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segunda-feira, julho 24, 2006

A Morte

O Dalai Lama e os tibetanos meditam anos a fio para enfrentar o momento derradeiro, a morte. O islamismo sufi ensina a seus seguidores a importância de preparar-se para o instante final, vendo-o como deleitoso. Porém, não há quem não tema a morte e tente contrariar os seus desígnios. O homem deseja prolongar os seus dias sobre a terra, nem que seja através de aparelhos mecânicos, quilos de medicamentos e assistência médica permanente que combinados, atenuam a dor e multiplicam seus dias na terra. Mesmo como uma massa invalida de carne o indivíduo médio anseia por dilatar sua permanência nesta esfera, ainda que às custas de redução significativa na qualidade de existência.

Tudo isso porque os homens, mesmo os religiosos, do católico ao hindu e o teósofo – alimentam dúvidas sobre o que segue após a morte. Nem sequer o ateu confesso ou o materialista vulgar podem asseverar com fortaleza de ânimo convincente que nada, absolutamente ocorre após a morte (“post mortem nihil”).

Ironicamente, o crente cego, em geral, sofre mais com a morte que o ateu ou o agnóstico. O budista lamenta com grito atroz a perda de um parente ou amigo, apesar do Buda lhe ter ensinado o “nobre caminho óctuplo” e o desapego como caminho para livrar-se da “roda de Sansara”, da existência condicionada e do ciclo de reencarnações. O espírita cardecista embora tenha lhe sido explicado pelo “livro dos mortos” que esta existência não é única e que reencarnamos por sucessivas gerações, lamenta-se sempre que algum ente querido parte deste mundo. O que penetra no intelecto não pode descer ao coração, por mais que as seitas e religiões insistam em assegurar o contrário.

A comparação entre a fraqueza do religioso prostrado diante da morte não é mordaz, nem exagerada. Buscamos a religião e a espiritualidade, desde tempos imemoriais, porque tememos a morte. Jamais a compreendemos e, “cientificamente” – se é que se pode dizer assim – ninguém nos disse o que ocorreu depois dela. Só há conjeturas, aparições aqui e acolá de “espíritos” dificilmente verificáveis, descrições das assim chamadas “experiências de quase morte” e assim por diante. Nada, porém, conclusivo, tirante opiniões dos clarividentes e médiuns que muito usualmente remetem-se ao assunto em termos fantasiosos relegados ao terreno do incrível e inacreditável.

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