“A igreja supõe a comunhão das pessoas entre elas e a comunhão
com aquilo que as transcende.
Quando o ser humano, através da consciência de si mesmo,
para de se apropriar, ou seja, de fragmentar a vida, ele descobre sua unidade
com todos os outros. Não se trata de uma simples similaridade de condições, mas
de uma unidade ontológica de todos os homens, nós somos ‘consubstanciais uns
com os outros’.
O ser humano que tem consciência de si mesmo não se apega à
sua própria vontade, ao seu bem particular, ele tem tendência a fazer apenas um
com a Vida que se dá. Dessa maneira, ele não existe mais apenas para si mesmo,
ele concretiza tanto a unidade com o outro quanto a sua perfeita indiferença.
A consciência de ser ‘Eu Sou’ não é apenas ‘consciência do
Self’, mas consciência da comunhão, consciência de ser ‘Eu sou com’.
Essa consciência de ser em comunhão com o Outro e com os
outros, unidos e diferenciados, é o que chamamos de ‘Igreja’.
A ausência desta consciência de ser em comunhão, unidos a
tudo e a todos, é o que chamamos de ‘mundo’: o mundo totalitário, que em nome
do Um ou do único, abole as diferenças e as liberdades; o mundo individualista
que, em nome da diferença, fecha-se em seus particularismos e nega a união e a
interdependência entre todos.
Infelizmente, esses dois mundos, como sabemos, são ‘invisíveis’.
A Igreja é o mundo que tenta, através da consciência e do amor, ser ‘viável’”.
LELOUP, Jean-Yves. Sabedoria do Monte Athos. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2012.