Estava em Paris no início do ano e entre alegres passeios deparei-me com uma matéria do "Le Figaro" que abordava as manifestações contra o Presidente Ben Ali na Tunisia. Como me encontrava em um das grandes capitais islâmicas da atualidade, Paris, um tiranicídio calculado - assunto tão apropriado aos frequentadores do que lá se chama "boucherie musulmane" era lenha na Lareira dos intelectuais de óculos fundo de garrafa e verniz "filosófico" que circulam impacientemente e sem rumo a devorar seus cigarros "gitanes". Tão absorvido estava em objetivos lúdicos que o "bota-fora" de Ben Ali do outro lado do oceano me despertou tanta curiosidade quanto o show de um ugandense rechonchudo com roupas coloridas cuja cara redonda era estampada em cartazes por todo Montmartre. Porém, qual não foi minha surpresa ao pisar em solo brasileiro e constatar que o noticiário exibia movimentos análogos no Cairo e - desafiando tudo o que eu reputava como estabilidade política - na Líbia e, num piscar de olhos, Iêmen e Siria.
"Que diabos está a ocorrer", pensei então com meus botões. Tudo isto surgiu do nada? O estopim fora a corrupção desenfreada daquele regime cuja derrubada animou os povos de todo o Norte da Àfrica e Oriente Médio? Só D'us poderia fornecer uma resposta mais ou menos crível para eventos daquela magnitude ou um pouco de astrologia, como o fato de Netuno ter entrado no signo de peixes em abril de 2011 (nele estará definitivamente em 2012) ou a lua gigante que se manifestou neste ano.
Eventos de ordem cósmica - dos quais conhecemos apenas umas poucas manifestações planetárias visíveis - são os responsáveis em última instância por todas as modificações ocorridas no terreno político que alguns atribuem tão somente ao revolver circunstancial do tecido social que, em momentos específicos, irrompe como um vulcão adormecido, jorrando a lava de insatisfações acumuladas por anos de opressão brutal a camadas da população.
O levante árabe, seja o que for que signifique (nascimento ou ocaso da liberdade, novas ditaduras laicas ou fundamentalismo religioso, etc) não é um fenômeno isolado na esfera política. Ele é acompanhado em todo o mundo pela mobilização de centenas de jovens contra um capitalismo amoral baseado na finança internacional, esta, por sua vez, apoiada na ganância de um grupelho de vigaristas que se locupletam das farras nas bolsas de valores e dos diferenciais pagos pelos juros de títulos públicos. Com os Estados Unidos e a Europa Ocidental em crise econômica duradoura e a falência de Estados como Portugal, Grécia e, agora, Itália, os grandes deste mundo, presos pelo desaspero, exacerbam ainda mais o colapso de todo o sistema econômico-político-social mobilizando-se no mês de novembro, através do governo de Israel, para um ataque "preventivo" ao Irã.
Aos Senhores do Karma e à grande Confraria de Adeptos responsáveis pela manutenção da Ordem do Mundo através dos ditames de seu Senhor, toda a flagrande monstruosidade humana "compactada" que se apresenta neste ano de 2011 apresenta-se, tão somente, como o prelúdio do tão esperado apocalipse que se projeta sobre nosso pequeno planeta. Ele próprio se contorce nos últimos anos, produzindo tempestades, furações, terremotos de escala inimaginável, maremotos devastadores e uma alteração pronunciada nos padrões climáticos que traz frio às zonas tropicais na estação do verão.
Mas ninguém parece se dar conta disso. Escorrem-me lágrimas dos olhos, enterneço-me com o impressionante grau de mecanicidade que acossa o ser humano, inerte, incapaz de escapar com as próprias mãos ou com ajuda de Seres Superiores do lodaçal em que se meteu. Pobre "ser humano" - se é que assim pode ser chamado - dominado pelas paixões inferiores e os vícios, aprisionado em uma cadeia de irrealidade que o torna um joguete odioso da Hierarquia Negra que espalha a semente da separatividade e do egoísmo nesta Terra. Este, o "homem atual", não só ignora sua miséria mas continua a patrocinar a guerra, o crime, a roubalheira, a discórdia. Surdo às demonstrações dadas pelo Alto, continua a massacrar o próximo, a promover a guerra e a pilhagem, a cultivar o mesquinho amor próprio e satisfazer seus sentidos mais baixos como se nada estivesse acontecendo.
Ó pobre civilização, seus dias estão contados nesta terra. Não poderemos jamais conhecer o que move os grandes Instrutores e Condutores da Humanidade, além da sua devotada e virtuosa motivação. Mas tudo o que sabemos é que da destruição brota o novo, um estado de ser em novo patamar. Nossa humanidade, não obstante, talvez esteja condenada.