O arrependimento cresce como erva daninha no campo do desconhecimento de si. Alguém que tenha alcançado uma compreensão, ainda que mínima, do seu SER e seu papel no mundo jamais se arrepende de seus atos, pois tanto estes, quanto suas palavras e ações vêem-se orientados por um determinado propósito. O arrependimento como o concebemos, o "olhar para trás" e envergonhar-se de erros pretéritos simplesmente não está na agenda do homem realmente sábio.
Quando nos "arrependemos" de algo, isto é, comportamo-nos como ingênuos expectadores do passado sem a real capacidade de avaliar a extensão do que fizemos e porque aquilo nos molesta - não apenas deixamos que se escoe da "máquina humana" um imenso manancial de energia vital como também erigimos barreiras internas ao processo de compreensão de nossas limitações e à exploração do EU desconhecido. Arrepender-se sem a noção do obstáculo que este ato representa para nossa própria "jihad" (guerra) interior é cometer um dos piores erros do ponto de vista humano, é sepultar todas as esperanças de progresso ulterior.
Quando nos debruçamos sobre o que a nossa pobre percepção julga serem "equívocos", palavras vãs ou atos inopinados criamos freios à atuação do processo interno de auto-conhecimento. O que fizemos, pensamos ou dissemos pode ter sido bom e funcionado como um "despertador" interno mas não o percebemos e o sentimento de desconforto que se segue à noção inconsciente de uma grande verdade que emerge em uma palavra dura dita a alguém, ou uma atitude de ferocidade inexplicável, este amargo fel do "day after" ( o dia posterior), seria a "chave do segredo" que empurramos para baixo do tapete.
Pode ressoar como chocante a afirmação de um assassino que diz não sentir remorsos (arrependimento) por ter matado alguém, como aconteceu há cerca de um mês atrás quando o matador confesso de seu amante e da mãe deste confirmou sua firme intenção de executar o antigo companheiro e "financiador" de suas farras. Para o bem ou para o mal, não havia naquele homem uma nesga de dúvida sobre a motivação de seus atos, fossem vis ou nobres, ele os praticava cônscio do que fazia e do que lhe aguardava. Não era um autômato, mas alguém que chafurdado na vileza da nossa moral atuava segundo um plano determinado.
Quando o indivíduo desenvolve a sua vontade - que não é um dom liberal, mas sempre um troféu arduamente conquistado - ele abole na sua relação consigo mesmo e com o outro qualquer vestígio de um possível arrependimento, a idéia mesma de voltar atrás. Passos em falso deixam de ocorrer e mesmo o piscar de olhos ele percebe como um evento relevante. Não importa se este homen é um salteador do cáucaso, um traficante de escravos do Magreb ou um "sadhu" (santo) indiano. A guerra de conquista da vontade é impessoal e indiferente à moral corriqueira.
A "posse de si" descarta qualquer tônica moralista. Não há moral ou danação eternas para aquele que atingiu o âmago do seu ser. Este é aquele que acendeu em si a centelha do divino. Nas antigas mitologias havia a certeza de que o encontrar-se a si próprio correspondia ao ideal da realização do sobrenatural e da comunhão com a deidade. Não há heróis mitológicos, um Hércules, um Aquiles, um Agamênon que se furte ao dever frente a uma missão, nem que seja o sacrifício de uma filha.
Entretanto, um pouco de cautela é sempre algo bem vindo. Há dois tipos de "arrependimento", um deles ruim do ponto de vista da formação pessoal, outro bom, se é que a linguagem comum com todas as suas imprecisões seja capaz de expressá-lo. Um "arrependimento" mau é aquele que se dá na esfera da não-consciência, da ignorância de si mesmo. Este tipo de atitude pode levá-lo para o abismo e mergulhá-lo no pior dos males, a depressão. Outro tipo de "arrependimento" - ou melhor dizendo, "avaliação" de si, se dá em uma escala tonal superior, no nível da consciência de si ou a "meio caminho" dela. Este não só é positivo como é topicamente aconselhável. Ao arrependimento desta espécie é que nos referimos aqui.
não é tri(pt)aka e sim tri(pit)aka
ResponderExcluirnão é s(utr)a e sim sim s(utt)a
não é abhi(darma) e sim abhi(dhamma)
Ah, perdão. Preferi uma grafia mais simples. Muito obrigado.
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