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terça-feira, outubro 20, 2009
sexta-feira, outubro 16, 2009
Não Tagarelar
Em meio ao corre-corre do cotidiano e no ambiente de trabalho nada tão comum e atordoante quanto o hábito arraigado e despropositado de certas pessoas e colegas de falar pelos "cotovelos" ou falar como um "pagagaio". Em sua versão mais radical, é claro, pois em geral as pessoas se limitam a falar demais ou falar mais do que é necessário.
A observação e coerção do hábito de falar em demasia é tão importante quanto o enfrentamento da identificação e da consideração. Uma pessoa que não consiga "dobrar a própria" língua é totalmente inepta o trabalho.
"Para a maioria de nós, a principal dificuldade, como ceso se constatou, era o hábito de falar. Ninguém via esse hábito em si mesmo. Ninguém podia combatê-lo, porque estava sempre ligado a alguma característica que o homem considerava positiva nele. Se falava de si mesmo ou dos outros, é porque queria ser 'sincero' ou porque desejava saber o que um outro pensava ou também porque queria ajudar alguém, etc., etc...
Percebi rapidamente que a luta contra o hábito de tagarelar ou, em geral, de falar mais do que é necessário, podia tornar-se o centro de gravidade do trabalho sobre si, porque esse hábito tocava tudo, penetrava turo e era, para muitos de nós, menos notado. Era verdadeiramente curioso observar como, em qualquer coisa que o homem empreenda, este hábito (digo 'hábito' por falta de outra palavra; seria mais correto dizer este 'pecadao' ou esta 'calamidade') apossavam-se imediatamente de tudo".
Há entretanto que tomar guardar contra o 'silêncio completo'.
"- O silêncio completo é mais fácil, disse, quando tentei comunicar-lhe minhas idéias as respeito. O silêncio completo é simplesmente um caminho fora da vida, bom para para um humem no deserto ou num mosteiro. Aqui falamos do trabalho dentro da vida. E pode-se guardar o silêncio de maneira tal que ninguém perceba. O problema todo é que dizemos coisas em demais. Se nos limitássemos apenas às palavras realmente indispensáveis, só isto poderia ser chamado 'guardar silêncio'. E é assim com tudo: com a comida, os prazeres, o sono; para cada coisa, o que é necessário tem um um limite. Além dele, começa o 'pecado'. Tente captar bem isto: o 'pecado' é tudo aquilo que não é necessário'".
O Exercício do "Stop"
No sistema de Gurdjieff o conhecimento de si mesmo e o estudo de si parte da observação do próprio corpo, seus movimentos, gestos e posturas. As funções motoras são indissociáveis das demais funções que caracterizam a 'máquina humana' e qualquer um que queira satisfatoriamente prosseguir no quarto caminho deve esforçar-se para dominá-las.
" - Cada raça, disse, cada época, cada nação, cada país, cada classe, cada profissão, possui um número definido de posturas e de movimentos que lhe são próprios. Os movimentos e as posturas, ou atitudes, sendo o que há de mais permanente e imutável no homem, controlam tanto sua forma de pensamento domo sua forma de pensamento como sua forma de sentimento. Mas o homem nem mesmo faz uso de todas as posturas e de todos os movimentos que lhe são possíveis. Cada um adota certo número delas, conforme a sua individualidade. Assim, o repertório de posturas e movimentos de cada indivíduo é muito limitado".
"(...) O homem é incapaz de mudar a forma de seus pensamentos e de seus sentimentos enquanto não tiver mudado seu repertório de posturas e movimentos do pensamento e do sentimento, e cada um tem um número determinado delas. Todas as posturas motoras, intelectuais e emocionais estão ligadas entre si".
"É uma ilusão crer que nossos movimentos sejam voluntários. Todos os nossos movimentos são automáticos. E nossos pensamentos, nossos sentimentos também o são. O automatismo de nossos pensamentos e de nossos sentimentos corresponde de maneira precisa ao automatismo de nossos movimentos. Um não pode ser mudado sem o outro. De maneira que, se a atenção do homem se concentrar, digamos, na transformação de seus pensamentos automáticos, os movimentos e atitudes habituais intervirão imediatamente no novo curso de pensamento, impondo-lhes as velhas associações habituais".
"Nas circunstâncias usuais, não podemos imaginar o quanto nossas funções intelectuais, emocionais e motoras dependem umas das outras; e, no entanto, não ignoramos quanto nossos humores e nossos estados emocionais podem depender dos movimentos e das posturas. Se um homem assume uma postura que nele corresponde a um sentimento de tristeza ou de desencorajamento, pode estar certo, então, de que rapidamente se sentirá triste ou desencorajado. Uma mudança deliberada de postura pode provocar nele o medo, a aversão, o nervosismo ou, ao contrário, a calma. Mas como todas as funções humanas - intelectuais, emocionais e motoras - têm seu próprio repertório bem definido e reagem constantemente umas sobre as outras, o homem nunca pode sair do círculo mágico de suas posturas".
"Mesmo que um homem reconheça essas ligações e empreenda lutar para livrar-se delas, sua vontade não é suficiente. Devem compreender que esse homem tem apenas vontade bastante para governar um só centro por um breve instante. Mas os outros dois centros opõem-se a isso. E a vontade do homem nunca é suficiente para governar três centros ao mesmo tempo".
O que é o STOP?
G.I.Gurdjieff transmitiu ao ocidente uma antiga técnica psico-fisiológica aprimorada no Ocidente que se tornou conhecida como "método do 'Stop'".
O stop consiste:
"Para opor-se a esse automatismo e adquirir um controle das posturas e movimentos dos diferentes centros, existe um exercício especial. Consiste no seguinte: a uma palavra ou a um sinal do mestre, previamente combinado, todos os alunos que o ouvem e o que vêem devem no mesmo instante suspender seus gestos, quaisquer que sejam - imobilizar-se no lugar na mesma posição em que o sinal o surprendeu. Mais aindas, devem não só cessar de se mover, mas conservar os olhos ficos no mesmo ponto que olhavam no momento do sinal, conservar a boca aberta se estiverem falando, conservar a expressão da fisionomia e, se estivessem sorrindo, manter esse sorriso. Nesse estado de 'stop', cada um deve também suspender o fluxo dos pensamentos e concentrar toda a atenção, mantendo a tensão dos músculos, nas diferentes partes do corpo, no mesmo nível em que se encontrava e controlá-la o tempo todo, levando, por assim dizer, a atenção de uma parte do corpo a outra. E deve permanecer nesse estado e nessa posição até que outro sinal convencionado lhe permita retomar uma atitude normal, ou até que caia de cansaço a ponto de ser incapaz de conservar por mais tempo a primeira atitude. Mas não tem nenhum direito de mudar seja o que for, nem o olhar, nem os pontos de apoio; nada. Se não pode aguentar, que caia - mesmo assim, é preciso que caia como um saco, sem tentar proteger-se de um choque. Do mesmo modo, se tivesse algum objetivo nas mãos, deve conservá-lo durante tanto tempo quanto possível; e se as mãos se recusarem a obedecer e o objeto lhe escapa, isto não é considerado falta grave".
"Cabe ao mestre vigiar para que nenhuma acidente aconteça, devido às quedas ou às posições desascostumados, e esse respeito, os alunos devem ter plena confiança em seu mestre e não temer nenhum perigo".
"(...) Um estudo de si mecânico só é possível com a ajuda do 'stop', sob a direção de um homem que o compreenda".
Fonte: OUSPENSKY, P.D. Fragmentos de um ensinamento desconhecido - em busca do milagroso. São Paulo, Ed. Pensamento.