O que é Meditação
“A concentração deve ser num objeto. Isto é muito importante tanto na prática do Dharma como na vida comum. A palavra tibetana para meditação e concentração é zhi NE; NE significa ‘residir’ ou ‘permanecer’, e ‘zhi’ significa em ‘paz’. Num sentido prático, então zhine significa viver pacificamente sem ocupação. Se não observarmos cuidadosamente, nossa mente parece até bastante pacífica, mas se nós realmente observarmos seu interior, ela não é nada pacifica. (...) A mente não é capaz de concentrar-se no mesmo objeto por um segundo”.
O que atrapalha a meditação são os fatores mentais, então:
“Dentre os nossos fatores mentais, as impurezas são mais fortes que as boas qualidades. Normalmente não tentamos controla-los e, mesmom quando tentamos, isto é muito difícil, porque por muito tempo tivemos o hábito de sempre segui-los. Concentração ou calma permanente ocorre quando nossos fatores mentais são purificados e, assim, nossa mente é capaz de demorar-se, pacificamente, num objeto”.
RABTEN, Geshe. A senda graduada para a libertação. Instruções orais de um lama tibetano. Brasília: Ed. Teosófica, 1993.
“Meditação é uma mente que se concentra em um objeto virtuoso e uma ação mental que é a causa principal de paz mental. Sempre que meditamos, estamos realizando uma ação que que nos fará experienciar paz interior no futuro”. (...) Um objeto virtuoso é aquele que nos faz desenvolver uma mente serena quando nos concentramos nele. Se nos concentrarmos em um objeto que nos faça desenvolver uma mente agitada, como raiva ou apego, isso indica que, para nós, o objeto é não-virtuoso. Também existem muitos objetivo neutros que não são virtuosos nem não-virtuosos”.
Gyatso, Geshe Kelsang . Como solucionar nossos problemas humanos - as quatro nobres verdades. São Paulo: Ed. Tharpa, 2009.
“Meditação é um método para familiarizar nossa mente com a virtude. Ao meditar, analisamos um objeto virtuoso ou nos concentramos nele”.
“Há dois tipos de meditação: a analítica e a posicionada. Fazemos meditação analítica quanto, tendo ouvido ou lido, uma instrução de Darma, contemplamos seu significado. Contemplando profundamente esse ensinamento, somos levados a tirar uma conclusão definitiva ou a desenvolver um estado mental virtuoso, os quais podem ser tomados como objeto de meditação posicionada. Se nos concentrarmos unificadamente nesse objeto e permanecermos assim por bastante tempo para nos familiarizar profundamente com ele, estaremos praticando a meditação posicionada. Em geral, a meditação analítica costuma ser chamada de “contemplação” e a posicionada, simplesmente, de “meditação”. A posicionada depende da analítica quem, por sua vez, depende de ouvir, ou de ler, as instruções do Darma”.
Gyatso, Geshe Kelsang . Introdução ao Budismo - uma explicação ao estilo de vida budista. São Paulo: Ed. Tharpa, 2004.
Postura Meditativa
“O lugar no qual praticamos a concentração deve ser limpo, calmo, próximo à Natureza e que nos seja agradável. O corpo deve também estar em boas condições, sem doenças. Colocar o corpo numa posição correta também ajuda. Para a meditação há sete aspectos diferentes sobre posição do corpo.
1. Se não for penosa, é melhor a postura “vajara” (Nota: do diamante) com as pernas cruzadas e os pés descansando nas coxas, voltados para o alto. Entretanto, se sentar nesta posição for doloroso e distrair a concentração, o pé esquerdo pode ficar preso sob a coxa direita e o pé direito pode descansar sobre a coxa esquerda.
2. O tronco deve estar tão reto e ereto quanto possível.
3. Os braços devem estar arqueados, não descansando ao lado do corpo ou empurrados para trás; eles devem estar em repouso, porém firmes. Os polegares devem estar ao nível do umbigo.
4. O pescoço deve estar ligeiramente curvado para frente com o queixo para dentro.
5. A boca e os lábios devem estar focados à frente, acompanhando os lados do nariz.
6. A boca e os lábios devem estar relaxados, nem abertos, nem fechados firmemente.
7. A língua deve pressionar gentilmente o palato.
“Estes são os sete elementos da postura vajra. Cada um simboliza os diferentes estágios da Senda, mas cada um possui também uma razão prática”.
RABTEN, Geshe. A senda graduada para a libertação. Instruções orais de um lama tibetano. Brasília: Ed. Teosófica, 1993.
Métodos para Tornar a Mente Estável
“Os textos de meditação ensinam nove métodos para cultivar a atenção, estabelecer a serenidade mental e tornar a mente mais estável. Lembremos que, nesse caso, a consciência plena consiste em que se permaneça continuamente atento ao objeto de concentração escolhido.
1. Concentrar a mente, ainda que de maneira breve no início, num objeto, conforme as instruções, evitando que ela se deixe levar pelas imagens ou pelos pensamentos discursivos.
2. Situar a mente continuamente sobre esse objeto, durante um período de tempo maior, sem se distrair. Para consegui-lo, temos de nos lembrar claramente dos ensinamentos de como manter a mente concentrada no seu suporte, guarda-los na memória e coloca-los em prática com cuidado.
3. Trazer a mente de volta ao seu objeto cada vez que percebemos que a distração a afastou dele. Para isso, temos de reconhecer que a mente esteve distraída, identificar a emoção ou o pensamento que provocou essa distração e utilizar o antídoto apropriado. Pouco a pouco, tornamo-nos capazes de mantê-la calma e estável durante longos períodos de tempo, tendo uma concentração mais clara.
4. Situar a mente com cuidado, quanto mais firme é a mente, ela é concentrada, mais tendência temos para meditar. Mas se a atenção ainda não for perfeita, conseguiremos não perder mais completamente o suporte da meditação e nos livrarmos das formas mais perturbadoras da agitação mental.
5. Controlar a mente: quando a concentração mergulha no torpor, reavivamos a acuidade, a clareza da presença atenta e renovamos a inspiração e o entusiasmo, considerando os benefícios da concentração perfeita (samadi).
6. Acalmar a mente. Quando a acuidade se torna muito restritiva e a concentração é abalada pela agitação mental sutil que toma a forma de uma pequena conversação discreta por trás da atenção, o fato de se considerarem os perigos da agitação e da distração acalma a mente, tornando-a clara e límpida, a imagem de um som puro emitido por um instrumento de música bem afinado.
7. Pacificar completamente a mente recorrendo à atenção sustentada e entusiasta a fim de abandonar todo apego às experiências meditativas. Estas podem revestir vários aspectos, tais como a felicidade, a clareza ou ausência de pensamentos discursivos, e se manifestar também por movimentos espontâneos de alegria ou de tristeza, de confiança inabalável ou de medo, de exaltação ou de desânimo, de certeza ou de dúvida, de renúncia às coisas deste mundo ou de paixão, de devoção intensa ou de vistas negativas. Todas essas experiências podem surgir sem razão aparente. Elas são o sinal de que mudanças profundas estão acontecendo em nossa mente. Precisamos evitar nos identificar com essas experiências e não lhes dar mais importância do que as paisagens que vemos desfilar pela janela de um trem.
Graças à atenção perfeitamente pacificada, essas experiências esmaecerão por si mesmas sem perturbar a mente, e esta conhecerá, então, uma profunda paz interior.
8. Manter a atenção concentrada em um ponto: depois de eliminar a inércia e a agitação mental, manter a atenção estável e clara em um ponto durante uma sessão de meditação. A mente é como uma lâmpada protegida do vento cuja chama, estável e luminosa, clareia com o máximo de sua capacidade. Basta um mínimo esforço para estabelecer a mente no fluxo da concentração em que ela se mantém, em seguida, sem dificuldade, permanecendo em seu estado natural, livre de restrições e perturbações.
9. Repousar num estado de perfeito equilíbrio: quando a mente está plenamente familiarizada com a concentração em um único ponto, ela permanece num estado de serenidade que acontece espontaneamente e se perpetua sem esforço“.
RICARD, Mathieu. A arte de meditar. Um guia prático para os primeiros passos na meditação. São Paulo: Ed. Globo, 2009.
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