Gurdjieff

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terça-feira, maio 24, 2011

Crítica à Krishnamurti. O “Não-Sistema” ou “Não-Pensamento” de Jiddu Krishnamurti – Uma Crença Perigosa sob a Capa de Autoconhecimento

(...) pobre Krishnamurti, tangencia a amargura da vida humana e sua falta de sentido mas não aponta caminhos, não indica os passos que devem ser seguidos. Lança o homem no abismo enquanto ele mesmo permanece mergulhado no presente, em um estado de permanente e atemporal satisfação com o instantâneo, uma postura diametralmente oposta à dos expoentes mais conhecidos da espiritualidade”.
Krishna jovem. Sempre elegante.
Ele foi chamado de o “Instrutor do Mundo” e veículo do Senhor Maytreia (ou Buda Vindouro) por seus mentores Charles W. Leadbeater e Annie Besant, respeitáveis lideranças da Sociedade Teosófica em Adyar, Índia. Responsável direto por uma organização com milhares de membros ao redor do mundo – A Ordem da Estrela do Oriente - e investido de atribuições condizentes com seu elevado posto e missão, Jiddhu Krisnamurti não só renunciou ao título de “Buda” como também frustrou as expectativas nele depositadas por uma enorme multidão de seguidores (que esperava ardentemente pela mensagem de um novo condutor espiritual).

Ao abrir mão de seu status de “guia” e devolver propriedades da ordem aos antigos donos, o menino a quem se atribui a redação de “Aos Pés do Mestre” (obra prima do ocultismo ditada por um Adepto a Krishnamurti) optou por um estilo de vida marcado pela transmissão ininterrupta de uma filosofia particular – se assim se pode dizer- baseada no autoconhecimento e no abandono dos condicionamentos como caminho preferencial para a autorrealização.

Há obras que difundem a visão de um Krishnamurti ingênuo e acostumado aos prazeres e facilidades de uma vida pequeno-burguesa, sempre acompanhado por belas damas em amáveis herdades, castelos e hotéis luxuosos da Europa Ocidental ou então desfrutando de aconchegante estadia em aprazíveis mansões da Califórnia.

Um verdadeiro Gentleman
Como um místico ou homem espiritual, desligado do mundo grosseiro da matéria, vemos por outro lado um Krishnamurti sempre cercado por autoridades do mundo politico, mestres religiosos afamados, autores mundialmente aclamados (Aldous Huxley, para citar um exemplo, foi seu amigo íntimo) e um punhado de supostos amigos como Rajagopal - seu editor por muitas décadas - que o manipulavam visando abocanhar os lucros da “Krishnamurti Foundation”. Em linhas gerais, este é o relato presente no “Babuíno de Madame Blavatsky”, um livro concebido como libelo contra a Nova Era, unilateral, injusto e insanamente mordaz para com todo pensamento esotérico dos séculos XIX e XX que o autor não se esforçou por compreender.

Outra narrativa dos fatos envolvendo esta notável personalidade do século XX pode ser encontrada na biografia escrita por Mary Lutyens e publicada no Brasil pela Editora Teosófica. Ao se assenhorar dos detalhes da vida do biografado, paulatinamente, o leitor sério não pode se equivocar sobre seu verdadeiro caráter e propósitos, condizentes com o que se espera de um homem digno e decente.

Filha de uma mulher que por muitos anos foi admiradora e amiga de Krishnamurti e tendo ela mesma intimidade tanto com o biografado como com os requisitos da vida espiritual e suas nuances, Lutyens estava habilitada para lançar luz sobre pontos outrora obscuros de K. enquanto homem sujeito às vicissitudes da vida ordinária. Apresenta um ser complexo, sujeito a processos espirituais que não podiam ser compreendidos pela maioria das pessoas e alguém que possuía em alto grau um denodado senso de deve a cumprir na sua passagem pela terra. Atendendo seja à sua própria vontade ou a de alguma misteriosa entidade que ele jamais nomina (às vezes fala da “coisa” em tom vago), é certo que Krishnamurti elaborou idéias originais e impressionou fortemente muitas pessoas com elas. Se estavam corretas, ou se atendiam àqueles que buscam respostas para os dilemas do espírito, só uma análise serena pode revelar.
De forma mais transcendental, fugindo do escopo mais limitado da ciência convencional, inúmeras testemunhas teriam visto e ouvido Krishnamurti ao longo de diferentes fases da vida sendo submetido a dois processos distintos, mas que podem sugerir o fato de seu corpo físico ter sido usado durante parte do tempo pelo que chamava de “morador interno”, aquele ser ignoto que poderia estar empregando-o como um veículo purificado e preparado para uma missão específica ao longo de sucessivas encarnações. Seus fins reais, entretanto, possuíam uma intencionalidade que escapava á compreensão do próprio K.

Um destes processos consistia em periódicos episódios de aguda dor - sobretudo ao longo da coluna espinhal – que para alguns podem remeter à tese da subida da “serpente”, Kundalini. Outro mais frequente ( verificado durante quase toda sua vida adulta ) consistia no que o próprio K. apelidava de “meditação”, um estado de plenitude e bem aventurança que experimentava, às noites, em seu leito. Há circunstâncias outras envolvidas na vida de K. que comprovam tanto sua clarividência e extrema intuição e sensibilidade assim como a presença generalizada de um sentimento de segurança e proteção que se estendia a todos que estavam diante dele. Além do sobrenatural envolvido em tais coisas, sobrepujando todos estes fatos (até certo ponto subjetivos e apoiados na observações de pessoas próximas) estava o claro testemunho fornecido pelas palestras públicas e escritos de um jovem não erudito e pouco versado nas disciplinas universitários, arredio aos estudos e com pouco treino em argumentação lógico-dialética, que, repentinamente, passou a falar com grande desenvoltura sobre espinhosos temas filosóficos.

Embora a vida de Krishnamurti em si seja intrigante e, em parte, maravilhosa, seus ensinamentos merecem ser analisados criticamente, sem a complacência daqueles que em público o declaram um mero “amigo”, um conselheiro (não alguém a que se deva seguir, uma vez que em seu próprio testamento ele exigiu isso) mas, em privado , idolatram-no como um guru do autoconhecimento. Estas interrogações sobre o pensamento de Krishnamurti são válidas na medida em que razoável parcela da literatura de autoajuda contemporânea (Osho, Eckhart Tolle, o “zen budismo” de revista e outros) parece enraizar-se no “leit motif” krishnamurtiano ao usar liberalmente expressões (pois K. jamais aceitaria o termo “conceitos”) como “condicionamentos”, “liberdade”, “viver o presente”, “a verdade é relativa”, “tempo psicológico e cronológico” e outras mais.

Tudo o que Krishnamurti disse ou escreveu carrega uma generosa dose de verdade. Fala diretamente à nossa intuição, parece correto a princípio. Mas somente a princípio. Em minha opinião diz algo, paradoxalmente, a dois extremos: o homem espiritual colocado em patamar mais elevado ou aquele que ainda sequer começou a galgar os degraus da verdadeira espiritualidade e se sente confortado com uma mensagem que faz com que as coisas pareçam ser mais simples do que são. O homem intermediário, aquele que tem algum conhecimento dos ensinamentos dos mestres espirituais, o homem que sofreu influencias de tipo superior e “cruzou” a estreita cerca entre o mundo profano e o ocultismo, este só pode encontrar em Krishnamurti um colega de jornada tão perdido quanto ele, não um amigo fiel. A voz sedutora do indiano lhe sussurra uma alternativa mais simples e menos penosa que o trabalho e a luta incessante contra si mesmo, algo muito nocivo ou mesmo mortal para o aspirante à vida superior.

Muitos de nós gostariamos de “tocar a orla” da iluminação com pouco esforço. Justamente esta promessa parece estar implícita em muitas das transcrições de palestras e escritos sobre K. Nestes viceja a proposição latente de que é possível dispensar guias, não abrir mão de qualquer coisa que seja e dedicar horas e que mais horas ao estudo ou à meditação é mera tolice. A própria meditação é apenas uma projeção do que está arraigado dentro de nós em nossa mente, uma enorme tolice. Também poderíamos descartar as opiniões que outros nutrem a nosso respeito ou mesmo relacionarmo-nos com eles. Amigos, pais, professores não importam. Não só qualquer dependência deles é nociva como podem nos inspirar padrões de comportamento tradicionais que irão nos impedir de descobrir nossos próprios caminhos.

Como regra, Mestres e gurus devem ser encarados com incredulidade. Krishnamurti os odiava, às vezes com razão como quando se entediou com a estúpida tagarelice de Maharish Mahesh Yogi em um vôo em direção à Índia. Na aprendizagem há apenas o processo de aprender, não há professores ou alunos. É mais difícil formar um bom professor que um bom aluno, pois o primeiro precisa, antes de mais nada, aprender a aprender e ouvir. O professor precisa ser ensinado.

Ora, isto vai de encontro a todo um precioso conjunto de instruções do Oriente e do Ocidente que defendem a importância de um instrutor qualificado, um Mestre que possa adequadamente orientar o discípulo ao longo de um percurso tortuoso, porém eivado de recompensas para os que ultrapassam a reta final. Não são “mestres” no sentido usualmente atribuído ao título no Ocidente, professores arrogantes empoleirados em suas cátedras caquéticas a arrotar uma pretensa erudição morta extraída dos livros. O instrutor de que fala a antiga tradição nada mais é que um homem e mulher que por si mesmo alcançou um estado superior de consciência, tornou-se um “Arhat”, um “Bodhisattwa”, um “Arya Bodhisattwa”, um “Buda”, um “Cristo”.

Por sua enorme compaixão e magnanimidade, os grandes conquistadores do mundo legaram à humanidade instruções precisas sobre a maneira como eles próprios obtiveram a vitória. Estas não são necessariamente idênticas, mas semelhantes, o que prova que os princípios e o método são inequívocos. Estas são as características dos ensinamentos dos verdadeiros instrutores. Eles não se dedicam apenas a descrever os estados que experimentam mas fornecem aos homens o método, o “algoritmo” para a resolução do grande problema humano. Por isso se diz do Senhor Buda, como exemplo, que ele fornece “instruções precisas e que não nos enganam”. Já o pobre Krishnamurti, tangencia a amargura da vida humana e sua falta de sentido mas não aponta caminhos, não indica os passos que devem ser seguidos. Lança o homem no abismo enquanto ele mesmo permanece mergulhado no presente, em um estado de permanente e atemporal satisfação com o instantâneo, uma postura diametralmente oposta à dos expoentes mais conhecidos da espiritualidade.

Para Krishnamurti, nas vidas dos homens são impressas basicamente duas heranças. Uma de origem material, ou seja, sua posição social, bens e obrigações para a coletividade. Outra é uma herança de caráter “psicológico” e que forma sua personalidade, enraizada em concepções, tradições, sistemas de pensamento e crenças que lhe foram inculcadas desde que nasceu na família, na escola ou em outros ambientes sociais. Estas duas marcas são perenes e criam condicionamentos dos quais ele dificilmente se livre, a menos que cultive a atenção no seu quotidiano, certa capacidade de estudar a si mesmo mediante a observação cuidadosa e sistemática dos seus sentimentos, pensamentos e atos, investigando-os e descobrindo por si mesmo porque eles são o que são.

Nesta via, que é íntima, não cabe o conhecimento formal, livresco. Este se adquire pela leitura e áridos estudos na escola ou nas religiões. Estas prescrições das escrituras sagradas de todos os cultos são apenas registros das experiências de outros homens e mulheres. Eles não são a verdade. A verdade em si não existe, ela deve ser descoberta sempre, a qualquer momento, mediante o autoconhecimento. Mesmo o autoconhecer-se não tem fim, ou verdadeiro conhecimento não vem de fora mas de dentro. Os textos podem apenas lhe trazer informações de segunda mão, mas o que importa é sua própria vivência, a compreensão que se tem desta vivencia quando é anulado o “Eu observador”.

Parte-se todo o tempo do princípio de que nada se pode aprender no mundo. Nada é integral, verdadeiro. Tudo se reduz a uma imensa rede de impressões captadas por um “Eu” egóico, um feixe de sentimentos, pensamentos, emoções que julga ser você porém não é o seu “Eu verdadeiro”. A mente atua como um experimentador, o “censor” que diz que aquilo é bom ou ruim desde que satisfaça ou não os seu desejo de prazer. Não se pode fazer nada a respeito disso, apenas deixarem os pensamentos flanarem e observá-los. Quanto mais atento o observador, tão mais rápido a mente irá se aquietar e você passará a perceber as coisas na sua integralidade. O bosque lá fora, os passarinhos crocitando no jardim, os gatinhos ronronando e os peixes na Lagoa cantarão hinos ao cosmos e o indíviduo (ou o não indivíduo) terá diante de si a verdadeira vida una.

Dizendo-se contrário a todos os sistemas de pensamento Krishnamurti lançou as bases do seu próprio. Nele não se reserva qualquer função ao esforço e ao gradual controle das faculdades inferiores do homem, o que deixa de ter qualquer importância. Não há qualquer hierarquia de seres no universo ou meta evolutiva, tudo se embaralha em um eterno processo de busca da autoconsciência rumo a uma vaga reintegração ao Todo. Nada impede, contudo, que o homem goze e saboreie os prazeres do “presente”, do “agora”. Não é preciso ter – como ele próprio salienta – compromissos com quaisquer causas terrestres. Estas causas apenas refletem um sentimento inato e egoísta de autogratificação. Nada de ser caridoso, nada de combater à guerra fratricida, nada de lutar em prol dos animais ou defender a natureza. Libertemo-nos de todo esse entulho imposto por nosso Ser “autocentrado” e sejamos atentos, observando tudo com esmero. Este é o “não-sistema filosófico” ou “não-pensamento” de Krishnamurti, a base ideal para uma era sem valores ou qualquer perspectiva de futuro como a nossa.

terça-feira, março 15, 2011

Férias Espirituais

Um pré-requisito da vida espiritual é a regularidade. O avanço rumo a níveis superiores de Ser requer constância e aplicação, o que por si representa cumprir um degrau importante da senda interna. Diz-se no budismo que a preguiça é o defeito comum a todos os que rejeitam qualquer esforço. Portanto é preciso vencer a preguiça por todos os meios possíveis. Não vale apelar para o velho ditado "se não pode vencê-la, junte-se a ela". No caso da relutância em praticar os exercícios espirituais, ou se apela para o intenso esforço externo ou se deve correr do perigo. Correr do perigo, em alguns casos, pode significar se impor certo grau de isolamento dos familiares, amigos, da vida social enfim.
Pode ser necessário um penoso período de aprendizado pessoal para que possamos compreender que não somos super-homens, ou, sendo mais exato, ainda não somos super-homens. Isto significar reconhecer nossos limites e fraquezas e, neste momento, recolher-se e tolhar ao máximo os contatos com o mundo exterior seja a melhor estratégia a adotar.
Somos muito frágeis e tendemos a exagerar nossas conquistas espirituais. É muito comum, inclusive, extasiarmo-nos ao término de alguns poucos meses de esforços com o estado de serenidade que advém naturalmente, por exemplo, da meditação constante e da estrita observância de regras mínimas de pureza. Porém, esta espécie de "gozo transcendente" e toda a auto-gratificação que envolvem pode anular todo o acúmulo de méritos precente.
Em outras situações, sentimo-nos fortes em demasia, capazes de estender por lapsos mais largos de tempo nossa atuação no "palco da vida". Cremos poder representar o papel cósmico que nos foi destinado adiando obrigações espirituais e, repentinamente, damos uma série de passos atrás. A reconquista da discipla anteriormente cultivada torna-se difícil. È como tirar "férias espirituais" por um período e logo dar-se conta que este descanso foi se prolongando "ad infinutum".
Há pessoas em que o nível de consciência é tão alto em que a vida interna e externa são quase ou totalmente coincidentes. Na prática, são seres raros e pertencentes a um pequenino círculo esotérico da humanidade. O rebanho humano em que nos incluímos depende ainda de pastores que lhe prodigalize os devidos cuidados...

quarta-feira, janeiro 12, 2011

O Vento não é Triste nem Alegre

O vento não é triste nem alegre. Ele é simplesmente o vento. Os humanos inventaram conceitos que expressam estados de espírito aos quais elas se agarram como uma criança ao peito materno. Sua busca de autogratificação, o apego e à rejeição os conduzem a uma eterna escravidão e até mesmo quando se suicidam o fazem por não terem sido afastados de seu objeto de apego. A identificação no Ser humano é tamanha que há muitos de nós que rejeitamos qualquer esforço de conhecimento de nós mesmos e de liberação das ínúmeras leis que nos nos tornam mecânicos. Temos inclusive uma medonha aversão - que tentamos esconder de nós mesmos - da possibilidade de algum dia coisas como "mãe", "pai", "amigos", "filhos", "lar", "bens materiais" um dia não possam ter tanta importância. O que será de nós sem eles? Só nos esquecemos ao pensar assim de duas coisas importantíssimas: eles irão morrer um dia, nós também. A impermanência é a tônica deste reino em que estamos.
Quem seremos nós sem nossas famílias, sem nossos pais, sem nossos filhos? Confundimos a verdadeira espiritualidade com preces repetidas pelo nosso bem estar e de nossos entes queridos quando. Somos agarrados, deludidos, mecanizados, identificados. Estamos em pecado, não nos arrependemos. Não seguimos o conselho do Cristo e não deixamos nosso pai, mãe e irmã.
Aos nossos olhos de fariseus é escandaloso e indigno abandonar os pais. Aos olhos do verdadeiro trabalho anterior não. Trabalhar sobre si não é se tornar indiferente, é saber palmilhar uma trilha de bambu a milhares de metros de altura, manter o equilíbrio e permanecer vivo, sem cair. Por permanecer vivo quero dizer manter o verdadeiro amor ao próximo, que é permanente, não ilusório; é multilateral, não unilateral, é genuíno, não identificado.
Com a persistência necessária no treino do desapego iremos realizar em nosso íntimo a compreensão de que tudo é relacional. A vida - não a simples vida biológica, mas a "dança cósmica" - é um produto de eventos concatenados. Nossa vida é uma seqüência de eventos ensinava o Prof. Nicholls, nada mais que isso. Produtos de circunstâncias - cármicas, chamem-nas como quiserem - não são bons ou ruins, não são alegres nem tristes. No plano do universo apenas os seres humanos os tratam dessa forma.

Meditar no Ocidente - A Mente Raiz

Aqui no Ocidente nós encaramos a meditação de forma diametralmente oposta ao Oriente. Meditação nas línguas tibetana e no sânscrito é um estado de espírito apaziguado e a ação mental que é a causa principal de paz mental. A maçonaria e os rosa cruzes autênticos são guardiões desta velha tradição meditativa ocidental, que remonta às antigas escolas de mistérios. Em suas fórmulas fazem referências a um "Oceano de Tranquilidade" e à "Paz Profunda" que em alguns ensinamentos budistas são comparados ao mar aberto sem agitação que provoque ondas. Ou seja, nossa mente plenamente centrada, em equilíbrio.

Mas principalmente no século XX a penetração de técnicas e dos textos do Leste nos países da Europa e América mesclou-se ao cientificismo em voga para o qual cérebro e mente são a mesma coisa ou, então, muito parecidos. Com o passar do tempo a eficácia da "meditação" foi aceita, porém considerada apenas como uma terapia válida de relaxamento, diminuição do stress e alívio do desconforto associado ao uso intenso e prolongado do cérebro.

Porém, o cérebro não é a mente. Este um princípio basilar em todas as tradições do Oriente. O cérebro é um órgão físico que cumpre seu papel no âmbito do ser-forma. Haverá um dia, creio, que até mesmo este órgão poderá ser transplantado com facilidade de um crânio para outro. Há indícios que sequer a perda substancial de uma grande parte do cérebro sequer afeta funções vitais ou a fala, memória e capacidade de raciocinar das pessoas.

Então, o cérebro é apenas um instrumento. A mente é algo sutil, que perdura. Ela tem uma função no âmbito do ser, mas que transcende a forma: perceber e entender os objetos só isso. Penso que ao mesclar-se excessivamente com que os teosofistas chamam de "manas inferior", ao cérebro físico e suas elaborações, a mente é contaminda por uma série percepções errôneas que estabelecem falsas relações entre os fenômenos, as delusões.

Um dos principais objetivos da nossa vida é combater estas delusões. Os métodos de meditação recomendados pelos bons instrutores são ótimos caminhos para destruí-las, desde que se saiba meditar. O primeiro passo para se fazer uma correta meditação é deixar de lado o foco no cérebro físico. Muitas pessoas tentam meditar mas seu foco está no cérebro físico e o processo como um todo não surte efeito. Lembro-me que antes me esforçava para controlar os pensamentos, mas todo o meu esforço era guiado impulsivamente para a área no centro da testa, havendo dias em tinha até mesmo dores de cabeça.

Uma técnica budista que tem provado ser útil - ao menos para mim - é a da "mente raiz". Ela parte da natureza de clareza e da função da mente que é perceber e conhecer. Após as atitudes preparatórias, o meditador deve se esforçar para direcionar sua percepção para o chacra do coração, no centro do peito, criando uma imagem mental desta "mente raiz". Concentrando-se neste imagem e em sua função - que é pura clareza - o meditador afasta-se aos poucos da falsa percepção da mente física.

sábado, janeiro 01, 2011

O "Exagerado Senso do Eu" - Uma Personagem de Stanilavsky como Exercício do Trabalho

Uma das técnicas empregadas no budismo mahayana na meditação da vacuidade é a aquela em que o sujeito se apercebe de seu "exagerado senso do eu". Este "Eu", grandioso e pleno se manifesta em situações inusitadas mas é um útil - e talvez, principal - objeto de trabalho para o aspirante à iluminação.

No ramo mahayana o "Eu" não é a mente, nem o corpo. Ele também poderia ser a mente e o corpo, ou, em última hipótese, ter existência independente. Mas nenhuma dessas possibilidades demonstra a existência de um “eu” inerente. Ele é uma imputação mental que deixa de ter qualquer significado se analisado por negação do corpo e da mente e pela prática da vacuidade. Não implica em deixar de lado o “eu”. Ele pode prosseguir a representação de seu papel convencional junto à sociedade, aos familiares, aos amigos. Ele é um “Eu “ imputado que anda, come , fala e bebe por aí.

Em alguns momentos especiais há um agigantamento do “Eu”, ele se manifesta como uma explosão de “vontade”, um dos “Eus totais”, significativos que construímos. Se uma pessoa, por exemplo, toca em um forte traço de nós mesmos que ignoramos não ser tão importante mas diz respeito ao que realmente somos enquanto personalidade mutável este “Eu” associado a um plexo de traços subitamente vem à tona. Ele é agressivo, fala de modo calculado, com pausas lógicas, psicológicos e de “ar”. Entona, modula, dá cor à voz. Curva-se, move os braços, caminha, gira e aponta as mãos de modo peculiar. È como uma personagem detestável - que não gostamos, nem os outros -; em alguns casos o vilão da peça - que entra no palco.

Esta personagem parece obra do próprio Stanislavisky. É expressiva, plástica, representa uma linha contínua de desenvolvimento interior. Mas ela é repelente, não expressa o que pensamos e julgamos ser “nós mesmos”. Prestemos muita atenção nestes raros momentos de choque em que surge o “exagerado senso do Eu”, a personagem má que salta diante dos expectadores. Podemos aprender muito acerca de nós mesmos se a estudarmos conscienciosamente.

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Arte Objetiva e as Antigas Escolas


Georges Ivanovitch Gurdjieff, expressava sua interpretação das escolas de conhecimento e de mistérios como meios de transmissão de verdades arcanas que não poderiam ser traduzidas nos marcos da linguagem convencional. Segundo ele deveria haver uma “ciência objetiva”, uma unidade de todas as coisas e “procurava-se, pois, colocá-la em formas capazes de assegurar sua transmissão adequada, sem risco de deformá-las ou corrompê-las”.
Assim, “dando-se conta da imperfeição e da fraqueza da linguagem usual, os homens que possuíam a ciência objetiva tentaram exprimir a idéia da unidade sob a forma de ‘mitos’, ´símbolos’ e ‘aforismos’ particulares que, tendo sido transmitidos sem alteração, levaram essa idéia de uma escola a outra, freqüentemente de uma época à outra”. Estas idéias não atuavam sobre os estados convencionais, normais de consciência do homem mas sobre níveis superiores, o que ele denominava “centro emocional superior” e o “centro intelectual superior”. Ao primeiro, o “centro emocional superior”, destinavam-se os mitos, ao segundo, o “centro intelectual superior”, os símbolos.
Símbolos e Mitos. Destes recursos se nutre a "Arte Objetiva" que se reflete diretamente nos recônditos superiores do ser humano. Os grandes monumentos do passado, as catedrais européias, as ruínas de Susa, as construções de Macchu Picchu, as pirâmides egípcias.
No renascimento, as escolas de arte objetiva, além da construção de templos se concentraram nas escolas de pintura, sediadas na Itália. Livros com "The Secret History of the World" de Mark Booth apontam nesta fase o surgimento de uma estranha e pujante arte no continente europeu. Em minha opinião ela se manifesta com maior intensidade nos pintores alemães e de Flandres, mais particularmente em Bruegel, Hyeronimus Bosh e do insuperável Albrecht Dürer.
Deixo o autorretrato da Dürer para que o leitor possa tirar suas próprias conclusões acerca de sua expressão. Por enquanto.

Reencarnação e Eterno Retorno

Se há uma distinção significativa efetuada por Ouspensky - ausente em Gurdjieff, que não se ocupava do tema - é aquela entre reencarnação e eterno retorno, "eterna recorrência'. Ela está ligada ao choque no ponto 6 do eneagrama, o "choque das impressões". Lembremo-nos de que inscrito no eneagrama há um triângulo com os pontos 9, 3 e 6. Em um segundo giro, uma oitava atinge o ponto 3, é o "choque mecânico" do ar. Os outros dois choques são "choques conscientes" ensinados por G. nas aulas de Moscou. As idéias do trabalho podem produzir este impacto direto sobre a mecanicidade e libertar-se da mecanicidade é transformar sua vida atual e as futuras (quiçá as passadas pois no eneagrama, por difícil que pareça compreender, o passado afeta o futuro assim como o futuro o passado).
O Sr. Nicholls (1) (discípulo de Ouspensky que ministrava aulas em Londres) registrou em um de seus inúmeros encontros que "a memória é nossa relação com a quarta dimensão, é nossa relação com o tempo". Na morte, nossa personalidade "é destruída mas a essência retorna. Nesse momento nos é oferecida a oportunidade de recordar algo, somente se a essência registrou algo.Tudo quanto fazemos genuinamente toca a essência e a essência recordará ao retornar. Esta é uma das razões pelas quais o gênio de faz presente muito cedo, isto é, tudo que se fez de forma genuína".
Por uma boa razão o trabalho de Gurdjieff coloca ênfase na "recordação de si". Como a memória nos coloca em relação com a 4a dimensão - pois a vida não é uma linha reta - ela para nós é a única maneira de permanecer e não voltar exatamente no mesmo ponto de tempo em que paramos. Sem os choques, nós voltamos sempre ao mesmo tempo em paramos. Os famosas sequencias de Oupensky em "Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido" (2) delineiam oitavas descontínuas, quebrando-se em emendado-se umas outras até que ao final ao invés de uma linha definida de ação sempre se perfaz um círculo. O homem mecânico sempre volta para o ponto de partida, suas intenções iniciais se evaporam e nenhum projeto é cumprido. Esta é a "Lei dos Sete" que no nível maior das séries existenciais é a "Lei do Eterno Retorno", que sob certas condições vale para a maioria dos homens deste planeta.

Notas:
1. Nichols, Maurice. Comentarios psicologicos sobre las enseñanzas de Gurdjieff y Ouspensky, v. II. Buenos Aires: Kier, 2006. 2a Edição.
2. Ouspensky, P.D. Fragmentos de um ensinamento desconhecido. São Paulo: Pensamento, 2001.