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sábado, janeiro 01, 2011

O "Exagerado Senso do Eu" - Uma Personagem de Stanilavsky como Exercício do Trabalho

Uma das técnicas empregadas no budismo mahayana na meditação da vacuidade é a aquela em que o sujeito se apercebe de seu "exagerado senso do eu". Este "Eu", grandioso e pleno se manifesta em situações inusitadas mas é um útil - e talvez, principal - objeto de trabalho para o aspirante à iluminação.

No ramo mahayana o "Eu" não é a mente, nem o corpo. Ele também poderia ser a mente e o corpo, ou, em última hipótese, ter existência independente. Mas nenhuma dessas possibilidades demonstra a existência de um “eu” inerente. Ele é uma imputação mental que deixa de ter qualquer significado se analisado por negação do corpo e da mente e pela prática da vacuidade. Não implica em deixar de lado o “eu”. Ele pode prosseguir a representação de seu papel convencional junto à sociedade, aos familiares, aos amigos. Ele é um “Eu “ imputado que anda, come , fala e bebe por aí.

Em alguns momentos especiais há um agigantamento do “Eu”, ele se manifesta como uma explosão de “vontade”, um dos “Eus totais”, significativos que construímos. Se uma pessoa, por exemplo, toca em um forte traço de nós mesmos que ignoramos não ser tão importante mas diz respeito ao que realmente somos enquanto personalidade mutável este “Eu” associado a um plexo de traços subitamente vem à tona. Ele é agressivo, fala de modo calculado, com pausas lógicas, psicológicos e de “ar”. Entona, modula, dá cor à voz. Curva-se, move os braços, caminha, gira e aponta as mãos de modo peculiar. È como uma personagem detestável - que não gostamos, nem os outros -; em alguns casos o vilão da peça - que entra no palco.

Esta personagem parece obra do próprio Stanislavisky. É expressiva, plástica, representa uma linha contínua de desenvolvimento interior. Mas ela é repelente, não expressa o que pensamos e julgamos ser “nós mesmos”. Prestemos muita atenção nestes raros momentos de choque em que surge o “exagerado senso do Eu”, a personagem má que salta diante dos expectadores. Podemos aprender muito acerca de nós mesmos se a estudarmos conscienciosamente.

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