Sou um produto do século XX. Estudei matemática, física, química e biologia. Não deixo de consultar meu médico regularmente, uso antibióticos, interesso-me por astronomia. Leio bastante sobre técnicas para prolongar a longevidade e até mesmo a que está relacionada uma vida extensa e de boa qualidade. Na semana passada maravilhou-me um estudo científico que relaciona um determinado gene ao câncer. Retirando-o, pode ser inibida a reprodução desordenada de células que os médicos denominam "carcinogênese" mas também se acelera o processo de envelhecimento. Uma relação paradoxal entre os opostos.
O fato de respeitar a ciência não me tornou fanático por ela. Reconheço que muitas perguntas não foram ainda satisfatoriamente e, talvez, nunca o serão. Tomou ares de lugar comum a falta de precisão da medicina. Todos os dias nos deparamos com novas descobertas que contradizem tudo aquilo que havia sido dito há poucos anos ou meses. Não me surpreenderia se um grupo de pesquisadores australianos afirmassem em breve que fumar cigarros faz bem à saúde ou beber vodka aumenta a quantidade de neurônios no cérebro.
Na astronomia os estudos também são extremamente contraditórios e as "conclusões" instáveis. Houve mesmo a inflação do universo? Há defensores ardorosos desta tese, outras a afastam com desdém. O mesmo ocorre com a famosa teoria do "big-bang", que parece favorecer a tese cristã da criação "ex nihilo" (a partir do nada). Esta versão da origem do Universo coincide estranhamente com a visão neoplatônica do Uno e suas emanações ou do desdobrar do "ein soft" da cabala em "sephiróts" (ou hipóstases de Plotino). É bastante atraente para algumas religiões monoteístas mas não se sabe de quem a tenha provado, por enquanto.
As "dobras do universo" - e a pressuposta capacidade de nos remetermos a dimensões paralelas - ou as consequencias lógicas da teoria mais ampla da relatividade, como o espaço-curvo, têm servido mais para alimentar a imaginação dos escritores de roteiros para Hollywood que para ampliar nossa compreensão do funcionamento das coisas. Estas teorias - e outras que pululam no meio científico de hoje - soam extravagantes para os cérebros mais refinados e nos fazem, às vezes, acreditar que a parábola da criação do "Gêneses" é bastante racional (face ao que temos lido...)
Apesar dos astrônomos e físicos elaborarem modelos do universo, as certezas estão confinadas mais a estas construções racionais que à realidade. Mesmo com os poderosos telescópios - como o "Hubble" e aqueles dispostos em observatórios em terra - até hoje sequer conhecemos nosso próprio sistema solar (há coisa de um mês identificamos outro planeta e temos dúvidas se Plutão é mesmo um planeta ou apenas mais um objeto do "Cinturão de Kuipfer", uma vez que sua órbita é muito irregular).
E a matéria escura? Depois de termos negado o recurso teórico do éter (que fascinou tantos pensadores), cunhamos um outro conceito que não sabemos definir muito bem do que se trata, mas é útil para garantir a estabilidade de nossos modelos. Ela faz sentido por que nos dá um "quantum" adicional de matéria (espertamente chamada de "escura" e invisível") que ajuste nossas hipóteses a conclusões que deliberamente queremos tomar. Mais um "artifício de cálculo" que algo palpável.
E se nossos conhecimentos do universo e nossa Via Láctea são tão estreitos, o que dizer do que sabemos de nosso próprio planeta, a Terra. Nós ainda não a conhecemos, isto é inquestionável. Décadas após o lançamento de "Viagem ao Centro da Terra" do fantástico Júlio Verne, ainda ignoramos quase por completo o que existe no centro do planeta. Embora saibamos que a Terra não é oca (ao contrário do que pensam alguns fanáticos que sustentam esta doutrina esotérica), nada podemos asseverar com segurança sobre sua composição interior. Há projetos como lançar um bólido impulsionado por chumbo derretido em seu interior, provisionado com câmeras, porém este experimento é mais inviável que lançar sondas espaciais aos confins do sistema solar.
Em outras áreas do (des) conhecimento nossas limitações são ainda mais evidentes. Principalmente na biologia, na medicina, na economia, na física (sim, na física) e no terreno aparentemente árido e correto da matemática. Prosseguimos como viajantes cegos neste mundo que um dia sonhamos ter desvendado, do alto de nossa ignorância, propriedade indissociável da condição humana.
Como conclui Stephen W. Hawking em "Uma Breve História do Tempo" (1), tudo o que temos são modelos explicativos do comportamento das leis da universo. Os povos primitivos acreditavam que uma torre infinita de tartarugas sustentava a terra, nós referendamos a teoria da supercordas. "As duas descrevem o universo, ainda que a última o faça de maneira muito mais matemática e precisa do que a primeira. A ambas, entretanto, falta a evidência empírica: ninguém jamais viu uma torre gigante de tartarugas com a terra em seu topo; mas tampouco ninguém jamais viu uma supercorda".
NOTAS:
(1) HAWKING, Sthephen. Uma breve história do tempo - do big bang aos buracos negros. São Paulo. Ed. Rocco: 1988. 30a Edição.
Como conclui Stephen W. Hawking em "Uma Breve História do Tempo" (1), tudo o que temos são modelos explicativos do comportamento das leis da universo. Os povos primitivos acreditavam que uma torre infinita de tartarugas sustentava a terra, nós referendamos a teoria da supercordas. "As duas descrevem o universo, ainda que a última o faça de maneira muito mais matemática e precisa do que a primeira. A ambas, entretanto, falta a evidência empírica: ninguém jamais viu uma torre gigante de tartarugas com a terra em seu topo; mas tampouco ninguém jamais viu uma supercorda".
NOTAS:
(1) HAWKING, Sthephen. Uma breve história do tempo - do big bang aos buracos negros. São Paulo. Ed. Rocco: 1988. 30a Edição.
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