O vento não é triste nem alegre. Ele é simplesmente o vento. Os humanos inventaram conceitos que expressam estados de espírito aos quais elas se agarram como uma criança ao peito materno. Sua busca de autogratificação, o apego e à rejeição os conduzem a uma eterna escravidão e até mesmo quando se suicidam o fazem por não terem sido afastados de seu objeto de apego. A identificação no Ser humano é tamanha que há muitos de nós que rejeitamos qualquer esforço de conhecimento de nós mesmos e de liberação das ínúmeras leis que nos nos tornam mecânicos. Temos inclusive uma medonha aversão - que tentamos esconder de nós mesmos - da possibilidade de algum dia coisas como "mãe", "pai", "amigos", "filhos", "lar", "bens materiais" um dia não possam ter tanta importância. O que será de nós sem eles? Só nos esquecemos ao pensar assim de duas coisas importantíssimas: eles irão morrer um dia, nós também. A impermanência é a tônica deste reino em que estamos.
Quem seremos nós sem nossas famílias, sem nossos pais, sem nossos filhos? Confundimos a verdadeira espiritualidade com preces repetidas pelo nosso bem estar e de nossos entes queridos quando. Somos agarrados, deludidos, mecanizados, identificados. Estamos em pecado, não nos arrependemos. Não seguimos o conselho do Cristo e não deixamos nosso pai, mãe e irmã.
Aos nossos olhos de fariseus é escandaloso e indigno abandonar os pais. Aos olhos do verdadeiro trabalho anterior não. Trabalhar sobre si não é se tornar indiferente, é saber palmilhar uma trilha de bambu a milhares de metros de altura, manter o equilíbrio e permanecer vivo, sem cair. Por permanecer vivo quero dizer manter o verdadeiro amor ao próximo, que é permanente, não ilusório; é multilateral, não unilateral, é genuíno, não identificado.
Com a persistência necessária no treino do desapego iremos realizar em nosso íntimo a compreensão de que tudo é relacional. A vida - não a simples vida biológica, mas a "dança cósmica" - é um produto de eventos concatenados. Nossa vida é uma seqüência de eventos ensinava o Prof. Nicholls, nada mais que isso. Produtos de circunstâncias - cármicas, chamem-nas como quiserem - não são bons ou ruins, não são alegres nem tristes. No plano do universo apenas os seres humanos os tratam dessa forma.
quarta-feira, janeiro 12, 2011
Meditar no Ocidente - A Mente Raiz
Aqui no Ocidente nós encaramos a meditação de forma diametralmente oposta ao Oriente. Meditação nas línguas tibetana e no sânscrito é um estado de espírito apaziguado e a ação mental que é a causa principal de paz mental. A maçonaria e os rosa cruzes autênticos são guardiões desta velha tradição meditativa ocidental, que remonta às antigas escolas de mistérios. Em suas fórmulas fazem referências a um "Oceano de Tranquilidade" e à "Paz Profunda" que em alguns ensinamentos budistas são comparados ao mar aberto sem agitação que provoque ondas. Ou seja, nossa mente plenamente centrada, em equilíbrio.
Mas principalmente no século XX a penetração de técnicas e dos textos do Leste nos países da Europa e América mesclou-se ao cientificismo em voga para o qual cérebro e mente são a mesma coisa ou, então, muito parecidos. Com o passar do tempo a eficácia da "meditação" foi aceita, porém considerada apenas como uma terapia válida de relaxamento, diminuição do stress e alívio do desconforto associado ao uso intenso e prolongado do cérebro.
Porém, o cérebro não é a mente. Este um princípio basilar em todas as tradições do Oriente. O cérebro é um órgão físico que cumpre seu papel no âmbito do ser-forma. Haverá um dia, creio, que até mesmo este órgão poderá ser transplantado com facilidade de um crânio para outro. Há indícios que sequer a perda substancial de uma grande parte do cérebro sequer afeta funções vitais ou a fala, memória e capacidade de raciocinar das pessoas.
Então, o cérebro é apenas um instrumento. A mente é algo sutil, que perdura. Ela tem uma função no âmbito do ser, mas que transcende a forma: perceber e entender os objetos só isso. Penso que ao mesclar-se excessivamente com que os teosofistas chamam de "manas inferior", ao cérebro físico e suas elaborações, a mente é contaminda por uma série percepções errôneas que estabelecem falsas relações entre os fenômenos, as delusões.
Um dos principais objetivos da nossa vida é combater estas delusões. Os métodos de meditação recomendados pelos bons instrutores são ótimos caminhos para destruí-las, desde que se saiba meditar. O primeiro passo para se fazer uma correta meditação é deixar de lado o foco no cérebro físico. Muitas pessoas tentam meditar mas seu foco está no cérebro físico e o processo como um todo não surte efeito. Lembro-me que antes me esforçava para controlar os pensamentos, mas todo o meu esforço era guiado impulsivamente para a área no centro da testa, havendo dias em tinha até mesmo dores de cabeça.
Uma técnica budista que tem provado ser útil - ao menos para mim - é a da "mente raiz". Ela parte da natureza de clareza e da função da mente que é perceber e conhecer. Após as atitudes preparatórias, o meditador deve se esforçar para direcionar sua percepção para o chacra do coração, no centro do peito, criando uma imagem mental desta "mente raiz". Concentrando-se neste imagem e em sua função - que é pura clareza - o meditador afasta-se aos poucos da falsa percepção da mente física.
Mas principalmente no século XX a penetração de técnicas e dos textos do Leste nos países da Europa e América mesclou-se ao cientificismo em voga para o qual cérebro e mente são a mesma coisa ou, então, muito parecidos. Com o passar do tempo a eficácia da "meditação" foi aceita, porém considerada apenas como uma terapia válida de relaxamento, diminuição do stress e alívio do desconforto associado ao uso intenso e prolongado do cérebro.
Porém, o cérebro não é a mente. Este um princípio basilar em todas as tradições do Oriente. O cérebro é um órgão físico que cumpre seu papel no âmbito do ser-forma. Haverá um dia, creio, que até mesmo este órgão poderá ser transplantado com facilidade de um crânio para outro. Há indícios que sequer a perda substancial de uma grande parte do cérebro sequer afeta funções vitais ou a fala, memória e capacidade de raciocinar das pessoas.
Então, o cérebro é apenas um instrumento. A mente é algo sutil, que perdura. Ela tem uma função no âmbito do ser, mas que transcende a forma: perceber e entender os objetos só isso. Penso que ao mesclar-se excessivamente com que os teosofistas chamam de "manas inferior", ao cérebro físico e suas elaborações, a mente é contaminda por uma série percepções errôneas que estabelecem falsas relações entre os fenômenos, as delusões.
Um dos principais objetivos da nossa vida é combater estas delusões. Os métodos de meditação recomendados pelos bons instrutores são ótimos caminhos para destruí-las, desde que se saiba meditar. O primeiro passo para se fazer uma correta meditação é deixar de lado o foco no cérebro físico. Muitas pessoas tentam meditar mas seu foco está no cérebro físico e o processo como um todo não surte efeito. Lembro-me que antes me esforçava para controlar os pensamentos, mas todo o meu esforço era guiado impulsivamente para a área no centro da testa, havendo dias em tinha até mesmo dores de cabeça.
Uma técnica budista que tem provado ser útil - ao menos para mim - é a da "mente raiz". Ela parte da natureza de clareza e da função da mente que é perceber e conhecer. Após as atitudes preparatórias, o meditador deve se esforçar para direcionar sua percepção para o chacra do coração, no centro do peito, criando uma imagem mental desta "mente raiz". Concentrando-se neste imagem e em sua função - que é pura clareza - o meditador afasta-se aos poucos da falsa percepção da mente física.
sábado, janeiro 01, 2011
O "Exagerado Senso do Eu" - Uma Personagem de Stanilavsky como Exercício do Trabalho
Uma das técnicas empregadas no budismo mahayana na meditação da vacuidade é a aquela em que o sujeito se apercebe de seu "exagerado senso do eu". Este "Eu", grandioso e pleno se manifesta em situações inusitadas mas é um útil - e talvez, principal - objeto de trabalho para o aspirante à iluminação.
No ramo mahayana o "Eu" não é a mente, nem o corpo. Ele também poderia ser a mente e o corpo, ou, em última hipótese, ter existência independente. Mas nenhuma dessas possibilidades demonstra a existência de um “eu” inerente. Ele é uma imputação mental que deixa de ter qualquer significado se analisado por negação do corpo e da mente e pela prática da vacuidade. Não implica em deixar de lado o “eu”. Ele pode prosseguir a representação de seu papel convencional junto à sociedade, aos familiares, aos amigos. Ele é um “Eu “ imputado que anda, come , fala e bebe por aí.
Em alguns momentos especiais há um agigantamento do “Eu”, ele se manifesta como uma explosão de “vontade”, um dos “Eus totais”, significativos que construímos. Se uma pessoa, por exemplo, toca em um forte traço de nós mesmos que ignoramos não ser tão importante mas diz respeito ao que realmente somos enquanto personalidade mutável este “Eu” associado a um plexo de traços subitamente vem à tona. Ele é agressivo, fala de modo calculado, com pausas lógicas, psicológicos e de “ar”. Entona, modula, dá cor à voz. Curva-se, move os braços, caminha, gira e aponta as mãos de modo peculiar. È como uma personagem detestável - que não gostamos, nem os outros -; em alguns casos o vilão da peça - que entra no palco.
Esta personagem parece obra do próprio Stanislavisky. É expressiva, plástica, representa uma linha contínua de desenvolvimento interior. Mas ela é repelente, não expressa o que pensamos e julgamos ser “nós mesmos”. Prestemos muita atenção nestes raros momentos de choque em que surge o “exagerado senso do Eu”, a personagem má que salta diante dos expectadores. Podemos aprender muito acerca de nós mesmos se a estudarmos conscienciosamente.
quinta-feira, dezembro 30, 2010
Arte Objetiva e as Antigas Escolas

Georges Ivanovitch Gurdjieff, expressava sua interpretação das escolas de conhecimento e de mistérios como meios de transmissão de verdades arcanas que não poderiam ser traduzidas nos marcos da linguagem convencional. Segundo ele deveria haver uma “ciência objetiva”, uma unidade de todas as coisas e “procurava-se, pois, colocá-la em formas capazes de assegurar sua transmissão adequada, sem risco de deformá-las ou corrompê-las”.
Assim, “dando-se conta da imperfeição e da fraqueza da linguagem usual, os homens que possuíam a ciência objetiva tentaram exprimir a idéia da unidade sob a forma de ‘mitos’, ´símbolos’ e ‘aforismos’ particulares que, tendo sido transmitidos sem alteração, levaram essa idéia de uma escola a outra, freqüentemente de uma época à outra”. Estas idéias não atuavam sobre os estados convencionais, normais de consciência do homem mas sobre níveis superiores, o que ele denominava “centro emocional superior” e o “centro intelectual superior”. Ao primeiro, o “centro emocional superior”, destinavam-se os mitos, ao segundo, o “centro intelectual superior”, os símbolos.
Símbolos e Mitos. Destes recursos se nutre a "Arte Objetiva" que se reflete diretamente nos recônditos superiores do ser humano. Os grandes monumentos do passado, as catedrais européias, as ruínas de Susa, as construções de Macchu Picchu, as pirâmides egípcias.
No renascimento, as escolas de arte objetiva, além da construção de templos se concentraram nas escolas de pintura, sediadas na Itália. Livros com "The Secret History of the World" de Mark Booth apontam nesta fase o surgimento de uma estranha e pujante arte no continente europeu. Em minha opinião ela se manifesta com maior intensidade nos pintores alemães e de Flandres, mais particularmente em Bruegel, Hyeronimus Bosh e do insuperável Albrecht Dürer.
Deixo o autorretrato da Dürer para que o leitor possa tirar suas próprias conclusões acerca de sua expressão. Por enquanto.
Reencarnação e Eterno Retorno
Se há uma distinção significativa efetuada por Ouspensky - ausente em Gurdjieff, que não se ocupava do tema - é aquela entre reencarnação e eterno retorno, "eterna recorrência'. Ela está ligada ao choque no ponto 6 do eneagrama, o "choque das impressões". Lembremo-nos de que inscrito no eneagrama há um triângulo com os pontos 9, 3 e 6. Em um segundo giro, uma oitava atinge o ponto 3, é o "choque mecânico" do ar. Os outros dois choques são "choques conscientes" ensinados por G. nas aulas de Moscou. As idéias do trabalho podem produzir este impacto direto sobre a mecanicidade e libertar-se da mecanicidade é transformar sua vida atual e as futuras (quiçá as passadas pois no eneagrama, por difícil que pareça compreender, o passado afeta o futuro assim como o futuro o passado).
O Sr. Nicholls (1) (discípulo de Ouspensky que ministrava aulas em Londres) registrou em um de seus inúmeros encontros que "a memória é nossa relação com a quarta dimensão, é nossa relação com o tempo". Na morte, nossa personalidade "é destruída mas a essência retorna. Nesse momento nos é oferecida a oportunidade de recordar algo, somente se a essência registrou algo.Tudo quanto fazemos genuinamente toca a essência e a essência recordará ao retornar. Esta é uma das razões pelas quais o gênio de faz presente muito cedo, isto é, tudo que se fez de forma genuína".
Por uma boa razão o trabalho de Gurdjieff coloca ênfase na "recordação de si". Como a memória nos coloca em relação com a 4a dimensão - pois a vida não é uma linha reta - ela para nós é a única maneira de permanecer e não voltar exatamente no mesmo ponto de tempo em que paramos. Sem os choques, nós voltamos sempre ao mesmo tempo em paramos. Os famosas sequencias de Oupensky em "Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido" (2) delineiam oitavas descontínuas, quebrando-se em emendado-se umas outras até que ao final ao invés de uma linha definida de ação sempre se perfaz um círculo. O homem mecânico sempre volta para o ponto de partida, suas intenções iniciais se evaporam e nenhum projeto é cumprido. Esta é a "Lei dos Sete" que no nível maior das séries existenciais é a "Lei do Eterno Retorno", que sob certas condições vale para a maioria dos homens deste planeta.
Notas:
1. Nichols, Maurice. Comentarios psicologicos sobre las enseñanzas de Gurdjieff y Ouspensky, v. II. Buenos Aires: Kier, 2006. 2a Edição.
2. Ouspensky, P.D. Fragmentos de um ensinamento desconhecido. São Paulo: Pensamento, 2001.
quarta-feira, dezembro 22, 2010
Maçonaria Operativa Versus Especulativa - Ragon x Jorge Ferro
Desde que Elias Ashmole e iniciados britânicos introduziram novos rituais na Ordem Maçônica, esta se difundiu seu esplendor pelos quatro cantos do globo com a rapidez de um raio. Sob a batuta do Reverendo James Anderson em 1717 foram sancionadas na Inglaterra as novas constituições, agora ditas especulativas em contrate com os regulamentos dos maçons operativos que ergueram as catedrais e monumentos que até os dias de hoje fascinam o expectador na Europa .
Foram eles também os construtores da vasta maioria das edificações públicas das capitais européias e os encarregados de sua reconstrução após catástrofes como os grandes terremotos de Londres e Lisboa e, bem mais recentemente, a Segunda Guerra Mundial, quando pequenos agrupamentos de “operativos” foram identificados e chamados aos trabalhos de “oficina” pois só eles - e somente eles - guardavam a sete chaves os segredos da geometria sagrada.
Estes mesmos “pedreiros livres” cujas origens remontam à Gália e às corporações do antigo Império Romano (quiçá às corporações de obreiros da Alta antiguidade e, com certeza, aos construtores da Ìndia durante os anos de magnificência de seus impérios). Na obra “La Masonería Operativa” de Jorge Francisco Ferro (Buenos Aires: Ed. Kier, 2008) é assinalada a presença na Índia da “Ordem de Vishwakarma” (literalmente, “O Grande Arquiteto do Universo”), composta por indivíduos da casta artesanal dos “Vaishas”.
O mesmos grêmios artesanais existiam na Turquia, Bulgária, Servia (“Esnafs”). No império romano, sua matriz, eram os “Collegia Romani”, anteriores à era cristã, mais precisamente no reinado de Numa Pompilio (700 A.C.). Na Itália persistiram por décadas como os “Magistri Comacini”. Corporações similares se multiplicavam na Itália, na Inglaterra (York, Oxford, Londres) e Alemanha. Este foi o substrato humano e material que engendrou a maçonaria operativa.
Os ensinamentos e a importância dos operativos foi desprezado por muito tempo. Era como se homens superiores em conhecimento e sabedoria “especulativa e simbólica” não pudessem se misturar a pobres e ignorantes operários que grosseiramente viam uma pedra bruta como uma pedra bruta e o malhete e o cinzel como reles instrumentos de trabalho braçal. O incensado Ragon (deveras elogiado por Madame Blavatsty) insinua que a arte das catedrais é inferior à obra monumental de Milton (nada temos contra a Milton mas sim contra a arrogância de Ragon) e considera os “operativos” como ambiciosos e lacaios dos patrões.
Do alto dos seus elevados estudos maçônicos e com o tom unificador e universalista que lhe foi peculiar Ragon sentencia em sua “Ortodoxia Maçônica”:
“(...) a Franco-Maçonaria nada tem a ver, pois, com o pacto dos maçons construtores”. Comentando alguns autores, aduz que:
“(...) Aqui se vê que a questão não foi sobre a arte material de edificar cujos segredos se vulgarizaram, desde longo tempo, e que são bastantes inúteis ao franco-maçom (pois a arte de construir não era sua profissão)”.
“(...) De outro lado, os maçons de profissão compreenderão a linguagem dos maçons filósofos, tratando das altas ciências ou dos mistérios antigos dos quais provieram? Deixemos esses obreiros geometrizar e se instruir nas suas honoráveis corporações, cuja meta é fornecer habitações aos ricos, que lhe podem retribuir e consintamos que os franco-maçons trabalhem nas Lojas, com zelo e gratuitamente, para o aperfeiçoamento e a ventura da Humanidade, esclarecendo e melhorando os seres humanos, pobres e ricos, fracos e poderosos.
Uma é profissão material e compulsória, pois todo homem deve ter uma situação para viver. A outra é o oficio que requer devotamento freqüentemente oneroso e de uma abnegação voluntária.
Todas as duas são honradas, mas não comparáveis: quem ousaria, seriamente, colocar em termos de comparação o plano em que se encontra traçada a magnífica Igreja de São Paulo e o em que foi descrita a obra imortal de Milton - duas obras primas, sem duvida, que entretanto, seria extravagante querer confronta-lãs
Quem impediria a Grande Loja da Inglaterra estabelecer, pouco a pouco, aquele traço de demarcação. Era seu dever.
Tendo-o faltado, ela arremessou para os séculos, uma confusão que a dividiu e que não havia sido esclarecida, na França. Desde o começo, ela deveria ter abjurado a trivial denominação de “freemason” (mentirosa para os seus membros) e adotado (se o orgulho nacional o tivesse consentido) o nome Frances de francmaçon, que não tem de comum com o outro senão a terminação.
Então, a divisão ficaria transparente e cessaria a discussão“. O posicionamento de Ragon, felizmente, foi contrariado pela historiografia moderna. Com efeito:
“A antiguidade do ritual operativo se sustenta na própria evidência interna e em sua coerência, as quais constituem uma das principais provas de autenticidade possíveis, possuindo os critérios corretos de avaliação das mesmas. Este ritual [dos operativos, N.T] possui referências ao culto às estrelas em relação direta com a estrela polar, ao culto ao Sol, expresso na saudação ao Sol Nascente, ao culto ao fogo escondido sobre os lugares elevados, por meio dos candelabros colocados sobre as três colunas da Loja, cada uma das quais representa um dos três montes sagrados: Moriah, Sinai e Tabor. Muitos destes elementos foram conservados primeiramente por meio da tradição oral, a qual, não se deve duvidar, existiu muito antes da história escrita, e este é principalmente o caso quando se tratava de segredos que não era legítimo colocar por escrito. Os mais antigos dos livros sagrados do mundo foram conservados por meio da tradição oral antes de serem escritos”.
“O ritual operativo é mais arcaico em suas formas e mais completo que o ritual especulativo e contém instruções práticas das quais o ritual especulativo só conservou ecos distantes. Quase todos os ensinamentos especulativos podem ser rastreados nas cerimônias operativas, mas muitos dos ensinamentos operativos não possuem nenhum tipo de correspondência com o ritual especulativo. Deste modo, muitas das cerimônias especulativas podem ser explicadas a partir do ritual operativo, ao passo que nenhuma das cerimônias operativas pode explicada pelo ritual especulativo”.
Nos dia de hoje, rendemos tributo ao Sr. Ferro que não só reabilita os operativos como revela o esplendor de escola das escolas de pedreiros livres que antecederam as “landmarks” do Século das Luzes. Que esta contribuição não seja nunca mais olvidada e acresça ainda mais o patrimônio de todos nós, maçons.
Creomar Baptista
Foram eles também os construtores da vasta maioria das edificações públicas das capitais européias e os encarregados de sua reconstrução após catástrofes como os grandes terremotos de Londres e Lisboa e, bem mais recentemente, a Segunda Guerra Mundial, quando pequenos agrupamentos de “operativos” foram identificados e chamados aos trabalhos de “oficina” pois só eles - e somente eles - guardavam a sete chaves os segredos da geometria sagrada.
Estes mesmos “pedreiros livres” cujas origens remontam à Gália e às corporações do antigo Império Romano (quiçá às corporações de obreiros da Alta antiguidade e, com certeza, aos construtores da Ìndia durante os anos de magnificência de seus impérios). Na obra “La Masonería Operativa” de Jorge Francisco Ferro (Buenos Aires: Ed. Kier, 2008) é assinalada a presença na Índia da “Ordem de Vishwakarma” (literalmente, “O Grande Arquiteto do Universo”), composta por indivíduos da casta artesanal dos “Vaishas”.
O mesmos grêmios artesanais existiam na Turquia, Bulgária, Servia (“Esnafs”). No império romano, sua matriz, eram os “Collegia Romani”, anteriores à era cristã, mais precisamente no reinado de Numa Pompilio (700 A.C.). Na Itália persistiram por décadas como os “Magistri Comacini”. Corporações similares se multiplicavam na Itália, na Inglaterra (York, Oxford, Londres) e Alemanha. Este foi o substrato humano e material que engendrou a maçonaria operativa.
Os ensinamentos e a importância dos operativos foi desprezado por muito tempo. Era como se homens superiores em conhecimento e sabedoria “especulativa e simbólica” não pudessem se misturar a pobres e ignorantes operários que grosseiramente viam uma pedra bruta como uma pedra bruta e o malhete e o cinzel como reles instrumentos de trabalho braçal. O incensado Ragon (deveras elogiado por Madame Blavatsty) insinua que a arte das catedrais é inferior à obra monumental de Milton (nada temos contra a Milton mas sim contra a arrogância de Ragon) e considera os “operativos” como ambiciosos e lacaios dos patrões.
Do alto dos seus elevados estudos maçônicos e com o tom unificador e universalista que lhe foi peculiar Ragon sentencia em sua “Ortodoxia Maçônica”:
“(...) a Franco-Maçonaria nada tem a ver, pois, com o pacto dos maçons construtores”. Comentando alguns autores, aduz que:
“(...) Aqui se vê que a questão não foi sobre a arte material de edificar cujos segredos se vulgarizaram, desde longo tempo, e que são bastantes inúteis ao franco-maçom (pois a arte de construir não era sua profissão)”.
“(...) De outro lado, os maçons de profissão compreenderão a linguagem dos maçons filósofos, tratando das altas ciências ou dos mistérios antigos dos quais provieram? Deixemos esses obreiros geometrizar e se instruir nas suas honoráveis corporações, cuja meta é fornecer habitações aos ricos, que lhe podem retribuir e consintamos que os franco-maçons trabalhem nas Lojas, com zelo e gratuitamente, para o aperfeiçoamento e a ventura da Humanidade, esclarecendo e melhorando os seres humanos, pobres e ricos, fracos e poderosos.
Uma é profissão material e compulsória, pois todo homem deve ter uma situação para viver. A outra é o oficio que requer devotamento freqüentemente oneroso e de uma abnegação voluntária.
Todas as duas são honradas, mas não comparáveis: quem ousaria, seriamente, colocar em termos de comparação o plano em que se encontra traçada a magnífica Igreja de São Paulo e o em que foi descrita a obra imortal de Milton - duas obras primas, sem duvida, que entretanto, seria extravagante querer confronta-lãs
Quem impediria a Grande Loja da Inglaterra estabelecer, pouco a pouco, aquele traço de demarcação. Era seu dever.
Tendo-o faltado, ela arremessou para os séculos, uma confusão que a dividiu e que não havia sido esclarecida, na França. Desde o começo, ela deveria ter abjurado a trivial denominação de “freemason” (mentirosa para os seus membros) e adotado (se o orgulho nacional o tivesse consentido) o nome Frances de francmaçon, que não tem de comum com o outro senão a terminação.
Então, a divisão ficaria transparente e cessaria a discussão“. O posicionamento de Ragon, felizmente, foi contrariado pela historiografia moderna. Com efeito:
“A antiguidade do ritual operativo se sustenta na própria evidência interna e em sua coerência, as quais constituem uma das principais provas de autenticidade possíveis, possuindo os critérios corretos de avaliação das mesmas. Este ritual [dos operativos, N.T] possui referências ao culto às estrelas em relação direta com a estrela polar, ao culto ao Sol, expresso na saudação ao Sol Nascente, ao culto ao fogo escondido sobre os lugares elevados, por meio dos candelabros colocados sobre as três colunas da Loja, cada uma das quais representa um dos três montes sagrados: Moriah, Sinai e Tabor. Muitos destes elementos foram conservados primeiramente por meio da tradição oral, a qual, não se deve duvidar, existiu muito antes da história escrita, e este é principalmente o caso quando se tratava de segredos que não era legítimo colocar por escrito. Os mais antigos dos livros sagrados do mundo foram conservados por meio da tradição oral antes de serem escritos”.
“O ritual operativo é mais arcaico em suas formas e mais completo que o ritual especulativo e contém instruções práticas das quais o ritual especulativo só conservou ecos distantes. Quase todos os ensinamentos especulativos podem ser rastreados nas cerimônias operativas, mas muitos dos ensinamentos operativos não possuem nenhum tipo de correspondência com o ritual especulativo. Deste modo, muitas das cerimônias especulativas podem ser explicadas a partir do ritual operativo, ao passo que nenhuma das cerimônias operativas pode explicada pelo ritual especulativo”.
Nos dia de hoje, rendemos tributo ao Sr. Ferro que não só reabilita os operativos como revela o esplendor de escola das escolas de pedreiros livres que antecederam as “landmarks” do Século das Luzes. Que esta contribuição não seja nunca mais olvidada e acresça ainda mais o patrimônio de todos nós, maçons.
Creomar Baptista
terça-feira, dezembro 21, 2010
Meditação - Algumas Anotações para os Amigos
O que é Meditação
“A concentração deve ser num objeto. Isto é muito importante tanto na prática do Dharma como na vida comum. A palavra tibetana para meditação e concentração é zhi NE; NE significa ‘residir’ ou ‘permanecer’, e ‘zhi’ significa em ‘paz’. Num sentido prático, então zhine significa viver pacificamente sem ocupação. Se não observarmos cuidadosamente, nossa mente parece até bastante pacífica, mas se nós realmente observarmos seu interior, ela não é nada pacifica. (...) A mente não é capaz de concentrar-se no mesmo objeto por um segundo”.
O que atrapalha a meditação são os fatores mentais, então:
“Dentre os nossos fatores mentais, as impurezas são mais fortes que as boas qualidades. Normalmente não tentamos controla-los e, mesmom quando tentamos, isto é muito difícil, porque por muito tempo tivemos o hábito de sempre segui-los. Concentração ou calma permanente ocorre quando nossos fatores mentais são purificados e, assim, nossa mente é capaz de demorar-se, pacificamente, num objeto”.
RABTEN, Geshe. A senda graduada para a libertação. Instruções orais de um lama tibetano. Brasília: Ed. Teosófica, 1993.
“Meditação é uma mente que se concentra em um objeto virtuoso e uma ação mental que é a causa principal de paz mental. Sempre que meditamos, estamos realizando uma ação que que nos fará experienciar paz interior no futuro”. (...) Um objeto virtuoso é aquele que nos faz desenvolver uma mente serena quando nos concentramos nele. Se nos concentrarmos em um objeto que nos faça desenvolver uma mente agitada, como raiva ou apego, isso indica que, para nós, o objeto é não-virtuoso. Também existem muitos objetivo neutros que não são virtuosos nem não-virtuosos”.
Gyatso, Geshe Kelsang . Como solucionar nossos problemas humanos - as quatro nobres verdades. São Paulo: Ed. Tharpa, 2009.
“Meditação é um método para familiarizar nossa mente com a virtude. Ao meditar, analisamos um objeto virtuoso ou nos concentramos nele”.
“Há dois tipos de meditação: a analítica e a posicionada. Fazemos meditação analítica quanto, tendo ouvido ou lido, uma instrução de Darma, contemplamos seu significado. Contemplando profundamente esse ensinamento, somos levados a tirar uma conclusão definitiva ou a desenvolver um estado mental virtuoso, os quais podem ser tomados como objeto de meditação posicionada. Se nos concentrarmos unificadamente nesse objeto e permanecermos assim por bastante tempo para nos familiarizar profundamente com ele, estaremos praticando a meditação posicionada. Em geral, a meditação analítica costuma ser chamada de “contemplação” e a posicionada, simplesmente, de “meditação”. A posicionada depende da analítica quem, por sua vez, depende de ouvir, ou de ler, as instruções do Darma”.
Gyatso, Geshe Kelsang . Introdução ao Budismo - uma explicação ao estilo de vida budista. São Paulo: Ed. Tharpa, 2004.
Postura Meditativa
“O lugar no qual praticamos a concentração deve ser limpo, calmo, próximo à Natureza e que nos seja agradável. O corpo deve também estar em boas condições, sem doenças. Colocar o corpo numa posição correta também ajuda. Para a meditação há sete aspectos diferentes sobre posição do corpo.
1. Se não for penosa, é melhor a postura “vajara” (Nota: do diamante) com as pernas cruzadas e os pés descansando nas coxas, voltados para o alto. Entretanto, se sentar nesta posição for doloroso e distrair a concentração, o pé esquerdo pode ficar preso sob a coxa direita e o pé direito pode descansar sobre a coxa esquerda.
2. O tronco deve estar tão reto e ereto quanto possível.
3. Os braços devem estar arqueados, não descansando ao lado do corpo ou empurrados para trás; eles devem estar em repouso, porém firmes. Os polegares devem estar ao nível do umbigo.
4. O pescoço deve estar ligeiramente curvado para frente com o queixo para dentro.
5. A boca e os lábios devem estar focados à frente, acompanhando os lados do nariz.
6. A boca e os lábios devem estar relaxados, nem abertos, nem fechados firmemente.
7. A língua deve pressionar gentilmente o palato.
“Estes são os sete elementos da postura vajra. Cada um simboliza os diferentes estágios da Senda, mas cada um possui também uma razão prática”.
RABTEN, Geshe. A senda graduada para a libertação. Instruções orais de um lama tibetano. Brasília: Ed. Teosófica, 1993.
Métodos para Tornar a Mente Estável
“Os textos de meditação ensinam nove métodos para cultivar a atenção, estabelecer a serenidade mental e tornar a mente mais estável. Lembremos que, nesse caso, a consciência plena consiste em que se permaneça continuamente atento ao objeto de concentração escolhido.
1. Concentrar a mente, ainda que de maneira breve no início, num objeto, conforme as instruções, evitando que ela se deixe levar pelas imagens ou pelos pensamentos discursivos.
2. Situar a mente continuamente sobre esse objeto, durante um período de tempo maior, sem se distrair. Para consegui-lo, temos de nos lembrar claramente dos ensinamentos de como manter a mente concentrada no seu suporte, guarda-los na memória e coloca-los em prática com cuidado.
3. Trazer a mente de volta ao seu objeto cada vez que percebemos que a distração a afastou dele. Para isso, temos de reconhecer que a mente esteve distraída, identificar a emoção ou o pensamento que provocou essa distração e utilizar o antídoto apropriado. Pouco a pouco, tornamo-nos capazes de mantê-la calma e estável durante longos períodos de tempo, tendo uma concentração mais clara.
4. Situar a mente com cuidado, quanto mais firme é a mente, ela é concentrada, mais tendência temos para meditar. Mas se a atenção ainda não for perfeita, conseguiremos não perder mais completamente o suporte da meditação e nos livrarmos das formas mais perturbadoras da agitação mental.
5. Controlar a mente: quando a concentração mergulha no torpor, reavivamos a acuidade, a clareza da presença atenta e renovamos a inspiração e o entusiasmo, considerando os benefícios da concentração perfeita (samadi).
6. Acalmar a mente. Quando a acuidade se torna muito restritiva e a concentração é abalada pela agitação mental sutil que toma a forma de uma pequena conversação discreta por trás da atenção, o fato de se considerarem os perigos da agitação e da distração acalma a mente, tornando-a clara e límpida, a imagem de um som puro emitido por um instrumento de música bem afinado.
7. Pacificar completamente a mente recorrendo à atenção sustentada e entusiasta a fim de abandonar todo apego às experiências meditativas. Estas podem revestir vários aspectos, tais como a felicidade, a clareza ou ausência de pensamentos discursivos, e se manifestar também por movimentos espontâneos de alegria ou de tristeza, de confiança inabalável ou de medo, de exaltação ou de desânimo, de certeza ou de dúvida, de renúncia às coisas deste mundo ou de paixão, de devoção intensa ou de vistas negativas. Todas essas experiências podem surgir sem razão aparente. Elas são o sinal de que mudanças profundas estão acontecendo em nossa mente. Precisamos evitar nos identificar com essas experiências e não lhes dar mais importância do que as paisagens que vemos desfilar pela janela de um trem.
Graças à atenção perfeitamente pacificada, essas experiências esmaecerão por si mesmas sem perturbar a mente, e esta conhecerá, então, uma profunda paz interior.
8. Manter a atenção concentrada em um ponto: depois de eliminar a inércia e a agitação mental, manter a atenção estável e clara em um ponto durante uma sessão de meditação. A mente é como uma lâmpada protegida do vento cuja chama, estável e luminosa, clareia com o máximo de sua capacidade. Basta um mínimo esforço para estabelecer a mente no fluxo da concentração em que ela se mantém, em seguida, sem dificuldade, permanecendo em seu estado natural, livre de restrições e perturbações.
9. Repousar num estado de perfeito equilíbrio: quando a mente está plenamente familiarizada com a concentração em um único ponto, ela permanece num estado de serenidade que acontece espontaneamente e se perpetua sem esforço“.
RICARD, Mathieu. A arte de meditar. Um guia prático para os primeiros passos na meditação. São Paulo: Ed. Globo, 2009.
“A concentração deve ser num objeto. Isto é muito importante tanto na prática do Dharma como na vida comum. A palavra tibetana para meditação e concentração é zhi NE; NE significa ‘residir’ ou ‘permanecer’, e ‘zhi’ significa em ‘paz’. Num sentido prático, então zhine significa viver pacificamente sem ocupação. Se não observarmos cuidadosamente, nossa mente parece até bastante pacífica, mas se nós realmente observarmos seu interior, ela não é nada pacifica. (...) A mente não é capaz de concentrar-se no mesmo objeto por um segundo”.
O que atrapalha a meditação são os fatores mentais, então:
“Dentre os nossos fatores mentais, as impurezas são mais fortes que as boas qualidades. Normalmente não tentamos controla-los e, mesmom quando tentamos, isto é muito difícil, porque por muito tempo tivemos o hábito de sempre segui-los. Concentração ou calma permanente ocorre quando nossos fatores mentais são purificados e, assim, nossa mente é capaz de demorar-se, pacificamente, num objeto”.
RABTEN, Geshe. A senda graduada para a libertação. Instruções orais de um lama tibetano. Brasília: Ed. Teosófica, 1993.
“Meditação é uma mente que se concentra em um objeto virtuoso e uma ação mental que é a causa principal de paz mental. Sempre que meditamos, estamos realizando uma ação que que nos fará experienciar paz interior no futuro”. (...) Um objeto virtuoso é aquele que nos faz desenvolver uma mente serena quando nos concentramos nele. Se nos concentrarmos em um objeto que nos faça desenvolver uma mente agitada, como raiva ou apego, isso indica que, para nós, o objeto é não-virtuoso. Também existem muitos objetivo neutros que não são virtuosos nem não-virtuosos”.
Gyatso, Geshe Kelsang . Como solucionar nossos problemas humanos - as quatro nobres verdades. São Paulo: Ed. Tharpa, 2009.
“Meditação é um método para familiarizar nossa mente com a virtude. Ao meditar, analisamos um objeto virtuoso ou nos concentramos nele”.
“Há dois tipos de meditação: a analítica e a posicionada. Fazemos meditação analítica quanto, tendo ouvido ou lido, uma instrução de Darma, contemplamos seu significado. Contemplando profundamente esse ensinamento, somos levados a tirar uma conclusão definitiva ou a desenvolver um estado mental virtuoso, os quais podem ser tomados como objeto de meditação posicionada. Se nos concentrarmos unificadamente nesse objeto e permanecermos assim por bastante tempo para nos familiarizar profundamente com ele, estaremos praticando a meditação posicionada. Em geral, a meditação analítica costuma ser chamada de “contemplação” e a posicionada, simplesmente, de “meditação”. A posicionada depende da analítica quem, por sua vez, depende de ouvir, ou de ler, as instruções do Darma”.
Gyatso, Geshe Kelsang . Introdução ao Budismo - uma explicação ao estilo de vida budista. São Paulo: Ed. Tharpa, 2004.
Postura Meditativa
“O lugar no qual praticamos a concentração deve ser limpo, calmo, próximo à Natureza e que nos seja agradável. O corpo deve também estar em boas condições, sem doenças. Colocar o corpo numa posição correta também ajuda. Para a meditação há sete aspectos diferentes sobre posição do corpo.
1. Se não for penosa, é melhor a postura “vajara” (Nota: do diamante) com as pernas cruzadas e os pés descansando nas coxas, voltados para o alto. Entretanto, se sentar nesta posição for doloroso e distrair a concentração, o pé esquerdo pode ficar preso sob a coxa direita e o pé direito pode descansar sobre a coxa esquerda.
2. O tronco deve estar tão reto e ereto quanto possível.
3. Os braços devem estar arqueados, não descansando ao lado do corpo ou empurrados para trás; eles devem estar em repouso, porém firmes. Os polegares devem estar ao nível do umbigo.
4. O pescoço deve estar ligeiramente curvado para frente com o queixo para dentro.
5. A boca e os lábios devem estar focados à frente, acompanhando os lados do nariz.
6. A boca e os lábios devem estar relaxados, nem abertos, nem fechados firmemente.
7. A língua deve pressionar gentilmente o palato.
“Estes são os sete elementos da postura vajra. Cada um simboliza os diferentes estágios da Senda, mas cada um possui também uma razão prática”.
RABTEN, Geshe. A senda graduada para a libertação. Instruções orais de um lama tibetano. Brasília: Ed. Teosófica, 1993.
Métodos para Tornar a Mente Estável
“Os textos de meditação ensinam nove métodos para cultivar a atenção, estabelecer a serenidade mental e tornar a mente mais estável. Lembremos que, nesse caso, a consciência plena consiste em que se permaneça continuamente atento ao objeto de concentração escolhido.
1. Concentrar a mente, ainda que de maneira breve no início, num objeto, conforme as instruções, evitando que ela se deixe levar pelas imagens ou pelos pensamentos discursivos.
2. Situar a mente continuamente sobre esse objeto, durante um período de tempo maior, sem se distrair. Para consegui-lo, temos de nos lembrar claramente dos ensinamentos de como manter a mente concentrada no seu suporte, guarda-los na memória e coloca-los em prática com cuidado.
3. Trazer a mente de volta ao seu objeto cada vez que percebemos que a distração a afastou dele. Para isso, temos de reconhecer que a mente esteve distraída, identificar a emoção ou o pensamento que provocou essa distração e utilizar o antídoto apropriado. Pouco a pouco, tornamo-nos capazes de mantê-la calma e estável durante longos períodos de tempo, tendo uma concentração mais clara.
4. Situar a mente com cuidado, quanto mais firme é a mente, ela é concentrada, mais tendência temos para meditar. Mas se a atenção ainda não for perfeita, conseguiremos não perder mais completamente o suporte da meditação e nos livrarmos das formas mais perturbadoras da agitação mental.
5. Controlar a mente: quando a concentração mergulha no torpor, reavivamos a acuidade, a clareza da presença atenta e renovamos a inspiração e o entusiasmo, considerando os benefícios da concentração perfeita (samadi).
6. Acalmar a mente. Quando a acuidade se torna muito restritiva e a concentração é abalada pela agitação mental sutil que toma a forma de uma pequena conversação discreta por trás da atenção, o fato de se considerarem os perigos da agitação e da distração acalma a mente, tornando-a clara e límpida, a imagem de um som puro emitido por um instrumento de música bem afinado.
7. Pacificar completamente a mente recorrendo à atenção sustentada e entusiasta a fim de abandonar todo apego às experiências meditativas. Estas podem revestir vários aspectos, tais como a felicidade, a clareza ou ausência de pensamentos discursivos, e se manifestar também por movimentos espontâneos de alegria ou de tristeza, de confiança inabalável ou de medo, de exaltação ou de desânimo, de certeza ou de dúvida, de renúncia às coisas deste mundo ou de paixão, de devoção intensa ou de vistas negativas. Todas essas experiências podem surgir sem razão aparente. Elas são o sinal de que mudanças profundas estão acontecendo em nossa mente. Precisamos evitar nos identificar com essas experiências e não lhes dar mais importância do que as paisagens que vemos desfilar pela janela de um trem.
Graças à atenção perfeitamente pacificada, essas experiências esmaecerão por si mesmas sem perturbar a mente, e esta conhecerá, então, uma profunda paz interior.
8. Manter a atenção concentrada em um ponto: depois de eliminar a inércia e a agitação mental, manter a atenção estável e clara em um ponto durante uma sessão de meditação. A mente é como uma lâmpada protegida do vento cuja chama, estável e luminosa, clareia com o máximo de sua capacidade. Basta um mínimo esforço para estabelecer a mente no fluxo da concentração em que ela se mantém, em seguida, sem dificuldade, permanecendo em seu estado natural, livre de restrições e perturbações.
9. Repousar num estado de perfeito equilíbrio: quando a mente está plenamente familiarizada com a concentração em um único ponto, ela permanece num estado de serenidade que acontece espontaneamente e se perpetua sem esforço“.
RICARD, Mathieu. A arte de meditar. Um guia prático para os primeiros passos na meditação. São Paulo: Ed. Globo, 2009.
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