os
militantes dos partidos de esquerda, ao agarrarem com unhas e dentes
nacos do aparato estatal, nele se grudam e mudam suas percepções de
vida, gostos, opções estéticas, narcotizando-se com a “euforia
na infelicidade” (para usar uma frase de bom tom do frankfurtiano
Marcuse).
Esta horda de militantes “pé
de chinelo”, com formação precária e níveis de politização
grotescos adquiridos na "luta" (sindicatos, cooperativas, partidos,
ONGS) ao se alojarem em seus cargos de confiança, contratos
especiais por regime administrativo, contratos de trabalho formais
assinados com empresas terceirizadas e outros “meios flexíveis”
para vincularem-se à grande vaca estatal, passam a ganhar vistosos salários – bem acima da
média – dos quais extraem os fundos para ingressarem no mundo
maravilhoso do consumo e da “elegância de classe média”.
Em todos os países
da América Latina dominados pelo programa da esquerda –
notadamente no Brasil, Venezuela e Bolívia – a Nova Classe se
estabeleceu, a partir de um processo lento de “guerra ideológica
de trincheiras” na sociedade civil. Finalizada esta fase, a classe em sua fase embrionária, passou a dedicar-se à disputa intestina contra
seus concorrentes internos, ingressando na etapa das purgas (as exclusões, "autocríticas", expulsões e anulações de biografias, expedientes corriqueiros na ditadura stalinista), prelúdio de sua
consolidação enquanto classe social consciente de sua missão como "vanguarda revolucionária" na "construção do socialismo".
Este será o assunto de nossos próximos artigos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário