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quarta-feira, janeiro 31, 2007

A Revolução dos Bichos

Ultimamente voltei a me interessar por George Orwell e sua "Revolução dos Bichos". Nada mais apropriado nestes tempos de bandeiras vermelhas circulando na América Latina (na Europa elas são usadas ou para decorar nostalgicamente geladeiras e freezers ou em grotescos e anódinos movimentos neo-nazistas do Leste-Europeu e da parte podre da Alemanha) e em nosso Brasil (tratado em separado, pois, felizmente, mesmo com Lula, nada continuamos a ter com "los hermanos"). Nunca se muda nada através da eleição de novos governos ou eleições. Sempre são safos em colocar os espertalhões e calhordas, mestres na palavra dócil e em melífluos discursos de ocasião. Em uma hora destas, um bom padrinho do Partido da Frente Liberal (PFL), de ultra-direita, é mais importante que nenhum protetor. Ser mulher, filho ou sobrinho de um Conselheiro do Tribunal de Contas, Desembargador, Deputado Estadual ou Federal ou qualquer politicozinho reles do mais capenga partido da Direita tem mais peso que uma elevada qualificação técnica. Afinal de contas, quantos votos este técnico vai obter? No fundo, é a antiga máxima de Iossip Vissarianovitch Stálin que é a sacralizada: "Afinal, quantas divisões tem esse Papa?".
Há muitos anos atrás, nos meus tempos de solitário leitor de Marx, Lênin, Gramci e dos grandes teóricos marxistas olvidados, li um pequeno artigo de Wladmir Ilitch que tangenciava a questão do aproveitamento dos técnicos do "ancién régime". Nenhum regime proletário, construindo a "ditadura do proletariado", pode prescindir da colaboração dos velhos membros do sistema superado, pois são eles que conseguem manter a "máquina funcionando". Não faltam pessoas a dizer, para empregar terminologia moderna, que eles são a "memória institucional" do setor público. Por esse motivo os bolcheviques conservaram oficiais tzaristas no Exército Vermelho e os alemães ignoraram a permanência de elementos das SS em suas forças armadas do pós-guerra (alguns deles até fizeram um "extra" com consultorias para Pinochet ou outro ditador de terceira categoria).
A lição da História aponta em sentido contrário, para desespero dos que temem a mudança. Esta "herança" do sistema anterior é o vírus que contamina tudo o que vier a ser pensado para o futuro, incutindo pessimismo nas pessoas e agindo sorrateira e dissimuladamente para fazer crer à nova liderança que seus pontos de vista devem ser "flexibilizados" e que é preciso ser mais "operacional" e não "teórico". É assim que se dissemina como as pragas do Egito a resistência ao novo e ao revolucionário.